Sábado, 24 de setembro de 2022 - 09h34
Ansiedade, o Mal do Século? Ataca agora todo um país e, por incrível
que pareça, é a única coisa que nos une a todos, em momento eleitoral tão
dividido, violento, crucial. Me diz se não está aí também contando os dias,
horas, minutos para acabar com essa expectativa, para mim uma das maiores do
período democrático, pelo menos do que vivi.
Palpitação, tensão, nervosismo, até medo do que pode
acontecer nos dias e horas que faltam para aquele final de tarde, começo de
noite, quando os resultados começarem a ser divulgados, e depois disso.
De um lado, esse de cá, tanta vontade de se livrar desse
bagulho (e de sua família e asseclas) o mais rápido possível e enquanto é
tempo, e depois de viver aflições e ouvir desrespeitos praticamente todos os
dias dos últimos quatro anos, que estamos até meio doentes. Brigamos entre nós
quando deveríamos estar todos juntos em uma só direção e objetivo, sem
divisões, como as que inclusive nos causaram todo esse desgosto.
É o que temos, sei bem que não é, sem dúvidas, o melhor
dos mundos, mas é preciso decidir o mais rápido possível para que se aplaquem
esses temores, ou melhor, para que possamos caminhar com mais segurança no
caminho que as urnas traçarem, seja qual for, e logo, juntando os cacos.
Teremos muitas coisas para resolver e necessitaremos de estar fortes para
defendermos a ameaçada democracia custe o que custar. Hora da união da
oposição. Seria maravilhoso que essa pendência principal fosse decidida logo,
para acabar com a agonia e esclarecer quais serão as próximas fases do jogo.
Essa é a montanha-russa da política, movimento
aparentemente normal, se estivéssemos vivendo momentos normais, o que não é
decididamente o caso. Mais uma vez, por exemplo, as eleições legislativas, tão
importantes quanto a decisão para os cargos de presidente e governador, estão
sendo escamoteadas e vemos apenas aquelas pessoas aparecendo com frases curtas
e em geral sem sentido, ou apenas em fotinhos e acenos. Aqui em São Paulo tem
candidato ao Senado apelando para o seu cachorrinho que promete levar para a
Brasília, tem astronauta perdido no espaço, cada um de espantar. Pouco nos
atemos, por exemplo, não só ao rol de propostas mirabolantes, mas a aquelas
letrinhas miúdas que trazem lá embaixo o nome de suplentes, na maioria francos
desconhecidos e que poderão, como tantas vezes já mostrou a história, serem os
que acabam sentados lá nas cadeiras do Congresso. Por momento assim na eleição
anterior, além de acabarmos governados por um perigoso sem-noção, elegemos
algumas das piores legislaturas de todos os tempos no Congresso e nos Estados.
Aliás, anda perdido por aqui até um siderado candidato ao governo do Estado que
não sabe nem onde ele próprio vai votar. Sem um Waze nem para casa volta.
Tudo isso é o caldo grosso da política. Fatos que criam
em todos essa ansiedade, faz ficar esperando resultados de pesquisas, tem
tomado o tempo de muitos nas redes sociais se atacando entre si, insuflados
pelo ódio reinante e desgastante cultivado nos últimos difíceis tempos que
vivemos, pela pandemia que acabou por dominar nossa atenção, de um lado, e do
outro, ver o quanto eles aproveitaram para se armar, tomar as cores da
bandeira, disseminar mentiras absurdas, tentar destruir a imprensa, atacar e
desmerecer conquistas fundamentais.
Enquanto isso, vamos nos distraindo um pouco tentando
relaxar. As farmácias vendendo calmantes como nunca. “Influencers” surgindo de
todos os lados e poucos sabem como se criam, mas sabemos o que comem, o que
vestem, onde gastam, com quem transam. Ideias de desafios – alguns pegam, como
esse último de postar foto com 13 livros de lombada vermelha, que – tudo bem –
mas adoraria exatamente entender o sentido, além do vermelho e do 13, para
virar voto. Artistas se mobilizam em fotos, vídeos, músicas e até hinos, como o
do inominável, que lista em mais de 13 minutos os absurdos do bagulho – tantos
foram que o vídeo ficou mesmo bem longo.
Legal. As mãos surgem, de um lado apontando, fazendo
arminhas; do outro, transformando as tais arminhas no L, de Lula, o líder
político ressuscitado desse país que se distraiu e esqueceu de formar novos
quadros sérios e fortes o suficiente para encarar a caneta desse atual
presidente apenas ignorante, que acha que é de direita porque ouviu dizer por
aí, que subiu ao poder e dele quer se apropriar. Ainda acha que pode vencer
jorrando impropérios e comprando com migalhas exatamente quem mais vem sofrendo
com toda a situação. E não é só de ansiedade, mas de fome, de falta de saúde,
trabalho, moradia, saneamento, segurança, já soterrados por dívidas.
Esses que ninguém engana, de mãos calejadas.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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