Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Marli Gonçalves

Nossas margens de erro particulares


Nossas margens de erro particulares - Gente de Opinião

Marli Gonçalves

Tempos duros esses. Tempos até bem chatos. Até que o processo eleitoral passe parece que estamos numa arena nos digladiando, e o pior é não ter uma variante para a decisão. Ou se é um ou se é outro. Não me admira que, na primeira rodadas das eleições, 28 milhões de brasileiros não tenham querido ser nem um nem outro, nem aqueles outros, numa espécie de revolução silenciosa e à qual não vi ser dada atenção especial, o que me deixa muito cabreira. Porque me parece ser o fato mais preciso do momento, um urgh, uma vaia enorme, milhões de desesperanças, desinteresses, desinformação e beijinhos no ombro que se juntaram, nulos ou brancos. Aí não tem nem teve margem de erro.

A semana foi boa para quem consegue manter o humor, os gozadores e gaiatos adoráveis que fazem do limão mais que limonada, e alguns até vivem disso. A margem de erro foi o assunto predileto. Foto de Araci de Almeida, legenda: Gisele Bündchen, de acordo com margem de erro. Hoje é sexta, mas também pode ser quinta ou quarta, de acordo com a margem de erro. Daí por diante. Dei muita risada.

Creio que poderei colaborar com entendimento maior da raça humana, a partir da tal margem de erro. Depois do sucesso de minhas perguntas não respondidas do artigo passado (E se?...) resolvi me dedicar um pouco a esse assunto, para mais ou para menos, o que pode significar, pode significar...nada! Ou tudo. Depende da pesquisa, da região, da sua cara de pau, do seu índice de sinceridade.

Pensei o quanto a tal margem de erro é a cara do Brasil, o país que não é - o país do Futuro que não chega. Pensa! Tudo anda dentro da margem de erro. Por exemplo, agora, você pode perguntar sossegado, para qualquer mulher, a idade dela. Dentro da margem de erro, dependendo de quem pergunta e para o quê, de qual censo/senso, ela vai responder. No caso, em geral, o "pesquisador" poderá ele próprio classificar a resposta dada como ótima, boa, regular, ruim ou péssima. A propósito, péssima, palavrinha forte, carregada de sentido inquestionável. E que o atual governo, neste momento, está tomando como carimbo numa taxa de 22%. São 22% de gente com opinião, que vê e sente na pele a realidade, que não está no parquinho de diversões, nem no Imaginário Mundo das Estrelas.

Mas voltando ao nosso assunto e à possibilidade de uso variado da margem de erro que parece até coisa inventada aqui. Ela traz em si um "pode ser também", que a livra de julgamentos, como se fosse uma afirmação feita antes de um problema. Traz uma elasticidade. Nada é totalmente não ou sim, há uma variação, até condizível com o quanto somos diversificados na vida real.

Se ocorrer, eu disse; se não, de acordo com a margem de erro, tudo bem, era previsto. Corresponderia a uma precaução. Convivemos com a tal margem de erro nossa vida inteira. Onde pode ter alguma variação, oscilação, ela estará lá. Dá para usar para idade, peso (de acordo com a margem de erro você pode ser gordo ou baixo, dependendo do ângulo, do enfoque) ou como está nos parecendo a cada dia mais patente, margens largas sendo usadas para questões éticas. Vide mensalão, e outros escandalozitos que cantam em nossas janelas.

De acordo com a margem de erro, variando para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita, eles não sabiam de nada, não viram, não perceberam, não têm nada com isso. Ficam indignados, surpresos, vão tomar todas as providências. E, de acordo com a margem de erro, podem até esquecer o assunto.

Assim será até que outra palavra ou expressão entre na moda. Não é que delator, X-9, alcaguete, traíra, agora virou colaborador premiado? Não é que parlamentares, governantes, diretores de estatal, pegos com a boca bem na botija, gente que trabalha com o meu, o seu, o nosso dinheiro, agora virou "agente público", e não tem nem mais nome nos noticiários? Repara.

De acordo com a margem de erro, variando para cima, no Nordeste, e para baixo, Sul/Sudeste, estão tentando promover no país uma cisão jamais vista, nem quando não tínhamos eleições, muito menos pesquisas.

Disso eu tenho 100% de certeza.

São Paulo, Salvador da Pátria, 2014

Marli Gonçalves é jornalista -  Vou começar a tentar pagar minhas contas com essa tal margem de erro. O problema é que se passa a data, os juros não são só de 2 por cento para cima ou para baixo.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Uns patetas e trapalhões

Uns patetas e trapalhões

Os nossos patetas e trapalhões não são em nada divertidos como o trio e o quarteto de outrora que tanto nos alegravam. Embora possamos rir desses ta

O coringa bomba e a semana difícil

O coringa bomba e a semana difícil

Já não bastasse a semana que já vinha estranha aqui e no mundo, de repente mais surpresa, boom!, o homem vestido meio que de coringa se explode, não

Quer apostar?

Quer apostar?

Pode apostar que tem alguém apostando alguma coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que tudo virou isso ou aquilo,

Línguas. Línguas soltas por aí

Línguas. Línguas soltas por aí

Impressionante o estrago que uma língua solta batendo nos dentes, consciente ou distraída, malvada ou engraçadinha, pode fazer. Em épocas eleitorais

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)