Quinta-feira, 13 de novembro de 2014 - 12h14
GABRIEL NOVIS NEVES
De Cuiabá
Ou nos conscientizamos que o ser humano está passando por um momento anormal no seu nível de estresse, ou nos tornaremos em um bando de fármacos dependentes.
Felizmente, de quando em vez, surge uma voz conceituada no meio médico psiquiátrico.
Atualmente é o doutor Allen Frances, ex-diretor da revisão de guia de referência mundial para doenças psiquiátricas.
Numa luta de David contra Golias, o colega americano questionou a força da indústria farmacêutica por trás da criação de tantos novos distúrbios mentais.
Sabemos que a história da humanidade é carregada de sofrimentos e injustiças e que, como tal, nem sempre os vagantes do planeta Terra conseguem se adaptar às condições tão adversas.
Isso vem explicando o grande aumento de neuroses e psicoses através dos tempos.
Entretanto, é importante ressaltar que simples problemas diários estão sendo transformados em transtornos mentais, e imediatamente tratados com comprimidos.
Assim acontece com as tristezas profundas de causa conhecida, que, aliás, devem ser vivenciadas, no entanto, logo são tratadas como crises depressivas.
Os esquecimentos comuns da idade, as birras do temperamento infantil, o exagero na ingestão de alimentos, entre outras situações, também são mal vistas.
Surgiram assim, o “Transtorno Depressivo Maior”, o “Transtorno Neurocognitivo Leve” (no caso dos idosos), o “Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor” (no caso dos destemperos infantis), o “Transtorno de Compulsão Regularmente Periódica” (fases de exagero na comida) e o tão falado TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Inclusive, o pai do TDAH, o psiquiatra Leon Eisenberg, se pergunta o porquê do aumento do número de casos da síndrome – que ele atribui a erro de avaliação.
Segundo ele, foram detectados cerca de 3% de casos entre as crianças americanas. Atualmente, já são cogitados números em torno de 11% e, até de maneira absurda, 20% nos adolescentes masculinos.
Estejamos, portanto, todos bem alertas, cônscios de que os altíssimos lucros da indústria farmacêutica poderão levar a humanidade para um universo fármaco dependente, o que, de certa forma, já vem acontecendo.
Remédios são “drogas” e, como tal, só devem ser usados mediante extrema necessidade e prescritos por profissional competente e responsável.
É preciso que não nos esqueçamos de que o mundo evoluiu, ou involuiu - não sei - para a criação de uma sociedade mais permissiva, em que crianças e jovens não mais se subtem a qualquer tipo de hierarquia; parta ela dos lares ou das escolas.
Jovens lançados ao mundo à queima roupa, sem quaisquer tipos de freios ou valores, recebem uma hostilidade abrupta, nada gratificante, para a qual não foram progressivamente preparados.
É preciso que encontremos novas formas educacionais que, sem a truculência de outrora, mas também sem a permissividade atual, tragam aos jovens o equilíbrio necessário para uma convivência harmoniosa com os seus circunstantes.
Isso é tarefa da sociedade, e não, da indústria farmacêutica, que segue voraz no que tange, especificamente, às ditas doenças mentais.
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