Sábado, 4 de março de 2023 - 07h14
Isso é notícia. De um lado, legal, porque
incentiva mais e mais outras mulheres, mas teremos chegado realmente a algum
lugar somente quando isso tudo for naturalizado, o que ainda nos parece
infelizmente distante e embora tenhamos dado alguns passos bem largos nas
últimas décadas. Mas também demos muitos outros passinhos, devagar,
devagarinho. Sempre tem quem ainda ponha um pé na frente para o tropeço; algum
grupo reacionário se juntando para perturbar e retroceder.
Já há quase 50 anos acompanho esse assunto e não só por ser
mulher, mas mulher, jornalista, feminista e com todas as características do
contra para quem ainda não entendeu a história: diferente, solteira e sem
filhos por opção, o que ainda, acreditem, causa furor. Que enfrentou desde
muito cedo toda a sorte do que ocorre com a mulher brasileira, inclusive o
horror da violência doméstica, da qual não é possível esquecer ou até mesmo
muitas vezes se recuperar.
Violência esta que em pleno 2023 se apresenta a toda e
todos nós com números cada vez mais vergonhosos e crescentes. Parecemos estar
todos os dias iniciando e me surpreendo sempre quando ainda listamos as
palavras inclusão, igualdade, segurança, respeito, entre as mais mais de um
tudo que nós, mulheres, precisamos conquistar para todas.
Essa semana mesmo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
divulgou uma pesquisa alarmante, o que já intuíamos ao seguir o noticiário
diário. Um terço das mulheres brasileiras já sofreu violência física ou sexual
de parceiros. Houve crescimento de todas as formas de violência contra mulher
no último ano de 2022 (pior até do que durante a pandemia, que já foi bem
punk). Mais de 18 milhões de mulheres vítimas de violência no último ano. São
mais de 50 mil vítimas por dia. Ao todo, 28,9% das mulheres, ou 18,6 milhões,
sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano, a maior prevalência
já verificada na série histórica (desde 2017 a pesquisa se repete de dois em
dois anos). A cada segundo uma mulher sofreu assédio aqui no país.
Isso tudo já é péssimo, mas piora quando se sabe que em
quase metade dos casos de agressão, 45% - e aí você põe espancamento, chutes,
socos, pontapés e outras amarguras - as vítimas não tomaram nenhuma atitude,
seja por medo de represália ou por achar que não era algo tão grave. O famoso
foi só desta vez, vai passar, ele não é assim todo dia, não vai fazer mais,
prometeu e pediu desculpas ... Por vergonha ou medo. Ou uma outra coisa
qualquer, que não é fácil, gente, principalmente para as que têm filhos, sob
ameaça. Filhos, tantos deles, que com o aumento da violência acabam sendo
testemunhas da morte da própria mãe, o que certamente os marcará por toda a
vida. Agora até vem sendo discutida a liberação de um valor destinado aos
órfãos dos feminicídios, tanto se tornaram visíveis. Só no primeiro semestre do
ano passado, 699 mulheres foram mortas. Conte e some outro tanto no segundo
semestre que não vai ser muito diferente, e pode até ter piorado.
Estamos em grande perigo. Nessa área aí está tudo piorando,
muito e rapidamente, para o lado das mulheres: essas mortes, a violência,
assédio, estupros. Grupos misóginos se juntando virtualmente para conspirar e
atacar. Alguma coisa está acontecendo, e bem errada, e é bom que se aproveite
esse agora tão festejado Dia da Mulher para discutir e resolver isso o quanto
antes. Não adiantam só flores e chocolates; o dia 8 de Março é de luta, coisa
séria, que o mercado publicitário busca envolver e absorver com suas sugestões
de consumo sem dar em troca a divulgação das necessidades urgentes.
Do meu ponto de vista, estamos tratando aqui de
comportamento cultural e costumes - daí a necessidade de agirmos rápido para
interromper essa realidade. Isso tudo vem sendo construído como uma espécie de
oposição, como reação raivosa ao que nós mulheres temos conseguido e onde
muitas vezes chegamos e nos mostramos até mais competentes. Aos espaços que
abrimos e à liberdade maior que conhecemos, inclusive a sexual.
Que não deixemos passar mais tantos dias meses, anos,
minutos. Nem mais um segundo.
___________________________
MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
___________________________
Instagram:
https://www.instagram.com/marligo/
Blog
Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No
Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No
Twitter: https://twitter.com/MarliGo
Os nossos patetas e trapalhões não são em nada divertidos como o trio e o quarteto de outrora que tanto nos alegravam. Embora possamos rir desses ta
O coringa bomba e a semana difícil
Já não bastasse a semana que já vinha estranha aqui e no mundo, de repente mais surpresa, boom!, o homem vestido meio que de coringa se explode, não
Pode apostar que tem alguém apostando alguma coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que tudo virou isso ou aquilo,
Línguas. Línguas soltas por aí
Impressionante o estrago que uma língua solta batendo nos dentes, consciente ou distraída, malvada ou engraçadinha, pode fazer. Em épocas eleitorais