Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Carlos Sperança

Governo investe para superar a crise


Gente de OpiniãoAinda pagando uma dívida de R$ 350 milhões deixada por administrações anteriores e já vivendo o temido período pós-usina – com a desativação de boa parte dos canteiros de obras das hidrelétricas do Madeira – o governo de Rondônia administrou, no ano passado, um déficit de 343 milhões, que deve ser maior em 2013.  Para se contrapor à situação crítica da economia, lançou dois pacotes de obras no valor de R$ 1 bilhão. Além disso, vai tocar em 2013 e 2014 a construção de sistemas de saneamento e distribuição de água no interior e na Capital, também no valor de R$ 1 bilhão.

Os investimentos serão feitos na educação, saúde e segurança da população e vão aquecer o mercado com a geração de emprego e renda e, consequentemente, aumentar a arrecadação de ICMS. “Com isso vamos reverter a crise que se anuncia”, confia o secretário estadual de Finanças (Sefin), Benedito Antônio Alves. Ele garante que o governo terá recursos para o pagamento dos financiamentos das obras que terão início nos próximos meses.

Governo investe para superar a crise - Gente de OpiniãoDiário da Amazônia – Como o senhor analisa o impacto da desativação das hidrelétricas do Madeira para a economia de Rondônia?
Benedito – O início das obras das hidrelétricas favoreceu Rondônia no momento em que a crise econômica mundial afetava a economia de vários países, inclusive do Brasil. Em 2011, no ápice das obras do Madeira, Rondônia registrou o maior crescimento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do Brasil, ficando acima de 23%. Mas, em 2012 começou a desaceleração das obras e o Estado passou a perder o ICMS direto – que incide sobre o material de construção utilizado nas usinas – e o indireto – representado pela comercialização de produtos e prestação de serviços para os trabalhadores das usinas no mercado local.

Gente de OpiniãoDiário – De quanto foi esta queda de ICMS?
Benedito – Em 2011, o valor do ICMS arrecadado sobre o material de construção superou R$ 100 milhões, só das obras das usinas. Já em 2012, foi de R$ 40 milhões. A expectativa é que em 2013 seja de R$ 10 milhões. Uma queda absurda. Em 2014, mais uns R$ 5 milhões. Também foi significativa a redução do consumo indireto com as demissões de trabalhadores das obras. Em 2011, este consumo indireto gerou mais de R$ 100 milhões de ICMS. No ano passado, nós arrecadamos cerca de R$ 60 milhões. Em 2013, deverá ficar em torno de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões. Até praticamente zerar em 2016, quando as obras serão encerradas e permanecerão em Rondônia só os engenheiros e outros técnicos que tocam o empreendimento.

Gente de OpiniãoDiário – Então o que tinha de bom, o bônus, resultante das obras já acabou? Nós já estamos no pós-usina?
Benedito – Nós já estamos no pós-usina. Agora o Estado deve ser o indutor do crescimento econômico e por isso vai investir recursos na ordem de R$ 1 bilhão – somando o Pidise (Programa Integrado de Desenvolvimento e Inclusão Socioeconômica do Estado de Rondônia) e o Planoinvest. Os dois programas foram aprovados pela Assembleia e vão aquecer a economia local. As obras geram emprego e renda e o investimento retorna para o Estado em forma de ICMS. Outra coisa importante é que o Estado terá mais de R$ 1 bilhão das obras de saneamento e água do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na Capital e no interior.

Gente de OpiniãoDiário – O funcionamento das hidrelétricas em Rondônia vai reduzir a arrecadação de ICMS que era gerado por duas termoelétricas. Os royalties das usinas vão compensar este prejuízo?
Benedito – Com o fechamento da Termo I, no ano passado, a perda calculada para Rondônia é de R$ 80,5 milhões por ano. E com o fechamento da Termo II, neste ano, o prejuízo será de até R$ 168 milhões/ano, referentes à arrecadação de ICMS de óleo diesel. Os grandes arrecadadores do ICMS do Estado são: energia elétrica, comunicação (telefonia) e combustível, que somam mais de 80% do total. E quando um destes fatores tem uma queda afeta muito a economia. Já os royalties devidos pelas hidrelétricas são insignificantes. No ano passado, somaram R$ 4,6 milhões. Este ano, a previsão é de um pouco mais de R$ 20 milhões.

Gente de OpiniãoDiário – E quando todas as turbinas estiverem funcionando?
Benedito – O Estado vai receber R$ 80 milhões em royalties por ano, o que é pouco em vista do que Rondônia está perdendo. Por isso a importância da PEC 124, apresentada pelo senador Acir Gurgacz (PDT/RO) em 2011, que muda as regras de arrecadação do ICMS. Este tributo deve ser repartido com os estados produtores de energia elétrica. Atualmente, o ICMS é cobrado no estado consumidor. No caso de Rondônia, praticamente toda a produção gerada nas hidrelétricas do Madeira vai gerar ICMS em São Paulo, onde fica o ponto final da linha de transmissão. Esta PEC deve ser vista com muito carinho.

Gente de OpiniãoDiário – Com o anúncio de construção de mais duas hidrelétricas na região fronteiriça com a Bolívia e uma terceira em Machadinho, o senhor não acha que está na hora de rever as regras de licenciamento para garantir mais recursos para Rondônia?
Benedito – Não se começa mais uma usina em Rondônia sem o governo sentar e jogar pesado. Não houve uma boa negociação lá atrás e isto está prejudicando. Havia uma legislação, mas ninguém correu atrás disso naquele momento. E, se não bastasse isso, o Governo Federal passou a dar isenção do IPI dos eletrodomésticos de linha branca, automóveis e mais 50 itens de material de construção. Aí houve uma queda muito grande na base de cálculo para repartir o bolo com os estados e municípios e Rondônia perdeu mais de R$ 258 milhões do Fundo de Participação dos Estados (FPE) no ano passado.

Gente de OpiniãoDiário – Então tivemos um período de perdas e pagamento de dívidas. Como o senhor analisa a situação da economia do Estado neste momento?
Benedito – Com a soma destas perdas, nós deixamos de arrecadar R$ 343 milhões do que estava previsto no orçamento em 2012. Neste ano, vamos perder R$ 257 milhões de FPE e R$ 168 milhões das termas. Com este desconto na energia elétrica que a presidente Dilma vai dar, o Estado vai perder R$ 36 milhões de ICMS. Com isso, nós estamos trabalhando com a possibilidade de um déficit de R$ 461 milhões no orçamento de 2013.

Gente de OpiniãoDiário – Quais as frentes que o governo está trabalhando para amenizar este déficit?
Benedito – Nós estamos brigando por novas regras do FPE. Outra medida é a reestruturação da dívida fundada do Estado, que supera os R$ 2 bilhões e requer um desembolso mensal de mais de R$ 22 milhões por mês. Estamos tentando a reestruturação de R$ 1,7 bilhão desta dívida, para reduzir o custo (juros, correção etc), de mais de 15%, para 5%, mais uma carência de dois anos.
Apesar dos problemas, a nossa arrecadação cresceu 5,4% neste ano, a Sefin majorou as alíquotas de cigarro, bebidas, joias, carros de luxo para minimizar o déficit. Adotamos o controle eletrônico da fiscalização e o Nota Legal. Além disso, em 2013 Rondônia será um canteiro de obras e isso é bom. Teremos mais gente empregada e gastando. É o rodízio, o ciclo econômico. É assim que cresce o PIB.

Gente de OpiniãoDiário – Estes investimentos não vão gerar uma dívida futura, difícil de pagar?
Benedito – Não, porque está dentro da nossa capacidade de arrecadação. A Secretaria Nacional da Fazenda não permite estes empréstimos se o Estado não tiver capacidade de pagar. A Lei de Responsabilidade Fiscal exige que se faça esta análise. É um dinheiro muito barato, com juro de 1%. Quem pega dinheiro barato e aplica direitinho melhora de vida e o estado de Rondônia está fazendo isso.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Os clãs políticos rondonienses já formados e outros em criação já se preparam para as eleições de 2026

Os clãs políticos rondonienses já formados e outros em criação já se preparam para as eleições de 2026

Sem perdãoHá pessoas que se dizem cristãs, mas abrem caminho ao inferno ao ofender os semelhantes, esquecendo que uma das principais lições do crist

Dá pena de ver a situação a Av, 7 de setembro no centro antigo de Porto Velho

Dá pena de ver a situação a Av, 7 de setembro no centro antigo de Porto Velho

O jogo da Amazônia Em todo o mundo se tornou obrigatória a pergunta “e agora, com a eleição de Trump nos EUA?” Mao Tsé-tung disse que se os chinese

É bem provável que ocorra uma regionalização de candidaturas ao Palácio Rio Madeira

É bem provável que ocorra uma regionalização de candidaturas ao Palácio Rio Madeira

DesbranqueandoA jornalista brasileira Eliane Brum, descendente de italianos e filha de pai argentino nascida em Ijuí, Noroeste gaúcho, certo dia dec

A classe política está querendo antecipar o processo eleitoral de 2026

A classe política está querendo antecipar o processo eleitoral de 2026

Tartarugas humanasO desmatamento e a piora do clima causam prejuízos generalizados aos povos amazônicos. Os que mais assustam são as perdas na agri

Gente de Opinião Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)