Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Marli Gonçalves

Desmanchando no ar, pisando em ovos.


 
Por Marli Gonçalves


As estruturas se abalam. As certezas se desfazem. Se fosse ontem talvez ainda desse até para dizer que está tudo bem, que não é nada, que isso vai passar logo, que é só reflexo da eleição, reeleição, culpa do FHC ou da Costela de Adão, arrumar um ou dois dados sobre como diminuiu o número de miseráveis no Brasil. Mas hoje não dá mais. Não dá mais para brincar com o assunto, relevá-lo. O que já não era lá muito sólido se desmancha, e ninguém sabe como é que vai tapar esse buraco. Ninguém, temo dizer. As horas passam, avançam. Parece que há uma bomba-relógio programada, mas não aparece quem saiba desarmá-la, conheça a senha, quem saiba se corta o fio azul ou o vermelho. O tique-taque está cercado de curiosos querendo meter a mão. Perigo, perigo - diria o robozinho.

A coisa toda efervescente agora vem de baciada, de montinhos, não é mais isolada, é todo dia, toda hora, uma facada, uma novidade dispensável, uma surpresa desagradável, uma revelação atordoante, uma delação premiada, combinada, preparada, apontada, fogo! - e o fato é que o inferno astral do Brasil se adianta célere. Se a gente pudesse fazer igual na novela e ficar escutando atrás das portas todos os murmurinhos que se formam, será que poderíamos fazer alguma coisa? Juntar algumas pontas desencapadas? Achar alguma tese com cabeça, corpo e membros?

Precisamos das mágicas no absurdo, como diria o Lobão. Mas até esse agora está ocupado agitando massas, pegou gosto pela coisa, só não consegue juntar todos os ingredientes. Até para fazer coxinhas é preciso descascar e amassar bastante batata.

"...Chove lá fora e pode ser a gota dágua para o pote até aqui de mágoa. De muito gorda a porca já não anda/ De muito usada a faca já não corta/ Como é difícil, pai, abrir a porta/ Essa palavra presa na garganta/Esse pileque homérico no mundo/De que adianta ter boa vontade/Mesmo calado o peito, resta a cuca"... O Chico está por aí disfarçando, talvez cantarolando em alguma rua europeia, em contato com o noticiário, já que agora todo dia somos manchete internacional. Parece que o mundo quer acompanhar bem de perto os rolos para dar bem risada na nossa cara, daquela empáfia de anos atrás, com seus cabelos de marolinha.

Como se ninguém tivesse responsabilidade pelos fatos, chegamos aqui na areia movediça, quase no fundo de um poço de onde pode sair um pré-sal, mas alguém tem de ir lá buscar; para isso precisa trabalhar, ser líder, e esse líder precisa nascer.
Sempre achei que essa história de ter dois presidentes, um oficial e outro volitando ao redor, não ia dar certo. Mas não imaginei que até aí o vidro fosse partir e tão rápido. Fogo amigo incendeia, é ainda mais inflamável quando se aproxima do aumento da gasolina, dos impostos, dos cortes, dos apertos, das greves, das promessas sociais esquecidas e metas descumpridas.

Há uma imensa luta pelo poder sendo gestada de forma intestina já que não há útero que suporte tantos chutes como os que estão sendo dados aqui fora, tantos bebezões querendo mamar, encontrando apenas uma mãe ranheta, sempre irritada, brava, cheia de marra e birra, fazendo beiço, pisando duro.

Somos espectadores. Somos atores e roteiristas. As nuvens cada hora formam um desenho e a luz incide sobre algo criando novos ângulos e visões. Neste teatro, a peça é interativa, e estamos sendo chamados para subir ao palco, ou mesmo opinar de onde estivermos. Se quiser ser espontâneo, participar, falar da plateia, será bem-vindo. Levanta, não fica sentado, pede o microfone, chame as luzes dos holofotes para si. Faremos um jogral. Chama todo mundo.

Vamos tentar fazer uma apresentação inesquecível, impecável, orgulhosa e bem-humorada. No final seremos aplaudidos de pé.

São Paulo. 2015. Ninguém queria estar vendo isso.


Marli Gonçalves é jornalista -- - Abram-se as cortinas. Brasil! Mostra tua cara. Quero ver quem paga. Pra gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim.

E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br

Tenho um blog, Marli Gonçalves http://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Uns patetas e trapalhões

Uns patetas e trapalhões

Os nossos patetas e trapalhões não são em nada divertidos como o trio e o quarteto de outrora que tanto nos alegravam. Embora possamos rir desses ta

O coringa bomba e a semana difícil

O coringa bomba e a semana difícil

Já não bastasse a semana que já vinha estranha aqui e no mundo, de repente mais surpresa, boom!, o homem vestido meio que de coringa se explode, não

Quer apostar?

Quer apostar?

Pode apostar que tem alguém apostando alguma coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que tudo virou isso ou aquilo,

Línguas. Línguas soltas por aí

Línguas. Línguas soltas por aí

Impressionante o estrago que uma língua solta batendo nos dentes, consciente ou distraída, malvada ou engraçadinha, pode fazer. Em épocas eleitorais

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)