Sábado, 21 de setembro de 2024 - 08h00
A guerra sempre parece estar bem próxima, e não é
de hoje. Quer dizer, mais uma, porque elas nunca se encerram. Mas o bafo mais
quente se acentua na nossa nuca a cada dia, em guerras particulares, muito além
das muitas que estão no tabuleiro, e que parecem apenas esperar sua vez para
entrar em cena.
Terror, terrorismo, terroristas, as palavras e seus
sentidos estão sempre sendo atualizadas, quem é um, quem é outro, os papeis se
alternam de forma exponencial neste século. Esses dias se alteraram de forma mais
clara ainda, e também os perigos de morte. Suas formas. Acrescente a balas
perdidas, acidentes, estar na hora errada no lugar errado. Já não são mais
terroristas suicidas paramentados com bombas em volta do corpo, em suas
cinturas, prestes a encontrar virgens prometidas e Allah. São equipamentos
digitais envenenados que explodem por ação remota de seus inimigos, aos quais
pouco importa quem estará por perto. Uma ordem. Um OK. E o ao redor vai aos
ares.
Quanto temíamos o tal botão vermelho, ou telefone vermelho,
ou a tal pasta que o presidente mais poderoso do planeta carrega onde quer que
vá e daria uma ordem mortal caso sentisse ameaça! Na imaginação, haveria um
boom enorme, e uma bomba atômica eclodiria. Na realidade ninguém mais sabe qual
exatamente pode ser essa ordem. De qual inteligência poderá vir, se artificial,
humana, ou ambas em conluio.
A morte agora é um fantasma, veste outras roupas, usa a
tecnologia (mais uma vez) para o mal. Os fantasmas invisíveis se multiplicam,
pequeninos, espalhados, e ninguém mais pode garantir onde estão localizados,
nem sequer como estão camuflados. Podem estar em letras impressas nas redes. Em
ordens vindas dos que se autointitulam líderes, sejam autoridades, poderosos
dirigentes de nações, milícias, chefes de organizações criminosas, hackers,
disseminadores de mentiras, fabricantes de realidades inexistentes que ampliam
em busca de seguidores, nas esquinas. Até nos aplicativos de relacionamento
pode ser encontrada sem querer.
A natureza vem se rebelando, e também nos declara guerra,
com o ar dos ventos e furacões; o fogo das queimadas; a água das inundações, ou
da sua ausência, e ela é vida; a terra que treme, balançando, abrindo brechas,
engolindo o que encontrar sobre ela.
É guerra feia. Claro, até porque nenhuma guerra pode ser
bonita, e em todas embora apelem que a fazem por justiça, em qualquer dos seus
lados serão dizimados inocentes, até porque também a Justiça muda seu sentido
como camaleão. Já não se consegue discernir onde está a razão. Seus motivos se
embaralham com a parcialidade, seja religiosa, política, busca de mostrar a
força que dissemina ditaduras, o controle, o poder financeiro, a imposição do
medo. Quem apoia quem, quem se dói se outro é atacado.
Como ficarmos e vivermos tranquilos, mesmo que longe dos
bombardeios diários que sabemos ao longe, mas no mesmo planeta? Ou mais perto,
sabendo que em um país vizinho são mantidos em cárcere e torturados centenas de
pessoas, sob um inquietante silêncio de “democratas”? Que nas casas e em nossas
ruas mulheres são perseguidas e mortas por quem alega amar demais, ter posse de
suas vidas. Onde não se pode nem atravessar uma rua sem temer encontrar um
veículo com um assassino desatinado na direção, com pressa.
Não há mais primavera árabe. Ali para aqueles lados a
guerra corre solta, agora. Risca os céus. Explode nas mãos de quem porta
equipamentos que podem estar dirigidos à distância. Hoje, amanhã e depois,
sabe-se lá até quando. E até se um dia acabará nos envolvendo a todos do
planeta dada sua escalada.
Até a mais linda das estações chega transtornada com as
emergências climáticas que mudam o roteiro inclusive do nascimento das flores
que a caracteriza. Pensamos em energia elétrica, mas de onde a tiraremos e a
que preço? Já pensam novamente em mudar nossos horários, uma hora a mais,
depois a menos, até o verão que se aproxima com fortes expectativas escaldantes.
Seguimos. É mesmo uma guerra esse dia a dia.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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