Fim da fábrica na selva

As duas plataformas metálicas flutuantes saíram do estaleiro da Iskikawajima em Kure, um dos maiores do Japão. Uma era uma fábrica de celulose de grande porte. A outra uma usina de energia, capaz de gerar 50 megawatts. Juntas, pesavam 58 mil toneladas e tinham a altura de um prédio de 13 andares. Iriam navegar por quase 30 mil quilômetros, por mares e oceanos, puxadas por rebocadores.

O destino era a Amazônia, mas seu dono era o milionário americano Daniel Keith Ludwig. Em 1967, já aos 70 anos, ele decidira repetir a experiência de outro milionário célebre dos Estados Unidos, Henry Ford. Só que, ao invés de plantar seringueiras para produzir borracha,

Ludwig plantaria uma árvore asiática, a gmelina, Até então essa espécie nunca tinha sido usada para celulose, que era o objetivo de Ludwig. Ele ia surpreender os concorrentes em todo mundo porque a gmelina gerava mais celulose em prazo mais curto do que as fontes tradicionais da fibra, o pinho e o eucalipto.

Por causa da idade e pela certeza de conquistar mercado, Ludwig tinha pressa. Não queria perder tempo montando a indústria no próprio local, à margem do rio Jari, no Pará, a 300 quilômetros da foz do Amazonas. Ia trazer as duas estruturas prontas do Japão, colocadas sobre plataformas de tal modo que podiam flutuar durante a longa e difícil viagem. Mais uma façanha de espantar o mundo, a que D. K. L. já se acostumara.

Ao chegar ao local de sua fixação, as duas plataformas entrariam num dique inundado. Fechado o acesso, a água seria retirada e os autênticos navios de fundo chato pousariam sobre 3.700 estacas de maçaranduba, árvore amazônica mais resistente do que concreto. Os acréscimos introduzidos nas duas estruturas para fazê-la flutuar seriam desmontados e elas estariam prontas para funcionar, ao custo de 270 milhões de dólares (valor da época).

Em 15 de fevereiro de 1979 a fábrica começou a funcionar, produzindo 750 toneladas de celulose por dia, atraindo clientes para o seu produto, de alta qualidade. Enfrentou diversos problemas graves, desde a falta de matéria prima (as florestas plantadas ainda não garantiam sua demanda por madeira) até acidentes industriais. Parou algumas vezes, mas sempre retomou suas atividades. (por Lucio Flávio Pinto)

 
 

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