Quinta-feira, 24 de janeiro de 2013 - 19h11
GABRIEL NOVIS NEVES
De Cuiabá
Medidas governamentais importantes são sempre liberadas nos últimos dias de dezembro, quando grande parte da população está envolvida no clima das festas de final de ano e com as férias prolongadas. No ano que findou a surpresa, para grande parte dos brasileiros, foi saber que 54,5% dos recém-formados médicos não estão aptos ao exercício da profissão.
A reação foi de indignação para este fato, pois há muito tempo os educadores vêm reclamando às nossas autoridades competentes. A sociedade que não tem acesso a essas informações, que angustiam os especialistas em educação médica, rejubila-se quando o governo federal anuncia a criação de novas escolas de medicina.
Aqui em nosso Estado foi anunciada a criação de mais três escolas de medicina, que são vistas pela população como uma dádiva do governo. Mas, é uma doce ilusão. Pensam os desavisados que esta medida trará maiores benefícios para a Saúde Pública.
No período de 2000 a 2012, foram abertas 98 novas faculdades, totalizando 198 escolas médicas no Brasil. A presidente anunciou sua vontade de abrir mais 4.500 vagas para alunos de medicina. Isso significa a criação de algo em torno de 55 novas escolas.
Toda essa avalanche de expansão de cursos de medicina acontece quando as nossas universidades federais estão em estado de penúria. Muito mais importante neste momento seria aumentar as vagas para a residência médica.
Aproximadamente seis mil médicos recém-graduados não têm condições de frequentar a residência médica, considerada a etapa mais importante para a formação de profissionais qualificados. Outra distorção que merece uma reflexão é com relação à localização dessas novas escolas.
Seria racional se essas escolas fossem instaladas em áreas mais remotas e carentes desse país tão cheio de desigualdades. Entretanto, 70% delas foram instaladas na região sudeste, rica e com significativo número de escolas e, o pior é que, 74% delas são privadas, com mensalidades exorbitantes.
A maioria desses centros de formação de médicos não dispõe de instalações hospitalares adaptadas para o ensino e carecem de corpo docente qualificado, como bem frisou Miguel Srougi, com pós-graduação em urologia pela Universidade de Harvard (EUA) e professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Todo esse cenário desolador do nosso ensino médico é patrocinado pelo governo federal, focado em interesses políticos menores e pelo anseio do lucro desmedido, conclui Miguel Srougi. O professor Adib Jatene presidiu uma comissão especial do MEC e descredenciou, há um ano, algumas escolas médicas pela baixa qualidade de ensino.
Pois bem, de maneira misteriosa e inexplicável, a Comissão Nacional de Educação cancelou a ação punitiva. O Brasil não precisa de mais escolas médicas para melhorar a precária situação da nossa saúde pública, e sim, de uma política de governo para a fixação do médico no interior, além de oferecer condições de trabalho aos nossos jovens médicos.
Temos hoje 198 escolas médicas e, segundo a presidente, até 2014 esse número chegará a 253, para uma população de quase 200 milhões de habitantes. Em compensação, os Estados Unidos da América do Norte, habitado por 314 milhões de pessoas, têm 137 faculdades de medicina.
“A grande maioria dos novos médicos são vítimas de uma sociedade permissiva, escolas médicas deficientes e governantes incapazes”. Estamos transformando esperanças em frustrações.
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