Sábado, 14 de maio de 2022 - 08h05
O ar puro não tem cor, nem cheiro, nem sabor. Assim deveria ser, mas
ultimamente respiramos coisas bem diferentes. Uma cor cinza, cheiro acre, sabor
de dúvidas. Pairam no ar, no momento, incertezas, movimentos bem estranhos que
nos inquietam e fazem duvidar até do que no que sempre acreditamos e defendemos
Há momentos nos quais parece
que todos os bueiros e buracos, cavernas e fendas foram abertos, e libertando
mais do que gases. Surgem os fantasmas do passado. Todo dia sabemos, escutamos
e presenciamos mais e mais cenas, no mínimo, lamentáveis. Odiosas. Perigosas.
Cínicas, quando vêm embaladas falsamente em liberdade. Pensamentos de
ignorância e preconceito, mentiras deslavadas ditas com ar de verdade,
repisadas, distribuídas – pior, apoiadas, aceitas e espalhadas por um
minoritário percentual de brasileiros que julga que isso é amar o país.
Ataques violentos, racistas,
homofóbicos, contra a imprensa, declarações contra tudo e todos, contra as
mulheres, a plantação de incertezas num crescente que há muito não se tinha
notícia e que nesses três anos e meio viraram comuns, claramente ligados à
direção imposta pelo desgoverno – aliás, notícias sobre isso também estão
sempre no ar.
Muitas vezes ao vivo; outras,
em gravações registradas sejam horizontais ou verticais em aparelhos celulares
que as comprovam. Nós vemos acontecer. Sim, aconteceu mesmo. Mas estranhamente
quase nunca sabemos no que deu cada denúncia ou registro daqueles, tantos são
dia após dia que se perde o controle, qual foi o encaminhamento, se houve
investigação ou punição.
Sem resultados, muitos
impunes, eles se repetem, a nós só resta reparar bem nos detalhes quando os
conhecemos. Há sempre uma mesma e estranha ligação, inclusive visual na
descrição física dos tipos de pessoas que tanto nos indignam. O peito estufado
dos machões bombados e fortinhos à la Daniel Silveira, o deputado amestrado
infeliz que tenta – e pior, vem conseguindo - balançar a República, nos
deixando indecisos inclusive até com os assuntos imunidade parlamentar e
liberdade de expressão, que nos são tão caros, mas desprezados por essa turma
do poder que cria situações para justamente deixar muitas insidiosas dúvidas no
ar.
Outros elementos encontrados
sempre levam a descobrir informações e posts sobre essas pessoas onde
invariavelmente aparecem com camisetas verde e amarelo, bandeirinhas, o apoio
radical ao pior do bolsonarismo, além de mostrar que, melhor não descrever
muito, que nem precisa, seria até deselegante: pessoas horríveis, muito
horríveis. Horrorosas, em resumo.
Ar que se torna cada dia mais
irrespirável quanto mais se aproxima a eleição presidencial. Há um conluio
quase combinado dos que só querem armar, odiar, desrespeitar, provocar, violar,
incendiar, tumultuar, brigar, atrapalhar, humilhar, tripudiar, outras tantas
tentativas de nos fazer perder o ar, a força e o equilíbrio, inclusive para
defender o que acreditamos, e nos fará disputar centímetro por centímetro.
É um ar comprimido, encanado,
poluído. Quase se tornando irrespirável. Mas haveremos de superar.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista,
consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no
Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na
Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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