Sábado, 20 de janeiro de 2024 - 08h04
Barulhos tornam a cada dia mais insuportável a vida
nas grandes cidades, São Paulo no topo da lista. Como não sofrer de estresse?
Piorando sempre, agora em cada esquina mais uma obra, uma demolição, um prédio
que sobe, mais pessoas, mais trânsito. Mais barulhos. Aproveitem o aniversário
da cidade para pensar sobre este tema: poluição sonora.
A poluição sonora altera a saúde física e mental
das pessoas, o curso da natureza até na sua reprodução, perturba o cotidiano, a
concentração, o sono. Porque ninguém cuida disso? Que falta faz um verdadeiro
Partido Verde, atualmente enterrado e puxado por guinchos e interesses
fisiológicos no esteio de tucanos e estrelas!
Uma britadeira contínua em algum lugar próximo,
parecendo uma metralhadora sufocada. A buzina insistente de um apressadinho
louco para furar o farol. Um entregador, de bicicleta alugada, se diverte
raspando o asfalto com o pneu, e emitindo huhuus. Uma motosserra corta os
troncos da tipuana da esquina. O motoboy acelera ao lado do motorista da
Ferrari que acha que precisa chamar ainda mais a atenção. No carro popular que
passa, daqui de cima do sétimo andar onde moro escuto claramente a letra da
pior música sertaneja, daquelas de dor de corno, com requintes de mágoa e
misoginia. O alarme de um carro dispara com a vibração da estaca batendo no
terreno onde daqui a pouco subirá mais um prédio aqui perto. O passeador de
cachorros, de um lado com quatro deles, dos grandes, segura firme as cordas. Do
outro lado da rua, outro passeador, com cinco daqueles cães pequeninos e
irritadiços provoca os grandões com seus ganidos corajosos. Mais um jato passa
na rota do aeroporto, e o helicóptero ronca e chega ao topo do hotel chique
onde parece que mais hóspedes chegam pelo céu do que entram pelo térreo.
Juro. Descrevo o exato momento em que escrevo. Não
gravo para vocês ouvirem porque ninguém merece. Só falta minha própria gata
começar a miar aqui do meu lado; mas que bom, ela dorme tranquila e alheia.
Daqui a pouco acorda, com os raios e trovões da chuva que se aproxima. Não vai
demorar ainda, porque constantes, as sirenes, seja das ambulâncias, Samu, da
polícia, os bombeiros – que de longe a gente escuta chegando perto, perto, e
passando, deixando a sequência de suas ondas sonoras que gritam sai da frente!
Ainda bem, nada pior do que quando qualquer um deles para diante do seu
endereço. E as sirenes precisam mesmo gritar cada vez mais alto e forte para
conseguir que lhes deem passagem, e só quem já precisou salvar alguém conhece
esse desespero.
No calor intenso parece que tudo se intensifica.
Essa semana, coincidentemente, recebi um press-release de médicos
otorrinolaringologistas alertando sobre a misofonia, síndrome da audição
supersensível: “forte reação a sons específicos, como gotas de água,
mastigação, chiclete ou ruídos repetitivos, como batidas de lápis” .... imagino
como lidam com a parafernália urbana prestes a piorar ainda mais com a
criminosa mudança de zoneamento que aqui vem sendo perpetrada.
Não chego a tanto, e nem aqui trato desses
“tiques”, mas sim de sons muito acima de 85 decibéis que, constantes, causam
sérias reações físicas e emocionais, de aumento de pressão e ritmo cardíaco a
ansiedade e depressão, fora aquela dor de cabeça tinhosa.
Sons irritantes como os terríveis do interior dos
ônibus que circulam (salve a chegada dos poucos elétricos, os verdinhos). Os
motores mexidos e nunca fiscalizados. Os caminhões que nas madrugadas arrastam
correntes para pegar as caçambas e depois largá-las, jogando-as. Aquele agudo
do sinal de marcha-a-ré de caminhões. A lista é infinita. Pamonha, pamonha,
pamonha.
Aproveito mais um aniversário da cidade para
implorar que seja dada mais atenção à poluição sonora, um crime ambiental
bastante próximo de todos nós, que não estamos na Amazônia.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n