Quarta-feira, 8 de outubro de 2008 - 01h05
Frase do dia:
"Na minha opinião ele deu um balão em políticos mais experientes" Roberto Sobrinho rasgando elogios a David Chiquilito em matéria do site Rondoniaovivo.
01- Ao índio o que é do índio
Congresso Mundial da Natureza, Barcelona, Espanha, bem longe daqui. Lá pelas tantas pintou a reivindicação dos índios por mais participação nas decisões sobre a Amazônia. Tudo a ver. A história oculta, mas por aqui passaram os irmãos Pinzón antes de Colombo. 500 anos e depois dos espanhóis levarem a prata de Potosi e nos entupirem de celulares, chegou a vez dos índios. Se "no hay más plata", vão jogadores de futebol, travestis, prostitutas, madeira, peixes decorativos, etc. Mas se podemos dar ao índio aquilo que ele quer, porque usar o "galego"? Que os índios recebam todos os direitos e obrigações de um cidadão brasileiro qualquer. Nada de tutela, curadores, Funasa, Funai, ONGs, nada. Eles querem e têm direito à cidadania plena. São tão brasileiros quanto nós e não espanhóis, tupis, ianomâmis, etc. Igualdade ao índio de forma que possa lutar pelo que quer, dizer o que pensa sem ajuda de intérpretes e responder como integralmente capaz, por seus atos.
02- A Funasa subiu no telhado
E por falar em Funasa (os maledicentes dizem Funada ou Finada), o governo preparou a escada e pretende jogá-la do alto, para desespero das ONGs. Mistura de cabide de emprego do Sarney e duto por onde escoa o dinheiro da saúde, a Funasa está na mira dos ministros Paulo Bernardo e Temporão, que pretendem lacrar o ralo que irriga de grana as ONGs picaretas que dizem prestar serviço de saúde aos índios. Pelo andar da carruagem, e se a coisa acontecer abre-se caminho para ações similares noutros feudos como Ibama, Funai, etc. Às vezes, do jeito que a coisa vai, me surpreendo com a possibilidade, ainda que remota, de que o Brasil tenha solução. Mas é só um pensamento. Pena... Logo passa.
03-Cacoal, Padre Franco e redução de custos
Sueli Aragão apanhou durante a campanha até mais que o seu candidato Padre Franco. Com obras em andamento a exemplo do Sobrinho em Porto Velho tinha que matar um leão por dia para explicar atrasos e com isso ajudou a enterrar o marketing acusatório da oposição ao tempo em que livrava a cara do santo padre que chegou a ser ameaçado em sua integridade física. Franco começa sua administração livre de duas chagas: o nepotismo Franco não tem parentes e a primeira dama que em geral tem um gabinete com penduricalhos pagos pelo povo para fazer assistência social. Com as bênçãos de Deus, o apoio do PMDB e PT, Padre Franco tem tudo para rezar uma missa solene e fazer uma administração decente. Amém.
04- Trocando as tintas
Só pra variar, o ligadíssimo Zé Carlos de Sá Blog Banzeiros acertou na mosca. Lendo alguns dos mais furibundos escrevinhadores daqui, dei de cara com textos sobre a eleição do Roberto Sobrinho, que variaram do nihil absoluto, passando por um velado pedido de desculpas e chegando à babação explícita. Como é que conseguem isso seu Zé? Da noite para o dia Sobrinho até domingo o demônio, apareceu na cruz como o salvador. Textos por encomenda são creditados a quem paga, mas ao assinar, o autor se torna responsável por ele. Não me refiro ao ghost-writer. Mas poderiam ter cuidado de trocar a tinta da caneta ou da impressora antes de trocar de opinião, sem pressa, até porque falta muito tempo para o dia do beija-mão e como diz Zé de Nana, "o cavalo é do patrão, mas a espora é minha".
05- A praga dos gafanhotos dos novos tempos
Nos anos 70 o Incra era o enfiador de gente onde houvesse mata a ser derrubada. A roda girou, o Incra ampliou o serviço para ser o enfiador de gente que morasse embaixo de uma lona preta. Mais uma girada e o Incra contaminou-se com um vírus que vive em busca de terra e aí a coisa degringolou duma vez. Já não importava se o caboclo era comerciante, político, madeireiro, se morava na cidade ou na lona preta. Todo mundo ia ter terra. O Incra adotou o uso social da terra como lema. Deixou de ser um órgão público e virou algo entre ideológico e sacerdotal. O resultado se viu agora. Ao tentar enfiar mais gente no mato, criou uma leva de gafanhotos devastadores e sem controle. Se antes havia o grito da terra, agora é a terra que grita por socorro, e que não virá do Incra, perdido no meio da mata.
06- O grande engodo
Os sinais eram visíveis. Uma crise financeira ou melhor, de valor mas isso é outro papo estava chegando. O Brasil se preparou ou, como dizem nossos filósofos políticos, fez o dever de casa, mas há um detalhe importante, a crise é maior do que se imagina e a casa bem cuidada, como tantas outras está abaixo da barragem que ameaça se romper e levar de roldão o que estiver pela frente. O dólar baixo que desgostava os exportadores bateu a barreira dos R$2,30 e de novo, para desgosto dos exportadores. O Brasil está bem mais preparado para enfrentar as crises, mas não é uma ilha. A crise de agora é diferente. Um "Mr.M" qualquer, revelou o truque da mágica e o fundo falso apareceu. Pior para todos nós.
07-O fim da história ou o começo?
Nos anos 90, Fukuyama escreveu a partir de seu artigo O fim da história e da teoria de Hegel séc. XIX - um livro que foi tema de muitas conversas molhadas com qualquer coisa que contivesse alto teor alcoólico e rechaçado por qualquer um que tivesse pelo menos um neurônio esquerdista. Na teoria, o fascismo e o socialismo seriam varridos e a sociedade enfim entraria num período de estabilidade tendo como pilares os valores americanos do capitalismo e da democracia. Não sei por onde anda o autor, mas gostaria de ver sua cara depois de perder o rico dinheirinho amealhado com o seu "O fim da história e o último homem". Contra antes, contra hoje, vou parodiar Drummond: "E agora Fukuyama"?
08- Uma velha de 20 anos
No dia 05 nossa Constituição completou 20 anos de idade. Nova sob qualquer ângulo que se olhe, mas velha em função do momento e da forma em que foi concebida. Saíamos de um regime de exceção e era preciso blindar todos os pontos para que a democracia não desse um passo atrás. Preparada para servir a um regime parlamentarista, teve que ser adequada ao regime presidencialista. Extensa e minuciosa, carecia entretanto, de outras leis e dispositivos que a fizessem um instrumento de governabilidade. A "velha garota" de foi sendo submetida a uma série de plásticas, emendas e enxertos mas na essência é uma constituição parlamentarista que dispõe de instrumentos legislativos que não são usados ou pior, que são usados por outros poderes. Um bólido guiado por motoristas sem carteira.
09-O espírito da lei e o espírito de porco
Um câncer da administração pública é a contratação de serviços e produtos, alimentado por nosso falho sistema eleitoral com a captação de dinheiro particular e pelo falho sistema de se fazer orçamento com a pressão dos lobistas. Durante o governo Itamar Franco, surge a lei 8666, a Lei das Licitações, tão emendada que mais parece uma colcha de retalhos. A lei é boa, geral e justa e a ela deve-se uma série de avanços, mas passou da hora de ser revista. Um "encosto", o tal projeto básico, tornou-se uma dor de cabeça, já que na prática funciona como o mapa a ser seguido para se fraudar a licitação. Por outro lado, empresas de fachada têm a garantia jurídica de poder participar do certame.
10- Reformas
O momento é propício. Lula tem mais dois anos de mandato, popularidade em alta, uma crise batendo à porta e portanto pode arriscar. Temos pelo menos três frentes carecendo de reformas e quanto mais rápido melhor. Detesto o termo reforma e vou trocá-lo por outro mais técnico reorganização. A primeira mãe de todas é a política, com impacto na lei eleitoral. Depois dela, a tributária, com marcos precisos para a segurança jurídica dos que operam no governo e iniciativa privada. Por fim, a questão previdenciária. É impossível conviver com a realidade de que tantos na iniciativa privada contribuam para uma casta de servidores públicos, premiados com holerites, vantagens e aposentadorias impensáveis para qualquer pessoa que atue na iniciativa privada. Se a idéia é construir o "Brasil um país de todos", a hora. Não dá mais para esperar. O resto a gente vê depois.
Fonte: Léo Ladeia
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