Sábado, 25 de fevereiro de 2023 - 08h19
Vendo? Ficou sabendo
por onde? Ver a gente vê, mas quem tem o poder de mudar? Os anos passam, e nós,
jornalistas, passamos, observamos, inclusive digo até que somos atingidos
também pelos locais e situações. Quase que antevemos o que acontecerá como se fossemos
todos videntes, e nem um pouco otimistas. Mas jornalistas não têm poderes
mágicos.
Seremos nós, jornalistas, os
culpados, agora, pelas desgraças? Devíamos ter nos acorrentado às encostas,
construído barreiras, usado megafones para tirar as pessoas daquelas áreas de
risco?
Infelizmente não é de hoje que
essa história de dizer que imprensa é Quarto Poder se distancia da realidade. E
cada vez mais esse poder e prestígio se esvai, atacado, dividido e esfacelado
como vem sendo nos últimos anos. Jornalistas cruel e severamente atacados por
passaralhos e fisicamente, moralmente, e até mortos, quando, principalmente
isolados por aí, tentam denunciar poderosos no interior desses rincões
nacionais. O Brasil está sabendo?
Aliás, que Brasil é esse capaz
de atacar jornalistas que tentam cumprir sua missão, coisa jurada para quem
escolheu a profissão? Quer dizer, então, como li em vários comentários
(tristemente até vindos de outros jornalistas talvez invejosos) que muitos são
“culpados” porque frequentam há muito as praias do Litoral Norte, têm casas
ali, rodam por aquelas estradas? Acham mesmo que são eles que poderiam ter
evitado mais essa tragédia que assistimos? Que revolta sinto em saber do
violento ataque sofrido pelos experientes repórteres do Estadão, Renata Cafardo
e Tiago Queiroz, que documentavam o estrago também na área e casas dos
poderosos de Maresias.
Ah, então não foi o descaso
das autoridades, as estradas que derretem, a falta de fiscalização, a corrupção
generalizada, a forte especulação imobiliária sem qualquer controle efetivo,
todo o descuido com a condição que obrigou e empurrou os mais pobres a praticamente
cavarem suas casas nas áreas de proteção, entre outros tantos motivos? Foi
culpa dos jornalistas que veraneiam por ali? Ninguém mais via? Nunca foi
denunciado? Onde esse povo anda se informando? Só se for nas inundações de fake
news, essas que mais do que tudo estão tragicamente afetando nossas relações e
comunicações, fazendo desmoronar a confiança na informação séria.
Não me digam que vocês nunca
tinham ouvido falar dessa situação geral que só esperava ocasião para eclodir,
inclusive como há 55 anos e que destruiu Caraguatatuba. Eu mesma tinha nove
anos e nunca esqueci daquelas cenas. Há muito não vou à região, mas houve época
em que todo final de semana passava por ali a caminho de Ilhabela e já me
espantava com o que ocorria, com as construções atravessando os caminhos e
estradas, derrubando tudo. Nos anos 80, pelo Jornal da Tarde, cobri a “pedra
fundamental” do que seria hoje a gigante e rica Riviera de São Lourenço, em
Bertioga. Lembro bem da estrada que só foi completada para que esse “progresso”
chegasse até lá, e em que condições ela atravessava a bela área de cachoeiras.
Estrada que mesmo em dias de Sol percorríamos temerosos de suas curvas e
condições.
A cada dia há menos imprensa,
menos espaço para jornalistas poderem cumprir sua função de forma mais
eficiente. Menos proteção a todos nós. Sempre achei engraçado o quanto ouço
“Você devia fazer uma reportagem” sobre isso ou aquilo, “Só você pode fazer
isso”. Ok. Agradeço o elogio e a lembrança de que sempre fui boa e corajosa
repórter, enfrentei desafios, homens, rebeliões, e até chefias. Legal. Para
onde? Quem vai publicar? Me defender judicialmente, se necessário? Lembrem que
poderosos sempre tentam amordaçar a verdade. Sem advogados e recursos, assim
como muitos de nós, especialmente os que, como eu, experientes sim, mas sem o
chão de uma grande redação de tevê ou de um dos poucos grandes jornais que
ainda resistem, e onde poderia haver maior repercussão. Sobra até a estes
cobrir o depois, a ocorrência, e mesmo assim ainda superficialmente: são muito
poucos os jornalistas no front e acabam precisando sempre beber em fontes
oficiais.
São tantas as coisas que
vemos! Que vejo. Vocês não têm ideia da frustração de daqui de meu cantinho
escrever alertando sobre vários temas e, em troca, receber ameaças, xingamentos
e acusações de esquerdista, para citar o mínimo.
Tudo está saltando aos olhos:
a violência, o resultado do armamento indiscriminado, a ignorância, os
conchavos políticos mantendo a ferro e fogo seus lugares, a reação às liberdades
que vem sendo conquistadas pelas minorias e até pela maioria, as mulheres. As
ameaças de uma geopolítica mundial arbitrária e beligerante. Os jornalistas bem
que há muito alertam, depois não os culpem; até porque sobra mesmo é para eles,
essas grandes coberturas são muito árduas e desgastantes, já estamos vendo
muitos não se conterem e chorarem ao vivo e em cores.
O Brasil, o mundo, está vendo?
Será mesmo? Respeite. A imprensa mostra o que pode. Denuncia. Mas amanhã sempre
tem mais, e mais, para correr atrás, e acaba mesmo correndo atrás do que já
aconteceu.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista,
consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no
Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na
Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n