Sábado, 12 de novembro de 2022 - 11h45
Olha
a bola batendo em nossas canelas, e o complexo esforço para que o país todo
faça as pazes com o aviltado verde e amarelo e comece a torcer pela Seleção,
digamos numa só direção. Chega a ser até engraçado esse visível movimento todo,
especialmente da propaganda e marketing, no sentido de sensibilizar e tentar
virar a chave das pendengas eleitorais que ainda se prolongam em inacreditáveis
cenas de delírio ufanista.
Bandeira branca, amor! Vai ser difícil, mas não
impossível, embora muito em cima da hora, e depois de muito tempo correndo
solto o sequestro da bandeira nacional nos embates políticos dos últimos
tempos, e do verde e amarelo ligado ao pior ufanismo, nacionalismo e ranço
antidemocrático. A Copa do Mundo está aí, a bolinha que agora é toda colorida
vai rolar no campo e dependendo do resultado dos primeiros jogos é capaz até de
emocionar corações e mentes crentes no tal hexa, uma estrelinha (ironia
simbólica) a mais sendo pregada nas coisas.
Vai ter de este ano, já que a Copa pela primeira
vez chega praticamente junto com o Natal e suas bugigangas, competir com o
vermelho (outra ironia do destino) que normalmente marca essa época. A
propaganda já está enlouquecida com isso, batendo cabeça, digamos dando tratos
à bola. Primeiro quer que a gente torça. Depois que compremos peru, presentes,
demos atenção ao Papai Noel, suas renas e tudo o mais. Querem que consumamos
pelos dois eventos, de cores mais uma vez opostas.
Alguns disfarçam. A Ivete Sangalo tem aparecido
vendendo linguiça para comer durante os jogos. Vestida predominantemente de
azul, com pinceladas de amarelo. Mas está massiva a publicidade de carros,
bancos, tudo quanto é coisa que precisa se atrelar ao povo e ao futebol,
implorando para que o país volte a torcer pela tal seleção canarinho, use as
caríssimas camisetas oficiais x ou y, faça as pazes entre si e com os símbolos
nacionais, consuma. E não pareça ser bolsominion, ou identificado como um,
principalmente desses que ainda andam por aí falando e fazendo bobagens.
O problema é que a eleição terminou, mas as
maluquices não. Persistem. Parece que só pioram, numa espécie de surto coletivo
da extrema direita incentivando a criação de problemas para a posse e o novo
governo eleito. Diariamente, ainda, damos de cara com notícias e centenas de
imagens de pequenos grupos espalhados inconformados rezando em transe,
ajoelhados diante de muros dos quartéis, fazendo discursos odiosos e inflamados
repletos de fake news, evocando ditadura, intervenção militar, alguns até em
acampamentos – sempre instigados e financiados pelos péssimos exemplos do
desgoverno que se vai e esvai, deixando lamentáveis lembranças e lambanças. E
bodes como esse, da coitada da bandeira e do verde e amarelo. Já tivemos isso
no passado, um tal Brasil, Ame-o ou Deixe-o de tristíssima memória, e que tinha
até musiquinha reacionária à moda dos atuais sertanejos.
Para completar, a Copa será realizada distante, num
lugar caro, inacessível para uma maioria, e cheio de não pode isso, não pode
aquilo, de tirar tesão de qualquer torcida do mundo. As famílias, os amigos, os
grupos ainda estão abalados com tantas brigas e pela terrível divisão imposta
entre as duas forças políticas que se enfrentaram, e o que pode abalar os
churrascos, os encontros, as animadas torcidas nos bares. E como ultimamente o
Brasil tem sido para os fortes some-se a isso o claro, visível e preocupante
aumento dos casos de Covid. A volta dos aconselhamentos de distanciamento
social, de uso de máscaras e o temor de que essa nova cepa seja mais perigosa e
ainda sem cobertura vacinal que a abarque por aqui, em mais um final de ato
melancólico da temporada de Queiroga & Cia no Ministério da Saúde, que já
levou embora 700 mil brasileiros, isso contando os números oficiais.
A bola de futebol antes branca e preta agora é toda
colorida, cheia de marca, mas sem arco-íris para o país do Oriente Médio que
não gosta nada dessas coisas. O impasse está aí.
A proposta? Vamos voltar ao clássico branco e
preto. O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin já até inovou outro dia deixando
à mostra suas meias soquetes pretas, de bolinhas brancas. Um sucesso.
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MARLI GONÇALVES – Viva o democrático branco e
preto. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora
de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela
Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br /
marli@brickmann.com.br
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