Sábado, 11 de março de 2023 - 09h50
As joias são belas, enormes, vistosas, e brilham
muito no conjunto esplendoroso repleto de diamantes em penduricalhos combinando
com brincos, anel e relógio. Parece avaliado em três milhões de euros, mas
especialistas juram que vale muito mais, pela marca, qualidade, outras
comparações. Chegaram displicentes, jogadas nas costas, na mochila, de um
descuidado aspone que tentava passar assoviando alegremente e deixou até
quebrar as pernas do cavalinho dourado que acompanhava o mimo.
Ainda não estou totalmente convencida se esse aspone sabia
exatamente o que portava, tal desleixo. Se tudo era tão bonitinho e certo
porque é que não foi o próprio ministro quem trouxe o presentinho em suas
coisas? O que mais de bem significativo assim passou pela portinha nesses últimos
anos? Lembra tanto a forma das quadrilhas de tráfico internacional de drogas
que a gente fica confusa. O muambeiros contratados seguem juntos, mas somente
um é denunciado. Enquanto esse coitado se esgoela para se librar do rolo, e os
policiais e controladores se aglomeram em volta dele, os outros passam.
De tudo o que a gente já viu ou ouviu esses últimos dias
esta é uma das histórias mais mal contadas de nosso tempo, embora com toda a
lógica quando se pensa nos envolvidos, desde o país de origem das joias, a
Arábia Saudita, o caminho delas até aqui, as outras caixas que agora sabemos
passaram, lindas, leves e soltas pela porta, os “mulas”, e para quem se
destinariam. Um dos pontos principais é que embora esse imbróglio brilhante
milionário já tenha mais de um ano antes de ser descoberto pela imprensa,
aquela pessoa que seria – deveria ser, ao menos - sua principal interessada,
Michelle Bolsonaro, garante publicamente que nada sabia delas. Vejam só!
Confiável ela não é, mas porque diria que não sabia, se isso compromete muito e
ainda mais o ex-presidente, o marido que deixou abandonado lá no auto exílio
americano passeando de chinelos em supermercados e lojas de departamento
baratas? Que alguma coisa esquisita acontece nesse casal, também é óbvio. Fora
as rusgas com a familícia completa, os Filhos do Capitão.
Quase todo dia, e creio que outros jornalistas até bem mais
atuantes na política também devem receber a mesma pergunta por onde passam,
seja no elevador, no supermercado, no meio da rua, quanto encontro alguém –
pessoas simples, amigos de outras áreas – a pergunta sempre é se acho que Jair
Bolsonaro será preso; quando isso vai acontecer, e qual será sua pena. A
experiência faz com que responda que, infelizmente, não sei, mas acrescento que
duvido-ó. O mais difícil é explicar essa previsão – depois de saber e enumerar
tantos malfeitos, crimes, ordens absurdas e suas consequências mortais
cometidas pelo nome que adoraria poder esquecer para sempre. Tento: “É a
política nacional que permite, com seus eternos acertos, chavões, acordos,
tomaládácá, chantagens, subornos, imoralidade, falta de preparo de quadros,
corrupção, impunidade” ... E muito mais diria ou listaria se tivesse algumas
horas a mais e não precisasse cuidar da vida, e que não está fácil para
ninguém.
O caso das joias agora é só mais um detalhe, entre tantos
acompanhados ao longo de mais de 45 anos como jornalista, e claro que não estou
falando só dessa desgraça mais recente que se abateu sobre nós, mas também dos
anos de ditadura, a lenta chegada na democracia que duramente tenta sobreviver
a ferro e fogo girando igual bambolê, repetindo suas falhas e lideranças, as
respostas não dadas.
Agora nos restará esmiuçar essas reluzentes evidências, que
todos os diplomatas garantem ser de valor inimaginável mesmo em troca de
agrados entre mandatários. Normalmente são presentes bem mais baratos e
representativos da cultura de cada país. Apareceu uma lista que enumera que o
serzinho ganhou 618 bonés, 44 relógios, 74 facas, 448 camisas de futebol (e só
usava as falsas) e, ironia, 245 máscaras de proteção facial (viriam com
seringas de vacina?), entre muitos outros mimos, estes listados em seu acervo
pessoal. Justo para onde tentou muitas vezes resgatar a aprendida e
chiquetérrima caixinha de veludo, inclusive dois dias antes de sua partida para
a Terra do São Nunca, de onde dificilmente sairá tão cedo. 19.470 itens
oficiais.
Mas esqueceram dos tantos outros mimos feitos pelos árabes
e que ainda saberemos o que agradecem tão efusivamente, e pelo visto durante os
quatro anos, inclusive um fuzil e uma pistola, valiosos, com seu nome grafado,
que o ex-presidente ganhou diretamente, em 2019, das mãos de um príncipe da
família real.
Ele bateu o pé e queria mesmo é o conjunto do colar.
Afinal, os diamantes são eternos, não é mesmo?
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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