Sábado, 1 de junho de 2024 - 08h00
A bichice está mesmo na Ordem do Dia depois que o
Papa Francisco, em reunião fechada, usou o termo, em italiano, teria reclamado
que já tinha muito “frociaggine” entre os sacerdotes. A tradução, maricas, ou
bichice, esta, uma palavra bem mais bonitinha, hão de concordar. Ainda bem que
a bichice está solta essa semana em São Paulo, com todo seu frescor.
São Paulo esta semana está bem “frociaggine”, e isso deixa
a cidade mais bonita, colorida, alegre, divertida e diversa. Tem Parada do
Orgulho Gay no domingo, a 28ª aliás, o que já deveria ser suficiente para todos
já estarem cansados de aceitar a liberdade de gênero, levar a sério o
movimento, prestar atenção às pautas que apresentam. Chega de armário. Chega de
preconceito. Chega de violência. Respeitem a bichice nos que a tem ou não, e
que muitos até por medo deixam bem recolhida até poderem extravasar na Avenida
Paulista.
Vi a primeira delas. Hoje reúnem quatro milhões que colorem
as ruas. Mas na primeira, lá atrás, eram poucos participantes ainda, e havia dificuldade
até para desfraldar e carregar a enorme bandeira do arco-íris, símbolo que até
hoje serpenteia na avenida durante o percurso. Acompanho desde sempre, quase
todos esses anos, mesmo que mais de longe – tenho problemas de pânico com
multidões, fico fora da aglomeração – mas faço questão de ir ver passar aquele
séquito dançante, com suas fantasias criativas, a união em torno do amor, esse
sim, pode-se dizer, livre. Um desfile imperdível. Atrás de cada trio elétrico,
e estes repletos com famosos, famosinhos ou mais ou menos, vem o cordão
variado, dançante, pulante. Um evento do qual participam famílias inteiras. Uma
das maiores paradas, senão a maior, do mundo.
E se bichice se refere geralmente só aos homossexuais
masculinos, lá vão se encontrar muitas outras formas de bichices, digamos
assim, e também com o tempo, perceptivo e visível aumento de casais formados
por mulheres, antes apareciam em desvantagem. Na verdade, lá tem de um tudo,
tanto quanto as letras do movimento, quase um alfabeto, LGBTQIAP+. Sendo que
esse mais já abarca o que vier pela frente até que seja nomeado. As letras?
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers, Intersexo, Assexuais,
Pansexuais.
Como este ano tem eleições, o tema acompanha: “Basta de
Negligência e Retrocesso no Legislativo - Vote consciente por direitos da
população LGBT+”. Um clamor contra legislaturas conservadoras em todas as
esferas. Tem até um pedido da organização para que seja usado o verde e amarelo
da bandeira nacional, numa espécie de retomada, a exemplo da apresentada por
Madonna e Pablo Vittar recentemente. Isso eu achei esquisito, vamos ver. A
marca é uma só: o arco-íris. Não deveria ser dividida.
Desde muito jovem sempre tive contato com todas as letras
desse alfabeto, o que me faz conhecedora do que todos trazem de melhor, o que
passam, suas angústias e dores, muito além da alegria que externamente
demonstram. Apelidada desde então com um simpático epíteto de mulher-bicha,
convivi e convivo com todas, todos, “todes”, acompanhando justamente suas conquistas.
Sou amiga das divas, muitas que ainda resistem e contam suas histórias.
Guerreio ao lado deles, inclusive com a honra de ter conseguido, para um amigo
amado, a vitória na primeira disputa, 1993, com os seguros-saúde para o
tratamento da Aids, com a garra da advogada Rosana Chiavassa, hoje uma das
maiores especialistas na área de defesa dos consumidores contra os constantes
abusos das companhias. Muitas vidas foram salvas; esse orgulho levo por toda a
minha vida.
Muitos não sabem exatamente o que foi para tudo isso chegar
até aqui. Longe de mim qualquer polêmica com o Papa, de quem gosto muito e que
sempre disse respeitar a liberdade de gênero, mesmo parecendo não concordar
totalmente. Foi uma gafe, deslize chato, para o qual teve que correr a pedir
desculpas, e mundialmente. Coincidência ter acontecido justamente nessa semana
em que São Paulo recebe o mundo “frociaggine” – a parada é um dos maiores e
mais rentáveis eventos turísticos da cidade.
Tem mesmo muita bichice por aqui, ali e lá. Ainda bem. O
arco-íris pede passagem.
___________________________
MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
___________________________
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo
Os nossos patetas e trapalhões não são em nada divertidos como o trio e o quarteto de outrora que tanto nos alegravam. Embora possamos rir desses ta
O coringa bomba e a semana difícil
Já não bastasse a semana que já vinha estranha aqui e no mundo, de repente mais surpresa, boom!, o homem vestido meio que de coringa se explode, não
Pode apostar que tem alguém apostando alguma coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que tudo virou isso ou aquilo,
Línguas. Línguas soltas por aí
Impressionante o estrago que uma língua solta batendo nos dentes, consciente ou distraída, malvada ou engraçadinha, pode fazer. Em épocas eleitorais