Sábado, 8 de março de 2025 - 08h04
Fala aí se também não está tendo a sensação de que está tudo embaralhado.
Uma coisa é verdade, boa notícia, em um dia; negada, péssima, em outro. A
geopolítica mundial parece um vulcão sempre prestes a expelir lavas. Nada se
resolve exatamente, postergado com explicações difíceis de serem compreendidas,
muito menos aceitas.
Ficamos
no caminho tentando ver horizontes. E o que já encontramos nesses caminhos são
muitos coelhos de todos os tipos que não saem de cartolas e os ovos embalados e
brilhantes que começam a virar tetos nos supermercados. Agora com esse calor
fogoso preocupados se eles não vão é derreter e fazer chover chocolate e seus
recheios sobre os clientes.
É
Quaresma. Esses 40 dias corridos e que correm até a Páscoa. Que invocam e
juntam jejum, penitência e caridade, recheados de tradições e significados
religiosos aos seguidores, e incluem muitas regras para expiar as culpas sempre
impostas, seja o que for que seguimos. O Papa Francisco em um leito de
hospital, totalmente cercado, instável/ estável, e com a luta aberta por sua
sucessão já deflagrada, um dos piores retratos do momento, dessa angústia,
estranha angústia.
Bom
seria que não houvesse tantas preocupações. Aqui, a inflação esvazia geladeiras
e mesas em um delicado momento de perda galopante de popularidade do governo,
que se apressa a lançar decretos e programas como frágeis aviõezinhos de papel
que apenas sobrevoam os verdadeiros problemas – um deles, a confiança perdida.
Confiança
perdida, inclusive, também na Justiça e sua lentidão. Obrigados que somos em
ainda suportar ver e ouvir sem punição vozes e atitudes afrontosas daqueles
todos que tentaram nos afundar novamente no breu de um golpe de Estado. Que
incentivam, infernizam e apoiam grupos nas redes sociais mostrando suas infinitas
capacidades de emitir ignorâncias, o ódio, e criar mentiras sobre tudo – pior é
que conhecemos alguns deles, e que continuam a nos separar, pessoas, convívios.
Agora
ainda por cima se sentem confortáveis e felizes com os ensandecidos que foram
eleitos nos Estados Unidos e dirigem uma das maiores potências do mundo
deixando dia após dia o mundo todo mais ainda de cabelo em pé, como se já não
bastassem os conflitos, guerras, ditaduras, massacres e crises em escala. A
globalização se esfacela, mas há um setor bem feliz, esfregando as mãos, o
armamentista, os poderosos Senhores das Armas que nos fazem de marionetes. As
soluções são sempre levadas para eles, gananciosos.
Não há
trégua. Brincam com foguetes, com o clima que arde, gela, com o ar que
respiramos. A tecnologia avança, se apresentando como inteligente, mas também
dominadora e especialmente pretensiosa. Perdemos terreno em conquistas que já
nos custaram muito caro.
As
cartas estão sobre as mesas, mas muito embaralhadas. Nelas procuramos, ávidos,
um mísero coringa que ao menos faça valer tantos sacrifícios. Quem encontrá-lo
sairá na frente nesse jogo.
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MARLI
GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo,
autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também,
pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo.
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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