Sábado, 20 de agosto de 2022 - 06h05
A gente não quer só eleições, a gente quer muito mais: eleições livres, e que nos livrem, seguras e, pelo que parece, divertidas, embora a realidade seja de chorar. A gente quer respeito. Embora também pareça que queremos conflitos, ao menos as redes sociais onde os grupos se enfrentam diariamente armados de memes, hashtags e arrobas num velocidade espantosa.
O problema geral é que não estamos vivendo uma piada, mas uma situação e
um momento entre os mais sérios dos últimos anos. Quem está no poder está usando
isso, aproveitando as grotescas gracinhas nesse ambiente para passar outras
boiadas, muitas boiadas. Como a dos empresários do horror planejando golpe de
Estado, as motociatas e passeios em pleno momento expediente e o Brasil à
deriva.
Tudo é marketing político, para um, pra outro, para outros, ou mesmo
para quem se dá bem sendo compartilhado com a assustadora rapidez em que as
coisas acontecem nesse mundo virtual povoado de gente e robôs, de informações e
mentiras, mas também de uma criatividade sem limites.
Todo dia tem novidades, e essa semana foi especialmente pródiga,
culminando com o impagável chamado de “tchutchuca do Centrão”, ouvido na
rebordosa que um jovem e confuso youtuber promoveu no cercadinho do Planalto, e
que irritou o presidente a ponto dele próprio voar para cima do menino tentando
tirar seu celular que tudo gravava. Uma cena antológica.
Só que ele já estava com uma baita indigestão, e o tchutchuca foi gota
de água cuspida no presidente capaz de falar mais besteiras por minuto de que
temos notícia e de destratar jornalistas e seus próprios assessores quando se
vê emparedado.
Começou com a festejada posse de Alexandre de Moraes na presidência do
TSE, Tribunal Superior Eleitoral, que reuniu desafetos de toda ordem. O próprio
ministro, com Bolsonaro sentadinho ao lado mais do que com cara de poucos
amigos, com cara de tacho, cara de “o que eu tô fazendo aqui?”, entre outras
que você pensou aí se viu as imagens. Diante dele, sentadinhos na primeira
fila, um festejado Lula, e Dilma, Sarney, Temer. E também, na pontinha,
mostrados de vez em quando, os inquietos e abismados ministros do STF indicados
recentemente, André Mendonça e Kassio Marques. Um dos maiores registros de saia
justa literal de que tivemos notícia.
O caloroso discurso de Alexandre de Moraes a favor do processo eleitoral
e da democracia arrancando aplausos entusiastas da plateia, que chegou a
aplaudir de pé em alguns momentos. O presidente pálido, crispado, parecia estar
brincando de estátua! – assim como o filhote chefe da campanha. Sobrou até para
o tchutchuca anterior, Paulo Guedes (assim foi chamado numa recente audiência
pública), que teve de sair mais miudinho do que já é explicando porque deu as
mãos, cumprimentou Lula. (Fora isso, claro, teve a cena de Dilma Rousseff de
cara virada pro Michel Temer).
Isso é que foi festa.
Mas do lado de fora desses encontros, nas redes sociais, na internet, é
que se dão tanto as nossas alegrias com piadas, charges, memes impagáveis,
quanto os confrontos com as tentativas de respostas nesse triste ambiente ainda
tão dividido. Pelo menos ali não rola sangue. Só grosserias nada chiques
capazes de corar os influencers de etiqueta social que achavam que o saco roxo
do Collor poderia ter sido o ápice.
A agilidade – no Twitter em poucos minutos centenas de milhares de
citações, com compartilhamento dos vídeos, charges, memes, trocadilhos, e até
versões musicais do tchutchuca do Centrão, o apelido que veio pra ficar – foi
realmente impressionante, espantosa.
Mas na realidade silenciamos, porque pode até parecer brincadeira - mas
não é - quando esse presidente anuncia exultante em suas lives a diminuição de
impostos sobre jetskis, ou sobre - no país que tem muita fome – de whey
protein, albumina, de suplementos nutritivos esportivos. E seu próprio perfil
oficial publica a foto de um fisiculturista com uma cara parecida com a sua e o
seu número de campanha grudado na sunga.
O que a gente faz? Ri ou chora copiosamente de vergonha?
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do
Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n