Sábado, 10 de setembro de 2022 - 09h48
Não há como não lembrar da rainha Elizabeth eternamente com suas
roupas elegantes e coloridas – dizem, para que nunca fosse perdida em meio à
multidão – adornadas com broches maravilhosos, joias de pedrarias mais do que
preciosas. Não há como não lembrar, na mesma semana de sua morte, do vergonhoso
apelo do presidente a si próprio puxando o lastimável coro de imbrochável em
meio aos festejos dos 200 anos da Independência do Brasil. Um pequeno e
significativo jogo de palavras.
Imbrochável. Deus está vendo, hein? Ops, God save the Queen, agora God save the King
Charles III. Que devemos todas as homenagens à mais longeva rainha da
História, Elizabeth II, à mulher que soube honrar durante 70 anos seu reinado
desde a sua tenra juventude, abdicando de um tanto incalculável de coisas e
prazeres, entre eles, alguns até frugais e que de vez em quando ela recordava.
Semana triste e emblemática para o mundo todo essa morte.
Do outro lado, na mesma semana, mais essa inominável
grossura – mais uma de uma lista gigantesca – do presidente do Brasil conflita
ainda mais, bate de frente, com a maioria da população do país, as mulheres que
ele tanto tenta alcançar e cada vez mais de nós se distancia. E se distancia
com o asco que, garanto, seu atos trazem às mulheres dignas de assim o serem.
Mas são os broches da rainha o tema, e que já estão sendo
lembrados. Eu, que amo broches desde sempre, e quem me conhece pode atestar, a
cada aparição sua esticava o olho, procurava ver com qual ela estava, cada um
mais belo e significativo que outro, que usou durante toda sua vida como um
canal de comunicação, informação, símbolo, homenagem, sentimento. Agora,
informam, são 98 deles ao todo, heranças, de parentes, presentes que colecionou
pessoalmente durante toda a vida, muitos assinados por renomados artífices e
casas de joalheria. São além das joias da Coroa.
Seus broches transmitiam mensagens de amor, reinado,
história, continuidade, gerando até estudos sobre isso. Em sua última aparição
pública, estava usando o sapphire chrysanthemum brooch, que sempre adornava
suas roupas em tons azuis ou pasteis. Foi com ele, inclusive, que recebeu a
nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, ao empossá-la na rápida
cerimônia no castelo da família real na Escócia, sua última aparição pública e
mesmo local onde, dois dias depois, repousou. Seu cansaço já era evidente e
nesse dia todos notaram o enorme roxo em suas mãos, provavelmente veias por
onde eram aplicados os remédios para aplacar suas dores.
Moda absoluta durante anos, os broches foram caindo em
desuso ou sendo substituídos. Para os mais jovens, em geral também para
passarem mensagens radicais, por bottons, ou pelos pins, aqueles alfinetes
menores que são espetados nas roupas e muito usados em solenidades, inclusive
por altas autoridades masculinas, bandeirinhas de seus países ou instituições.
Também sempre serviram como propaganda de marcas e produtos. Todo mundo tem ou
lembra de ter tido ou visto um dia uma jaqueta ou um colete com uma profusão
deles. Ambos, pins e bottons, comuns no mundo do rock e das artes, por exemplo.
Destaco, de minha coleção, em especial dois que quando usamos, eu ou o meu
irmão, causam certo furor. Criados por Yoko Ono, um, a partir da imagem de seu
mamilo, outro, de imagem frontal de sua vagina. São discretos, beges, mas
olhares atentos sempre os percebem, impressionante.
Embora não sejam joias, muito ao contrário, acredito
mesmo ter ao todo mais broches do que a rainha, também lembrada pelos chapéus
de formas e cores sensacionais, marca da nobreza britânica, desfilados nos
grandes eventos que nos acostumamos a acompanhar nas cabeças coroadas, de
ontem, hoje e de amanhã, como na da Rainha Consorte, muita sorte, aliás,
Camilla Parker Bowles, a eterna rival da Princesa Diana.
Grandes mulheres da política mundial, provavelmente até
inspiradas na rainha, os usam em seus trajes, ternos, vestidos, ou prendendo-os
aos lenços de seda. Repare. Broches são versáteis. Com eles, além de mensagens
que podem ser até do humor do dia, em segundos se produz uma roupa nova a partir
de qualquer tecido, prende ali, fecha aqui. Também, aprendam, podem salvar em
ocasiões difíceis, como o rompimento de um botão ou costura, em cima de uma
manchinha persistente. Mil e uma utilidades.
Bom poder – mesmo que em meio à tristeza - em uma mesma
semana lembrar das grandes mulheres que mudam o mundo, esquecendo o machismo e
a grosseria de alguns homens que o atrasam, e que temos um tão perto aqui, que
necessita alardear seus visíveis problemas sexuais e o desrespeito em suas
considerações misóginas.
Pessoalmente para mim foi bom especialmente lembrar
daquele dia em 1968 em que vi a rainha passar ao lado do grande amor de sua
vida, o príncipe consorte, muita sorte, Phillips, Duque de Edimburgo, quando da
visita ao Brasil, e em São Paulo, saindo correndo da escola, me postando
pequenina em meio à multidão que esperava vê-la ali numa esquina da Avenida
Cidade Jardim. Retrato bem guardado na memória.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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