Sábado, 25 de maio de 2024 - 08h00
Socorro! Atenção! Ocorrem infiltrações de assuntos importantíssimos
enquanto estamos compenetrados de olho nas tragédias das enchentes que assolam
o Rio Grande do Sul. Envolvem temas caros ao futuro da Nação que pode ser pega
distraída e que quando for ver se surpreenderá com um tom verde-oliva. Há agora
um assunto passando batido, e é sobre Educação, a base de qualquer
desenvolvimento.
Estou chocada. Sentei, arrasada, pensando no horror e
desconhecimento que acontece em muitas cabeças, ainda certamente fruto daqueles
anos que passamos, na ditadura, e há pouco governado por gente que adora e
busca uniformizar tudo, não com o verde das florestas, mas com o verde militar,
o verde-oliva de fardas e ordens. Tinha acabado de ouvir a entrevista de uma
mãe lá de Taubaté tecendo inacreditáveis loas à tal escola cívico-militar;
aliás, tão “boa”, mas tão boa, que justamente ali onde funcionava já foi até
cancelado há dez meses. Ela disse textualmente: “os militares ajudam na regra,
na conduta, na disciplina”. Vi ali, além do despreparo, da fantasia militar,
alguém delegando a educação das crianças. O mais engraçado é que ela avaliou
algo de uma criança conhecida, não era seu filho, não ficou claro se os tinha e
onde estudavam.
Não pensam em nada que preste para melhorar de verdade a
combalida educação nas escolas estaduais, que só piora. Só ideias mirabolantes.
Essa semana foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo, debaixo de um
confusão danada, com pancadaria e prisões, o projeto de escolas cívico-militares
apresentado pelo governador Tarcísio de Freitas, que sempre tenta agradar ao
seu meio político, bolsonaristas de carteirinha. Prevê a contratação de
militares aposentados, que inclusive ganhariam mais do que os professores, para
a “disciplina nas escolas”. O “bicho-papão”. Traduzindo: a volta dos temidos
bedéis que muitos de nós conhecemos bem e que encaramos em nossa formação no
período terrível que passamos por longos anos no século passado. Significa,
entre outras, a obrigação de cantar o Hino Nacional todos os dias, entrar e
sair em fila. Sim, isso é disciplina para eles. Me arrepio em lembrar da minha
adolescência, mesmo que em escola privada éramos obrigados a nos perfilar para
cantar o Hino com mãozinha no peito, juntos no pátio. E ai de quem desse um
pio!
A Advocacia Geral da União, AGU, já disse em parecer ao
Supremo Tribunal Federal, STF, que o modelo das escolas cívico-militares é
inconstitucional, logo quando consultada sobre o Paraná, justamente de onde vem
o atual secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder. Outros Estados, como
Minas Gerais e Santa Catarina, aliás, as mantêm, também na desobediência, a
qual São Paulo agora – vejam só - pretende aderir. Ano eleitoral realmente
sempre nos traz surpresas. Infiltrações.
Esse programa será, acreditem, responsabilidade tanto da
Secretaria de Educação, quanto da de Segurança Pública. Pretende atingir
escolas públicas de regiões mais carentes onde, digamos, pretendem melhorar a
“disciplina” e juram que isso pode aumentar a eficiência do ensino, indo contra
o parecer dos mais conceituados estudiosos e especialistas da área, todos
absolutamente contrários à sua aplicação seja onde for. Polêmica para mais de
metro.
Ah, só para finalizar. O secretário da Educação garante que
os militares estarão desarmados. UFA!!!
Estamos vivendo um momento muito difícil no país, ainda
dividido, e com o atual governo batendo cabeça em várias direções e em algumas
conseguindo o feito de ampliar mais essa maldita e burra divisão. Divisão
incentivada com a presença nefasta de uma espécie de espírito do ex-presidente
tomando cabeças e corpos, ameaçando a paz e a democracia. Além das constantes
ameaças à nossa estabilidade, inteligência e ao futuro das gerações.
Sempre tudo pode ficar muito pior quando estamos meio que
distraídos, como agora.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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