Sábado, 28 de maio de 2022 - 09h30
Junho sempre é mês especial, até porque nele inclusive fecho mais
uma dessas voltas ao redor do Sol na vida louca. É mês que marca muitas festas
populares, muitos santos reverenciados, promessas, arrasta-pés que levam a um
estado de embriaguez e cheio de corações cata-enamorados espalhados nas
vitrines. Mas...
Como anda difícil simplesmente ser feliz, viver a vida,
quando se é sensível. Quase metade do ano já se foi e, teimosos, nos mantemos
esperançosos neste imenso país tropical, nessa gigantesca aldeia global, onde
creio que, espaço tem, deve haver algum cantinho desconhecido onde ainda seja
possível manter-se alheio à realidade assoladora e aos fatos inquietantes
próximos ou istantes.
Aiaiai, quanto mais a gente reza, mais o nosso coração
sofre com as notícias que chegam de todos os lados, uma sobrepujando a outra,
como se todas elas fossem naturais e devêssemos apenas seguir em frente.
A imagem daquele homem assassinado sufocado por gás dentro
de um carro de polícia no Sergipe seguirá aterrorizando nossos sonhos e ficará
esperando a Justiça onde quer que se vá. Assim como daquele que teve seu
pescoço apertado por coturnos longos minutos se debatendo. Tudo registrado,
provado, visto. Real. Se repete.
A malvadeza, se pode dizer, atinge a todos: especialmente
os negros, as mulheres, as crianças, os povos originários que vivem naquele
cantinho onde havia paz e uma comunidade. Ou nas comunidades emanadas da
miséria que recebem a visita do que seria a lei, e o saldo são corpos
cravejados contados em números flutuantes.
E ainda tem guerra, melhor, guerras, muitas, as reais e as
que travamos diariamente contra nossos próprios medos. As crianças mortas por
balas que zunem e elas não tinham a menor culpa de haver uma indústria que
movimenta toda a política internacional, dos Senhores das Armas, e que também
aqui, infelizmente, encontra guarida e incentivo.
A loucura piorada que atinge a todos de uma forma ou outra,
seja os jovens desesperançados que compram as armas e matam, sempre pensando
numa vingança que os dominou durante a vida social com a qual não souberam
lidar, seja a que libera a maldade em atos inexplicáveis, como essa recente
maldição das madrastas – uma que joga o enteado pela janela durante uma briga;
a outra que trama envenenar os seus, mata uma, dois meses depois tenta acabar
com o outro, e da mesma forma, ainda por cima fazendo sofrer, por
envenenamento. Eram pessoas acima de suspeita, sabemos depois.
Pessoas acima de suspeita estão sempre muito perto de nós.
E as que suspeitávamos e tentamos tanto avisar, sem sermos ouvidos, do perigo
que representavam, estão aí, aqui, ali, inclusive mandando, governando vários
povos, como o nosso, e cercando-se sempre de outros seres piores ainda.
Ah, mas a história diz que sempre foi assim. Não. Não tem
de ser. Tanta modernidade, tecnologia, vem servindo para o quê? A comunicação
que acreditávamos ampliada nos divide, e sem que possamos nem reagir já que são
como fantasmas, muitas vezes criados apenas para o terror, para a mentira, para
espalhar o ódio.
É junho. Sabia de uma coisa? Eu não sabia. Junho sempre tem
chuva de meteoros. Nenhum mês começa no mesmo dia da semana que junho em
qualquer ano. E todos os anos termina no mesmo dia da semana que termina março.
Começa no mesmo dia que fevereiro do ano que vem. Nele, a floração das rosas
atinge seu máximo e junho já foi chamado de Rosa Lua. Não faz diferença, não
muda nossa vida, mas é leve.
Aqui, comemoramos três populares santos: Santo Antônio, São
Pedro, São João. Vamos ver bandeirinhas coloridas espalhadas, vai ter quentão,
danças de roda e a quadrilha, mas a boa, aquela que nos junta batendo palmas,
cantando, dançando, tentando nos embriagar para esquecer que, como já disse,
repito: aiaiai, quanto mais a gente reza, mais o nosso coração sofre com as notícias
que chegam de todos os lados, uma sobrepujando a outra, como se todas elas
fossem naturais e devêssemos apenas seguir em frente.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n