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Jéssica Frocel

ENTRE A ORDEM E O ABUSO. Forças Armadas VS Estudiosos


Jéssica Frocel

Estudante secundarista em escola pública, em Porto Velho/RO

            Majoritariamente, dentre os estudiosos do campo das Ciências Sociais e de História, é comum que se observe certo sentimento de hostilidade para com as instituições militares, independentemente de sua importante função: manter a ordem, não por meio da força, mas fazê-lo se e quando necessário, ou melhor, a proteção dos indivíduos e do Estado.

Trata-se do fantasma da Ditadura Militar que circula em seu campo de atuação, muitas vezes sendo vista como algo além de objeto de estudo, por vezes como mecanismo propulsor do ódio e da repulsa.

            Fato: a Ditadura Militar de 64 foi um período de grande opressão e privação de liberdade, como em qualquer outro regime semelhante. No entanto, é importante compreender e separar (bem como no regime democrático), o que é de interesse da maioria (onde todos seguem e agem por vontade própria), e quando nos submetem à minoria: onde o mais forte domina pela força, ou outras formas de poder, como a ameaça.

            É necessário que se “abram aspas”, pois, 64 é um exemplo clássico de dominação da minoria externa e interna, sob um contexto histórico instável e de grande agitação. Deu-se no miolo da Guerra Fria e possuiu articuladores tanto norte-americanos quanto brasileiros. Sobretudo, destaque-se a coerção dentro das próprias forças armadas, do alto comando sobre subalternos (“soldados rasos”). Dito isto, é necessário esclarecer o porquê de muitas ordens ilegais não terem sido contestadas.

            Muitos afirmam que as instituições militares impedem os indivíduos de pensar, imprudente, para dizer o mínimo. Analisando-se melhor, é possível perceber outra problemática: grande parte dos membros das forças armadas detinha, na época, baixa instrução – comum no período em que a educação era privilégio dos mais ricos –, não tinham outra profissionalização além da aprendida no quartel, e possuíam acentuada herança escravista (vide aí a Revolta da Chibata).

Ou seja, estas instituições, por vezes, eram suas melhores opções de trabalho a fim de obter subsídios para si e familiares (visto ainda hoje). No dito popular: “antes que teu filho sofra do que o meu”. Tem-se aí a chantagem, posteriormente a alienação, quando eles eram postos como “homens da lei”, e que precisavam fazer o necessário.

            Isto é claro não faz dos eventos menores ou mais perdoáveis, não são; mas proporcionam ver um novo ponto de vista, onde se evidencia mais um tipo de massa de manobra, tão cega quanto quaisquer outras. Ora, a Revolução Francesa não se fez menos violenta apenas por ter em mente “bons objetivos”, bem como o Terceiro Estado não se fez menos cego e manipulado.

            Voltando à questão central, o repúdio dos estudiosos perante os militares faz-se por meio do sofrimento que ecoa por suas gerações (parece ter se tornado uma tradição), e se eleva, de odiar a ditadura a odiar a ordem.

Que não seja mal entendido, mas o Estado sem suas forças armadas é meramente anárquico, tendo em mente a maldade inerente e desejo por poder posse, na era da velocidade.

Mesmo assim, curiosamente, qualquer cidadão, ao sofrer um assalto, chamaria a polícia. Mesmo que seja civil ainda é hierarquizada, sendo em suma bastante semelhante à militar.

E temos aí uma bela quebra do encantado mundo para a realidade, ou simplesmente a decida de um pedestal, a aceitação de que pertencem a algo maior, uma sociedade pautada em direitos.

Nesse momento muitos exercem uma (triste) cidadania, se veem iguais e dependentes como quaisquer outros; mas, passado o incidente, tornam a subir em seus pedestais e declamar o velho discurso. Nesse meio tempo, no entanto, foram capazes de separar os militares da ditadura.

            Logo, é um raciocino simples: militares, mantém a ordem, ditadores usam militares em prol do poder e do controle. Todos os regimes ditatoriais usaram forças armadas, muitas ditaduras foram civil-militares (outras apenas militares) como o Brasil.

Portanto, não é uma exclusividade, mas com certeza é no Brasil que se tem este grande círculo vicioso, alimentado pelos revanchismos. Ao passo que, muitos daqueles que eram contra o regime, subiram ao poder e negligenciaram as instituições militares e o Estado, tanto quanto foram por eles no passado.

O que não para por ai, pois muitos estudiosos tendem a agregar ainda mais a questão, unindo a ditadura às próprias forças armadas e aos colégios militares num só pacote. O que não é irrelevante, uma vez que talvez eles simplesmente nunca tenham sido alunos de escolas periféricas, abandonadas e sucateadas. Revelando-se ai o porquê de estarem formados e serem aqui tratados por ‘estudiosos’. Se for este o caso, é provável que uma experiência presencial além dos livros didáticos os faça mais senhores do assunto. Tanto quanto estariam aptos a debater sobre o mesmo, ou ainda, “dar uma volta pelo mundo atual e ver o que ele seria sem os ‘famigerados agentes da lei”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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