Sábado, 21 de maio de 2022 - 11h42
O feminismo ganhando o que mais precisa, divulgação e entendimento
de sua simplicidade e importância na força da ação e reação feminina. Está uma
delícia. Todos os dias temos visto manifestações – algumas até bem engraçadas –
de mulheres brasileiras revoltadas e resolvendo a situação com seus
companheiros de forma inusitada: expondo o “gajo” nas redes. Na tevê, a reação
das oprimidas faz sucesso e ensina de várias formas que há solução.
A primeira é não se calar, e o quanto antes. É uma que
“vira” onça diante do motel onde está sendo traída, e filma tudo. A outra que
gruda um cartaz no carro do companheiro traidor dando conselhos e inclusive
apoiando, vejam só, a amante, pedindo respeito a ela também. Isso se espalha,
viraliza. A sororidade se destaca mostrada com sucesso em personagens de
novelas, como a Maria chamada de Bruaca, de Pantanal, reagindo ao entender a
situação vivida durante toda uma vida ao lado de um homem horrível, machista,
grosso, nocivo, tóxico, ao qual venerava até descobrir que, inclusive, o tal
manteria outra família.
Em um país onde impera a desigualdade, os riscos e
violência, e a ignorância tenta a cada dia botar mais as manguinhas de fora, é
reconfortante assistir a matérias e matérias repercutindo a opinião de mulheres
sobre como estão dando a volta por cima. Ou como estão entendendo muito bem o
recado de que sempre chega a hora do “Basta!”. E que esse ponto final poderá
salvar suas próprias vidas. O Brasil ainda ocupa o quinto país do mundo em
mortes violentas de mulheres segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos – dado vergonhoso e que infelizmente se mantém, apenas
piorado, ao longo dos últimos anos.
Em 2020 e 2021 houve uma severa explosão dos casos de
violência contra a mulher e feminicídios – o assassinato de mulheres e meninas
por questões de gênero, ou seja, exclusivamente em função do menosprezo ou
discriminação à condição feminina. A pandemia de Covid, que obrigou ao
isolamento, tornou a situação ainda mais calamitosa, especialmente entre as
mulheres negras e mais pobres, mas atingindo brusca e diretamente a todas.
As denúncias recebidas pelo Disque Denúncia de São Paulo
cresceram 35% em março deste ano, comparando com o mesmo período do ano
passado. Em março deste ano foram 57 denúncias, contra 42 em março de 2021.
Apenas no primeiro trimestre de 2022, foram 140 relatos de feminicídio no
Estado - mais de um por dia!
Nos últimos anos o país tem piorado em muitas questões,
particularmente algumas ligadas ao comportamento humano e liberdade individual,
ou ligadas às minorias. Todos os dias ouvimos relatos de racismo, manifestações
de violência contra as mulheres e contra a população LBGTQIA+.
Uma situação que não envolve apenas as mulheres, em geral
atacadas por pessoas próximas, seus companheiros ou ex-companheiros, mas também
seus filhos que muitas vezes presenciam esses atos. Atos e números desleais que
precisam ser estancados, e luta para a qual todas as mulheres, maioria da
população, deve assumir seu papel. Em todos os canais, inclusive políticos.
Daí a importância de divulgar vitórias, as reais e mesmo
essas das ficção de filmes e novelas, de casos em redes sociais, muitas vezes a
melhor forma de traduzir rapidamente essa batalha e seu significado. Repito: o
feminismo é força, precisa ser compreendido em toda sua plenitude, e por homens
e mulheres. Não diz respeito só a um ou a outro. São alicerces fundamentais para
o futuro. Acredito firmemente que a humanidade não poderá ser assim chamada
enquanto a mulher for tratada de forma inferior. Feminismo é prática diária.
Presente em nossas vidas.
Não há de se ter vergonha. É preciso pedir ajuda. Por a
boca no mundo. Como vítima dessa violência que deixa marcas profundas por toda
uma vida, cada caso, cada morte que sei, é como se novamente a ferida fosse em
minha pele, e me faz comemorar hoje conseguir ter ficado viva para contar a
história, entender exatamente como ela se constrói, a dor que causa.
Me posicionar na frente dessa batalha, implorando pelo fim
dessa guerra tão particular e odiosa.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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