Sábado, 8 de junho de 2024 - 08h00
666-000: sempre brinquei que esse seria o número
de telefone para chamar a ambulância e chegar ao hospício, ou algo parecido. Um
lugar que ajude a explicar o que pensamos, passamos e, principalmente, vemos
ocorrer ao nosso redor, pasmos. Penso em discar agora, aos 66 que completo,
impressionada com a doideira geral.
Os dias anteriores ao dia de aniversário são sempre
reflexivos, não sei se para você aí também. A memória de tudo o que já passou -
e sobreviveu - fica muito mais nítida, talvez porque a gente se esforce mais em
rever detalhes, pensar se hoje agiria igual ou até como poderia ter reagido à
época, mesmo que não se arrependa de nada. Acabamos encontrando trechinhos mais
especiais do que outros, sorrindo ao registrar vitórias, e batendo palminhas para
aqueles em que conseguiu forças para superar. E foi assim, batendo muitas
palminhas para mim mesma, que recordei do 666-000, o telefone doido da antiga
brincadeira, de quando os telefones tinham só seis números e, claro, não
existia o celular. 66 anos é coisa de quem vem lá do século passado, que parece
tão longe, e às vezes tão perto. O tempo voa, mesmo.
Estamos aí. Sempre começando ou recomeçando, o que a esta
altura da vida já dá boa canseira. Lembro da querida, geminiana também, Marília
Gabriela que, do alto de seus agora 76 anos, conquistas, sucesso, resume em
alto e bom som para quem quiser ouvir: “Envelhecer é uma merda!”
Mal ou bem, a verdade total. A frase é repetida com humor
no seu imperdível espetáculo teatral “A Última Entrevista de Marília Gabriela”
em cartaz até o fim de julho em São Paulo, ao lado do filho Theodoro Cochrane,
genial, e onde se assiste a uma moderna e interessante revisão de vida e
relacionamento, inclusive familiar. Gabi, uma mulher completa, vitoriosa, que
canta, dança, representa, faz de um tudo, jornalista inesquecível e respeitada,
que viveu grandes amores, sempre da forma que bem entendeu. Tenho por ela uma
admiração e carinho que pouca gente no mundo me suscitou até hoje. E se ela diz
que envelhecer é uma merda, quem sou eu para contestar?
É mesmo, principalmente para nós, mulheres. Vamos ficando
invisíveis, e toda hora – vejam só – ainda temos de recomeçar, aprender a lidar
com a solidão, com as perdas, mostrar nossas qualidades e o tanto que sabemos,
e muitas vezes para quem não tem a menor ideia, gerações que chegam esquecendo,
ou não sabendo, como as estradas foram rasgadas, cavadas, para chegarmos todos
aqui. E o quanto ainda precisamos cavar, gritar, lutar para que haja respeito e
que nos respeitem.
Daí sempre pensar no 666-000, a cada uma que presencio ou
fico sabendo. Inclusive algumas que, digamos, me envolvem, sempre diferente dos
meus pares. Nomeada, dependendo de por quem, como exótica, original,
“estilosa!” ( tem essa), “maluquinha” – pensam que palavras simpatiquinhas me
passam despercebidas em seu significado de ataque. Sorrio e sigo, do alto de
meu palanque, derrubando preconceitos faz muito tempo.
Me digam se sou eu que sou a “maluquinha” nesse mundo cheio
de ódio, de violência brutal contra as mulheres, de descaso com a vida que
acreditam na forma que se passa nas redes sociais. Guerras sanguinárias,
descaso com a Ciência, Educação, com a vida e natureza, seguindo idiotas que se
autodenominam influenciadores. Pior, “influencers”. Criam paraísos artificiais,
e sem qualquer inteligência.
Deu linha. Só discando 6-6-6-0-0-0. Quem sabe qualquer hora
alguém atende? Endereço Rota 66, entendeu? Vou continuar brincando disso.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora
do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São
Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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