Sábado, 20 de maio de 2023 - 08h15
Bem sei o quanto tema é o que não falta neste
nosso Brasil, nesse nosso mundo, planeta, Universo. Alguns só para citar aqui e
ali, conversa de botequim, de tempo, de oi no elevador. Ou são muito chatos. Ou
baixo astral. Ou, ainda, algum tema sobre o qual fica difícil opinar sem tomar
bordoadas de uma ou outra direção nesse país dividido, e quando se tem uma
opinião divergente das correntes.
Um amigo escritor acaba de me escrever, respondendo se iria
me mandar artigo para publicação no nosso site Chumbo Gordo, e sem querer
acabou foi me apresentando um personagem que adotei para o meu próprio
imaginário: a fada do tema. Na resposta, ele dizia não acreditar em fadas que o
fizessem escrever, pelo menos não agora, hoje.
Mas eu acredito em fadas, embora elas não puxem meu enorme
dedão do pé como fazem os duendes da Xuxa. Mas para você acreditar também,
preciso que pare para pensar o quão difícil é escrever, aliás escolher sobre o
que escrever, assombroso drama dos cronistas, articulistas e colunistas, alguns
tendo de produzir genialidades com frequência até bem maior do que a minha, que
planejo como hábito sempre uma vez por semana, na sexta-feira. Temas existem,
estão por aí à nossa volta, gritando em nossos ouvidos, muitas vezes sugeridos
por leitores. Mas, e cadê a vontade de escrever sobre eles? É necessário que um
bichinho seja ativado em nosso cérebro para que comecemos a batucar as
pretinhas (olá, são as teclas!), como costumamos chamar em jargão de imprensa.
Não é fácil não.
Como começar, por onde começar, para onde levar palavras,
pensamentos, opiniões, informações. Lembro que nos tempos de redação no Jornal
da Tarde - e as redações de jornal ainda eram lugares amigáveis - quando
tínhamos algum desses apagões de por onde começar chamávamos um amigo para brincar
de “Stop”, lembra qual é? Aquela que a gente fica pensando no alfabeto, a, b,
c, d... até que o Stop! interrompa. A letra que saísse era como começaria a
reportagem ou a notícia que redigíamos. Sempre dava certo. O problema era
quando caia em “X”, “Y”, “Z”, “W”, mas sempre dávamos um jeito. Se precisar de
inspiração para começar, use essa dica. Especialmente se não acreditar em
fadas.
Escrevo, religiosamente toda semana desde outubro de 2008,
e o que dá até agora mais de 750 artigos e crônicas que, publicados em sites e
jornais de todo o país, replicados pelos queridos leitores, já contemplaram
toda sorte de temas, de comportamento, cotidiano, liberdade, imprensa, luta das
mulheres e em alguns anos, como os últimos quatro que se passaram sob o comando
do ser estranho, a política foi o tom. Nem sempre é possível buscar a
suavidade, a ironia ou o humor exigido pela crônica, esta forma que exige
alguma leveza, tema e título atraente que te chame para seguir junto comigo o
pensamento.
Precisa de certo bom humor, que não é bem o cotidiano de
quem batalha diariamente pela sobrevivência. Precisa de energia e saúde – e o
que nestas duas últimas semanas não está sendo bem o caso. Tosse não ajuda.
Eu estou, e pelo que sei, junto com mais por aí uma torcida
do Corinthians, estamos todos acometidos de uma coisa, mudança de estação,
tempo seco, planeta doido, e que não é gripe, não é Covid, mas traz uma
insuportável tosse seca (que nos acorda para acontecer também de madrugada),
pega a garganta, detona a voz. Até falar ao telefone vira tarefa hercúlea.
Tudo isso explica porque esta semana apelei mesmo foi para
a fada do tema. Escrever de novo sobre os movimentos erráticos de Lula, ou do
seu antecessor que pula fogueiras para fugir das responsabilidades de tudo e tanto
o que aprontou? Sobre a escalada da violência urbana que tem dias dá medo até
de chegar na janela? Sobre a impunidade que nos assombra, a miséria do
descompasso social, os feminicídios que se multiplicam? Sobre este perigoso
centralismo de decisões que têm escorrido da Justiça e que um dia pode se virar
contra todos nós? Sobre guerra? Sobre a ignorância e escalada de moralismo
hipócrita? De novo?
Hoje não. Me deixa melhorar, ao menos parar de tossir.
Aliás, há alguns autores que garantem que a tosse - na linguagem do corpo -
pode ser sinal de uma raiva que “não sai da garganta”. Pensa aí o quanto esses
assuntos nos assombram, nos fazem mesmo muito mal. Tanto que muitas vezes não
conseguimos nem falar sobre eles. Muito menos escrever.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n