Sábado, 27 de janeiro de 2024 - 08h05
Influenciadores, influenciadoras, influencers.
São notícia todos os dias. Para o bem e para o mal. Virou quase uma praga:
cuidado que você pode ir tomar banho e encontrar um deles dentro do seu box
indicando algum shampoo ou sabonete. Olhou no espelho? Repara que deve ter
alguma por perto mostrando um creminho que faz maravilhas. Abriu o armário?
Pronto: olha a tendência, com forte acento no ê.
Os influenciadores, influencers, são um fenômeno
impressionante dos últimos anos de redes sociais digitais e que a cada dia se
amplia em todos os aspectos da vida. Não tem como escapar, embora cada pessoa,
parece, tenha os seus, de “estimação”. A cada dia surgem outros, em todos os
cantos, em todos os assuntos. Nomes alçados a celebridades e que a gente nunca
ouviria falar até que apareçam. Ultimamente, inclusive, nas páginas policiais
quando maravilhados com ganhos incríveis se atolam em crimes, como jogos de
azar, rifas falsas, golpes amorosos.
Uma nova categoria humana, baseada sempre em números, de
seguidores, curtidas, apoio de empresas, vida pessoal mostrada como reality,
dancinhas. Se espalham atraindo e reunindo pessoas em torno delas, em geral
tudo iniciado com um golpe de sorte, alguma viralização, esse cavalo bravo que
ninguém sabe bem exatamente de onde vem, como se monta ou como se doma.
Muitos já são conhecidos, como artistas, jornalistas,
cozinheiros, BBBs e quetais, mas uma grande parte dos que ouvimos falar surgem
quase que do nada. Pior é quando sabemos que existiam só quando morrem ou se
metem em alguma encrenca, o que anda sendo bem comum.
Você tem algum de estimação? Quem é que o influencia?
Influência é poder, e o poder sempre pode ser muito perigoso, principalmente
quando descamba para a política, para ser dono de alguma verdade, como vimos
muito por aqui nos últimos tempos causando controvérsias e crises com a
disseminação de mentiras, como as da questão das vacinas e que tantas vítimas
ainda podem estar causando.
Muitos mostram mundos irreais, para a maioria inacessíveis
vidas de luxo. Em qualquer evento é comum encontrar alguns e algumas carregando
consigo a tiracolo assessores e fotógrafos para que se registrem como se
naturais fossem atos absolutamente programados. Pagos. Amo, inclusive, a nova
expressão incorporada: “recebidinhos”. Presentes, brindes, etc. que amealham
com os números que exibem em posts regiamente pagos, que juram ser de produtos
que realmente usam.
Já surgem influencers de tudo. Assim como na internet onde
se acha qualquer coisa, esse impressionante tudo. Basta procurar. Você acha; e
vai encontrar também alguém especialista que procurará nortear seu entendimento
sobre o assunto, por mais local e restrito que seja. Uma forma de comunicação
que merece a atenção e uma análise mais aprofundada porque acabam se tornando
veículos de transformação, seguidos por legiões.
Não consigo, no entanto, deixar de lembrar, pensar e
associar perigos nos influenciadores e suas “flautas” ao incrível e triste
conto dos Irmãos Grimm, sobre a lenda do estranho flautista que surgiu na
Alemanha, Cidade de Hamelin, em 1284, e que mais precisamente em 26 de junho
daquele ano teria sumido com 130 crianças que o teriam seguido hipnotizados
pelo som da flauta, pela floresta, de onde nunca mais apareceram. O homem,
assim, se vingava da cidade onde havia sido contratado para acabar com uma infestação
de ratos que a tudo destruía. O flautista assim o fez, mas como não quiseram
lhe pagar o combinado pelo serviço, usou o mesmo estratagema com as crianças,
aproveitando quando todos estavam na igreja. Teriam sobrado, segundo a mesma
lenda, apenas três crianças: uma era surda e não ouviu a música, outra era cega
e não conseguiu ver para onde todas iam; uma terceira, com problemas nas pernas
não teria conseguido acompanhar a turma.
Há muitas versões, inclusive de como houve mesmo uma
inspiração real para os Irmãos Grimm escreverem muitos séculos depois o famoso
conto sobre essa terrível história. As crianças poderiam ter morrido com a
peste negra, transmitida por ratos, e o flautista seria apenas a personificação
da morte. Com a extrema pobreza, há outras versões, inclusive a de que as
crianças teriam sido mandadas embora pelas suas próprias famílias, para que
fugissem da fome. A mais terrível: o flautista poderia ter sido um pedófilo.
Como a lenda persiste até hoje, a rua onde as crianças teriam sido vistas pela
última vez é chamada Bungelosenstrasse (rua sem barulho). Leva esse nome por
que ali ainda seria proibido tocar música ou dançar.
Daí lembrar que é sempre bom ver e ouvir com atenção que
apito tocam os influencers que seguimos encantados.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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