Sábado, 23 de setembro de 2023 - 06h20
Se não há calor humano,
esbanjamos calor urbano. Mais prédios brotando, fechando as correntes de ar,
destruindo a natureza além da memória da cidade. Sol ardendo, na aridez. Arte
aqui em São Paulo, além de viver e sobreviver, são ovos estalados no asfalto da
avenida do dinheiro. A cidade ferve e a primavera grita, muito mais quente do
que o normal.
Não se fala de outra coisa, não
se sente outra coisa. O calor. Claro, o calor fora do normal, que calor em si é
bom demais. Para quem pode e na hora que pode. Bom para quem tem sombra, água
fresca e a cabeça tranquila, que cabeça quente piora muito as sensações de
aperto, suor, a dor de cabeça e a respiração ofegante do correr atrás. Uma
praia, ondinhas, coco gelado, cervejinha, sorvete, essas coisas que devem estar
permeando os sonhos de muita gente, me incluo. Já despertei quando me sentia
dentro do mar, nua, chapinhando na praia de Tambaba, Paraíba, entre as pedras,
brincando com argila natural, vendo peixinhos coloridos, coisas de um sonho de
consumo que não morro antes de repetir de verdade.
Enquanto isso não tem condições
vou continuando na briga, luta, #arvorenãoélixeira. Árvore não é lixeira, pelo
amor de Deus! Nesta cidade grande as pessoas são loucas, não dão valor ao que
as árvores podem nos facilitar em momentos como esse, e socam lixo de todos os
tamanhos e tipos aos seus pés, como se fossem elas algum tipo de marco para que
os profissionais de limpeza localizem para recolhê-los. Fora o cupim, as podas
malfeitas, as pragas não combatidas, os assassinatos lentos, as árvores vão
tombando e às vezes matando como se descontassem em alguns seus sofrimentos.
Quanta encrenca já arrumei para explicar algo tão simples. Mas não adianta, e
estou falando de áreas nobres da cidade que percorro.
A cidade mais rica do país, mas
que não tem infraestrutura adequada, água para todos, cidade que ainda exibe
rios gigantescos poluídos e esgotos a céu aberto, em dias de calor tem outra
característica: cheiros, e muito poucos bons; na verdade, bons só em ruas de
comércio requintado, vindos dos perfumes exalados das lojas numa concorrência
doida, e às vezes até enjoativos de tão fortes. Algumas marcas até vendem seus
cheiros em sprays. No geral o que sentimos mesmo é o cheiro tenebroso vindo dos
bueiros sempre entupidos, do xixi e fezes dos milhares que vivem nas ruas, e na
falta de banheiros públicos, aliás também de muita gente que se alivia atrás de
bancas, muros e... árvores!
Leques já começam a ser abanados,
e ventarolas de papel, qualquer coisa que faça ventinho e possa ser balançada
junto ao rosto. Os mini ventiladores movidos a pilha já devem estar bombando
nas ruas do comércio popular. Outro problema: amado por uns, odiado por outros,
os aparelhos de ar condicionado sempre mal regulados que encontramos no entra e
sai de um dia nas ruas. Não há saúde que aguente, inclusive porque muitas vezes
são eles focos de muitas bactérias, além da geleira e do choque térmico, como
se não bastasse a já estrambótica amplitude térmica, em 24 horas, que já beira
até 20 graus nesse mundo com o aquecimento global batendo na porta – ou melhor,
entrando fervendo sem pedir.
E o menino? O El Niño? Já o
chamam de Super El Niño. Claro que já ouviu falar que pode ser ele causando
essa onda atual de calor. Mas ele nem se instalou ainda, imagine! Apenas se
aproximando. Esse doido que pode se estender até o verão do ano que vem chega
para bagunçar, molhar mais, secar outros, esquentar as panelas dos oceanos.
Chapeuzinho, óculos escuros,
filtro solar, alguma sombrinha, água, água. Abaixo gravatas, ternos, meias e
muito mais! Como já disse, calor é bom – sem dúvidas, melhor que o frio para o
qual esse nosso tropical país não é nem um pouco preparado. Mas nesse momento e
pelo que sabemos só piorando daqui em diante, precisa ser observado
especialmente pelas ciências, todas, inclusive as que lidam com comportamento
humano. Como registrei no artigo passado “Tá todo mundolouco. E não é ôba” imagine só o que cabeças quentes podem fazer
acontecer por aí.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista,
consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no
Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na
Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n