Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Beto Ramos

Diz a lenda – Sonho do menino


Por: Beto Ramos

 

- Acorda menino, vai lavar este rosto, teu olho tá cheio de remela!

- Desata este mosquiteiro e guarda esta lamparina!

- Mas, mãe...

- Cuida, levanta e vai comprar quatro pães massa grossa.

Gente de OpiniãoE aquele cheiro da casa da gente impregnando a saudade.

O menino levanta, olha aquela rua cheia de barro, com casas sem pintura.

Caminha lentamente.

Abre a porta, desce o batente.

Cachorros latem atrás de uma carroça.

Atracado na beira do rio Madeira, o Augusto Montenegro.

Vai o menino com os pés no chão.

No pensamento, a vontade de dar uma azulada lá pra beira do Igarapé Grande.

Com os cabelos sem pentear, o menino vai coçando a cabeça, talvez tenha recebido a visita dos bois do Carrasquinho.

Sentados em bancos na beira da calçada, dois homens comentam que o Gervásio jogou bem demais pelo Madureira.

- Este Gervásio vai longe!

Assim, o menino segue seu caminho para comprar os pães massa grossa.

A Maria Bico de Brasa passa toda faceira.

Logo em seguida também passa, a senhora que abria o guarda chuva no Lacerda na hora do filme Spartacus, achando que os trovões e raios eram do vera.

Ele consegue soletrar Magistral em algo caído no chão, na beira da rua.

Passam dois garotos e gritam que no fim de semana irão furar no circo.

Distante, ele ouve o trem passar.

Café com pão, café com pão, café com pão massa grossa.

E sorrindo ele responde: - Se eu me apressar peia não, peia não!

Ele não sabia que logo o trem calaria o seu apito para sempre.

Mal ele sabia, que na ladeira Comendador Centeno, o prédio da antiga Prefeitura ficaria abandonado, sendo jogados a devaneios fantasiosos de promessas não cumpridas.

Vem o menino.

Caminhando ao encontro do futuro.

Ao fechar os olhos, ele acordou de sua realidade, e não viu o pão em suas mãos.

Noé, Raposo, Parra, Garcia.

Tudo era apenas um sonho.

O passado há muito tempo havia ficado para trás.

Mas, o menino sentia o cheiro do café, do pão quentinho.

O menino transformou-se em sonho.

Basinho, cadê você?

Onde posso encontrar um Marau?

Meu velho poeta, vamos caminhar por nossas ruas, vamos rever os velhos álbuns, mexer nos guardados da nossa história e gritar que ainda somos meninos.

Vem o menino dentro de todos nós.

Com olhos cheios de remela.

Pés no chão.

Ainda com cheiro da fumaça da lamparina.

O menino da esperança nos trás este brilho nos olhos.

O menino escreve deste jeito, pois apenas é um menino.

Pedro Struthos,

Amém, amém!

Vamos reclamar para quem?

 

Diz a lenda

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

DIZ A LENDA – DUZENTOS E CINQUENTA EM QUATRO I

  Os pesadelos não podem ofuscar nossos sonhos. Diante da inconsequência de quem resume a vida dos outros na sua prisão de lamentos, o que nos resta a

DIZ A LENDA.O POETA, A POESIA E O MEDO.

DIZ A LENDA.O POETA, A POESIA E O MEDO.

  Por: Beto Ramos Quando das viagens pelas barrancas do Madeira com o Poeta Mado, presenciamos e convivemos com muitos causos de vivos e visagens. Car

DIZ A LENDA – VELHA SENHORA

DIZ A LENDA – VELHA SENHORA

Por: Beto Ramos   Acordamos cedo. Lavamos o rosto no giral ainda iluminado pela luz da lamparina. Precisávamos passar na fábrica de telha próxima a Ca

DIZ A LENDA – ELOGIO CALOROSO

DIZ A LENDA – ELOGIO CALOROSO

Por: Beto Ramos   Eraste, hoje fomos elogiados calorosamente por um asinino. Interpelado e elegantemente chamado de beradeiro recalcado. Pupunhamente

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)