Sábado, 1 de fevereiro de 2025 - 08h00
Mais ou menos. Fevereiro chegou, e não vai me
dizer que também não está surpreso. Mesmo com seus 31 arrastados dias, janeiro
passou ventando e chovendo e trazendo, além de muitas contas a pagar,
acontecimentos que, vou te contar, já arrepiaram até os mais otimistas, creio.
E se fevereiro é conhecido como o mês do Carnaval, neste
ano a coisa andou para março, junto com as águas, e levando o refrão do País
Tropical, de Jorge Benjor, pouco mais adiante. Mas, cá entre nós, isso por aqui
não significa nada, uma vez que qualquer assunto quando entra no nosso
território é carnavalizado, por tradição. Por aqui, Brasil, País dos Carnavais,
incluindo todas as tradições que a festa carrega, religiosas ou pagãs, tem
festa o ano inteiro.
Temos, aliás, o hábito das fantasias não necessariamente
nas roupas, mas nos sonhos que cativamos, nos devaneios de nossa imaginação, e
nos desejos. Questão de sobrevivência e saúde mental. Do jeito que a maré
avança, fugir da realidade construindo realidades paralelas é uma forma de se
salvar.
Nas redes sociais, por exemplo, podemos assistir,
literalmente de camarote, a criação de vidas inteiras de fantasia. Fora isso, o
uso da inteligência artificial vem proporcionando que encontremos,
principalmente nas imagens, criações digitais absolutamente fantásticas e
inimagináveis de serem produzidas rapidamente fora dos pincéis e telas dos
artistas. Gatos gigantescos passeando pelas cidades, seres que se movem ao
nosso olhar, velhas senhoras interagindo com cores e formas, estátuas que criam
vida, surpreendentes propagandas em 3D projetadas nos prédios das maiores
cidades do mundo. Um infinito de possibilidades salta aos olhos – basta abrir o
Instagram e elas lá estarão, muitas vezes nos distraindo até do que mesmo fomos
fazer ali. Parece não haver mais limites para essas fantasias que chegam a
ressuscitar mortos, devolvendo o presente, às vezes um futuro. O Pelé outro dia
mesmo apareceu mandando mensagem para o Neymar. E olha que não faz muito nos
surpreendíamos com simples holografias.
Voltando às nossas carnavalizações, este ano o Carnaval
oficial cai de 1º a 4 de março. Por aqui em São Paulo há alguns anos o
Carnaval, na forma de blocos de rua, ocupa a cidade bem antes, e continua
inclusive no fim de semana seguinte. Este ano terá o recorde de 767 blocos
inscritos e cerca de 860 desfiles. Fora os que saem por livre e espontânea
liberdade. No Rio de Janeiro, que é o Rio, serão 482 blocos. E ainda tem,
claro, as Escolas de Samba, os Sambódromos e, creio, ainda, alguns daqueles
saudosos Bailes nos salões de Clubes. Sempre adorei ver o Gala Gay na tevê, mas
agora se espalha pelas ruas, atrás dos trios elétricos.
Tudo parece ter mudado a ordem, onde era o “túmulo do
samba”. Antes, nessa época, a cidade aqui virava um deserto, mais até do que no
Natal e Ano Novo. Havia quase um êxodo pelas estradas e aeroportos. Nas ruas
não se via sequer uma pluminha, um paetê, um brilhinho que fosse, fora da área
das agremiações. Hoje? Tem até quem primeiro aproveite os blocos e depois
viaje. Todos os lugares - ruas, ônibus, metrô - ficam completamente coloridos,
todas as idades, corpos e desejos, repletos de anjos, asinhas, diabinhos e
diabinhas, sereias, piratas, unicórnios com seus arco-íris, xuxas e paquitas e
paquitos, memes ambulantes, críticas sociais. E pelados e peladas, muita nudez,
carne de fora. A sempre censurada nudez, a nudez transformadora para os foliões
e foliãs, tanto quando a possibilidade de se travestir do que quiser.
Já estão elegendo as fantasias do ano e, claro, a de
Fernanda Torres recebendo o Oscar de melhor atriz por “Ainda Estou Aqui”, que
torcemos seja anunciado em pleno Carnaval, dia 2, está à frente. Também veremos
muitos trumps, e só assim pra a gente se divertir um pouco com esse assunto tão
cabuloso.
Fevereiro, sem carnaval, tem carnaval. No país tropical.
Que tudo transcorra em paz e com respeito. Não é não.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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