Sábado, 4 de fevereiro de 2023 - 08h25
Dias quentes, fervidos, ferventes, fervorosos,
agitados. Precisamos justamente de um refresco; por favor, como conseguir?
Ainda irão demorar nessa toada de justificativas, enganos, verdades, mentiras,
idas e vindas. Agora até um robô entrou na parada: duvido que ele saiba das
coisas que fizemos os verões passados.
O bafo quente do verão que entra pela janela precede
tempestades que a tudo alagam e a gente assiste, dia após dia, o terror de
agitados rodos jogando a água para fora de casas e locais esquecidos. Córregos
que transbordam sugando carros, casas, vidas. O choro doído das perdas de vidas
inteiras de trabalho, esforços e prestações. Sabemos de árvores malcuidadas e
constantemente cheias de lixo em suas raízes que despencam nos fins de tarde às
dezenas, desverdejando ainda mais as paisagens já pobres das grandes cidades. A
repetição é cruel, e tudo é muito próximo, real. Administrações municipais e
estaduais se explicam através de notas, promessas, investigações das quais
nunca mais teremos notícia e que devem se acumular empilhadas em algum arquivo
por aí. Tudo vira rodapé de página, notícia de canto, cara brava de
apresentador de tevê com comentário ácido. Quem se importa?
Os olhos se voltam, sim, para as tragédias. Lá longe,
passam os corpos frágeis e desmilinguidos, mostrando até os ossos dos yanomamis
dizimados por fome, pela contaminação dos garimpos, pela desatenção. E não só
com essa etnia, mas com muitas outras que vão se apresentando, e não é hoje. A
desgraça dos guaranis, as invasões de terras, o suicídio de seus jovens, o
alcoolismo que abate. As meninas grávidas, a malária, o isolamento. Tudo se
mistura na passagem do tempo sem alegria, inseguro, dominado.
Os povos originários, as minorias, todos agora ganharam
ministérios das questões, encabeçados por aplaudidas personalidades, que sempre
foi mais fácil criar cargos, conselhos, espaços e reuniões, muitas, do que
objetivamente resolvê-las. Na linguagem atual, os corpos – indígenas, negros,
trans, mulheres e mais - ocupam o poder – simbolicamente, mas poderemos ter
soluções que se apressem?
Muito falatório e agora, depois da balbúrdia de 8 de
janeiro, mais ainda na busca de punição aos responsáveis, seres esquisitos que
nas manhãs ainda estamos vendo sendo conduzidos em camburões para se explicarem,
como se isso fosse possível. Os maiorais entram e saem pela porta da frente, e
continuam por aí disseminando, formando grupos da discórdia, e aparecem as
conspirações e atrapalhadas tentativas de golpe, que chamam a atenção para o
perigo que vivemos e que tanto pressentimos nos últimos anos. Aliás, muito
admira que a palavra golpe ainda não tenha sido ungida a algum patamar, tantos
são os que nascem, não só na política. Na vida digital, nos aplicativos
amorosos, nos descalabros financeiros que atingem milhões de pessoas, bilhões
de reais, nos roubam sossego. Nos roubam o precioso tempo.
O novo governo chegou, já faz mais de mês. Até tenta
consertar malfeitos antigos, mas eles não param de surgir, exigir medidas,
recursos, e para tudo é necessário negociar com as mesmas enferrujadas e
divididas estruturas de sempre, legislatura após legislatura. O sistema. Não
bastasse, o novo que não é novo, recomeça com seus velhos discursos, diz e se
contradiz, muitas vezes na imposição de uma outra história, a tal da narrativa,
a mais manipulada das palavras quando se refere à política.
Verão, veremos algum tempo bom, alguma moda divertida, ou
seremos ainda encharcados não de suor, mas de lágrimas de mais perdas
impactantes de forma que não sabemos nem bem como explicar, como a de Glória
Maria?
Será que precisaremos perguntar como nos refrescar a esse
novo monstro, o ChatGPT, que vem sendo cantado em verso e prosa, inteligência
artificial, e que se grife continuamente isso: artificial?
Ok. Tentei, mas ele está doidinho da Silva e tem tanta
gente – fora me perguntar umas cinco vezes se sou “humana” - fazendo isso no
mundo, com alguma solicitação, que não consegui. Entrei numa fila. Fica, então,
para uma próxima. Embora seja paulistana, detesto filas, qualquer fila, e muito
menos essa agora onde nem ao menos vou ter com quem conversar para me distrair.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n