Sábado, 23 de dezembro de 2023 - 08h10
Consegui. Conseguimos. Chegou! Chegamos, aliás.
Que bom. Difícil ter ainda o que falar após mais um ano tão cheio de desafios,
e até como se todos não fossem exatamente assim. Temos de olhar para o futuro
nessa época, mas o engraçado é que o passado é que fica martelando. Será para
nos prevenir de errar novamente?
Tenho recebido verdadeiros tratados psicológicos sobre a
“dezembrite”, que seria um estado de espirito que nos abateria no último mês do
ano. Ok, vou ficar aguardando os tratados sobre a “janeirite”, “feveirite” e
assim por diante, porque pensa se todo mês a gente não tem bons motivos de
alteração para o bem ou mal. Janeiro tem o verão, para quem pode curtir; e as
contas – IPTU, IPVA, outros is e aumentos - anuais. Fevereiro! Tem Carnaval,
tem Carnaval. E depois das fantasias a pressão novamente para se pensar no
futuro, aquele mesmo que, admita, acaba esquecido logo após as promessas e
planos que a gente sempre faz no final do ano, e que voltam a nos assombrar.
Todo mês carrega suas características.
Mas essa coisa de balanço de final de ano é que é mesmo
perturbadora, mais ainda com o passar do tempo, quando vamos acumulando o
histórico do que já passamos, enfrentamos, conquistamos, nos safamos,
desistimos, nos ferramos, levantamos e sacudimos a poeira dando a volta por
cima, sofremos – e aí sentimos se tínhamos ou não razão - , ou tantas coisas
que festejamos, o que devemos mesmo fazer a cada conquista, sem qualquer culpa.
Nos últimos dias parece até que quem (sempre muito curiosa
sobre quem ou o que é que organiza essa fábrica na nossa cabeça) comanda meus
sonhos noturnos está querendo que eu escreva uma autobiografia tantos flashes
têm passado como um cineminha, uma série cheia de temporadas, lembranças. Anda
bem legal dormir. O roteiro de cada noite/capítulo se mistura, fazendo lembrar
até o excepcional formato da série This is Us, que vai e que vem, explica aqui
o que aconteceu lá. Embora no meu caso não haja tantos protagonistas, ou filhos
e gerações. Eu sou sempre a condutora. O formato é que desencadeia, por isso
dou como exemplo. Se amei demais, de menos. Se fui fiel demais, e fui – o que
pouco ou de nada valeu. O vácuo intrigante de certos rompimentos. Os momentos
equilibristas sem rede de proteção. Quantas vezes precisei ser forte mais do que
era; aprender a renascer, mudar a estrada por obstáculos, percorrer caminhos
mais longos.
O estranho é que não tem tristeza, nem acordo me sentindo
diferente. Não sinto nenhum problema em ter revisto até partes bem difíceis.
Sem arrependimentos. Ao contrário, a sensação é boa, de vitória por ter tanto
para contar, viva. Vem sendo como abrir um arquivo, rever álbuns de fotos,
espiar o Google Fotos. Já foi. Já passou. Consegui. Conseguimos, aliás, porque
imagino que você também tenha um bom livro da vida. Fico curiosa em saber como
você lida com esse momento.
Fechando a temporada deste ano, não posso deixar de
agradecer a companhia de todos, muitos, a força de cada recado, bilhete,
curtida, comentário, resposta aos artigos e também o apoio à batalha que alguns
conhecem e acompanham. Vamos todos sonhar, sim, com um mundo melhor, com
liberdade, em paz, com espíritos de luz que nos protejam da insanidade, seja
ela vinda dos poderosos ou dos que tentam justamente bloquear o futuro dos
outros porque não conseguem nem ver a saída para o seu próprio.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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