Sábado, 18 de fevereiro de 2023 - 10h33
Pois não é que já se passaram mais de mil noites
e dias desse pesadelo da pandemia, que agora marca o antes e depois de todas as
coisas? Estamos praticamente completando três anos daquele dia terrível em que
o mundo praticamente fechou suas portas e nós fomos obrigados a nos confinar.
Todos somos Sherazades.
Tudo mudou nessas mais de Mil e Uma Noites e Dias que não
juntam, infelizmente, material para obra bonita de histórias poéticas que se
desenrolam como fios de um novelo, embora o assunto continue ainda prendendo
nossa atenção de alguma forma dias e noites, como no conto persa. Todos nós
acabamos sendo como Sherazades buscando manter nossas vidas todas as noites e
todos os dias nesse tempo que apenas agora de alguma forma começa a se
dissipar. Mas nunca mais seremos iguais a quando tudo começou. Nossas vidas,
hábitos e até as manias foram absurdamente transformadas.
Chegou mais um ano e desta vez não houve cepa nova ou fato
que cancelasse ou proibisse o Carnaval que novamente ocupa as ruas e avenidas –
o último, o grito, as aglomerações, as fantasias e máscaras bonitas ocorreu de
21 a 25 de fevereiro de 2020, quando ouvíamos os ecos de uma doença estranha lá
longe, na China. Parecia que o pesadelo jamais se espalharia e que seria apenas
dali a imagem tenebrosa das cidades quase fantasmas, isoladas, desertas. Mas
logo no dia 26, uma Quarta-feira de Cinzas, pierrôs e colombinas já se
preocupavam: o primeiro caso era conhecido no Brasil, e a gente já começava a
rever mentalmente tudo o que fez no Carnaval e a temer a contaminação. O terror
total, global, foi comunicado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, em 11 de
março daquele ano, quando a palavra pandemia se tornou clara em todas as suas
letras, necessidades e ordens.
A realidade que vivemos nesse tempo foi ainda pior no
Brasil, onde no balanço geral somos recordistas de perdas, ao lado dos Estados
Unidos. Foram quase 700 mil mortes até hoje, e de acordo com números oficiais,
números os quais precisamos desconfiar quando vivemos em meio a negacionistas, problemas
políticos, gente burra, atrasos no desenvolvimento e chegada de vacinas. Essas
que só foram realidade no país, aplicadas, em 17 de janeiro de 2021, e assim
mesmo de forma precária, embora renda ao Governador de então, João Doria, um de
seus feitos mais positivos, em associação com o Instituto Butantan, que
desenvolveu a CoronaVac.
É preciso situar todas essas datas para avivar a memória,
para ajudar o entendimento desse tempo difícil, estranhamente exatos 100 anos
depois de outra pandemia ocorrida, século passado, mas desta vez ainda mais
desoladora e transformadora, e que marcará várias gerações. Nossos olhos,
contudo, não esquecerão, creio, nunca, as cenas dos hospitais, da falta de
oxigênio, o pouco caso de autoridades, as covas a céu aberto. Nossa memória não
esquecerá tantas vidas perdidas, amigos, familiares, histórias interrompidas.
Todas as relações foram afetadas. Nossos corpos foram
afetados, nossa saúde mental abalada e de uma forma que ainda saberemos qual
foi essa extensão, embora já a pressentimos. Nos ensinaram como lavar as mãos,
formas de higiene. Nos orientaram a usar máscaras que antes estranhávamos ver
como rotina em alguns países. O home office, trabalho em casa, foi estabelecido
e agora há várias empresas que precisam até ameaçar para que seus funcionários
voltem aos seus postos de trabalho, sob risco de demissão.
No mundo online nacional, onde muitos ainda não têm
qualquer acesso ao mundo digital, equipamentos, nem mesmo ao sinal da internet,
houve baques profundos na Educação. A economia mundial abalada, e nesse tempo
soma-se uma guerra que diziam breve, mais tragédias ambientais, a fúria da
natureza fazendo queimar, chover, tremer, e também matar de montes, como na
pandemia.
A Ciência, aqui tão desprezada, pelo menos, retomou um
lugar de importância e o desenvolvimento de imunizantes mais eficazes nos ajuda
agora a começar a, enfim, tirar a fantasia de Sherazades, trocá-las por outras
neste reencontro - justamente e simbolicamente novamente no Carnaval.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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