Sábado, 14 de janeiro de 2023 - 11h34
Os novos terroristas brasileiros deste século,
ainda bem que se filmam e fotografam, porque se a gente contasse sem estas
imagens seria difícil acreditar, até parece piada. Seria cômico se não fosse
trágico. Mas a vontade de rir deles acaba com a visão da destruição que
promoveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro deste novo ano. Idosos,
gordinhos, feios, classe média, aposentados, maioria branca, deselegantes,
uniformizados com bandeiras nacionais que improvisam como decoração e adereços,
lenços, cangas, capinhas de super-heróis prestes a levantar voo
O olhar alucinado, a impressão até que uma baba escorre de
suas bocas, uma ignorância sem limites, o traço comum entre as centenas de
“terroristas”, como foram imediatamente taxados, e que invadiram e depredaram
tudo o que encontraram pela frente na Praça dos Três Poderes. Alegres, sem
qualquer compromisso a não ser o grave ataque em massa às instituições do poder
e democráticas, buscavam – em um passeio turístico até a Capital Federal - um
Golpe de Estado, como fica cada vez mais claro com o andar das investigações.
Com organização, financiamento e comando de cabeças que esperamos nos sejam
entregues imediatamente, foram gestados em “células” – outra piada, porque as
tais células eram em grande maioria ao ar livre em acampamentos diante de
quartéis, com comida, sombra e água fresca. Será que tinham roupa lavada
também? Inclusive, com ajuda de custo.
Com tudo isso tão ao descoberto, durante meses antes e após
a eleição presidencial, outra boa pergunta é como se deixou que essa situação
se mantivesse. Anote aí, são vários detalhes que precisamos saber as respostas.
Ao contrário dos terroristas da luta armada atuando na
clandestinidade contra a ditadura militar, em geral jovens idealistas,
intelectuais, alguns estudiosos e já respeitados em suas áreas de atuação, os
atuais, de acordo com a relação oficial dos presos, são na maioria pessoas que
ouviram o passarinho cantar alguma coisa no ar, desinformados por suas próprias
redes de mentiras, reunindo donas de casa, senhoras e senhores moralistas
capazes de levar criancinhas vestidinhas de verde e amarelo como escudo, como
se fossem a um passeio dominical. Crianças, aliás, com as quais deveremos ter
cuidado com o passar dos anos. Quando crescerem podem ser inimigas ou, no
mínimo, precisarem de apoio psicológico após se verem em fotos acompanhando os
avós nesse dia de terror.
Ao invés de rifles, muitas bengalas; máscaras? – as comuns
contra a Covid, que muitos ainda acreditam ser mito, antivacinas que demonstram
ser. Claro, há exceções. Muitos foram ao “passeio” municiados com máscaras
antibombas, estacas, estilingues, facas e outras, digamos, ferramentas. Coisas
turísticas, não? - De quem viaja horas em ônibus vindo de várias cidades,
inclusive sem pagar a passagem, ainda ganhando algum, no meio de outros tantos
iguais entoando o Hino Nacional.
A vergonhosa e inesquecível cena do grupo sendo escoltado
por policiais não sai da cabeça. Assim como a surpreendente cena do dia
seguinte, com a desmobilização dos acampamentos e a alegre e organizada entrada
de todos nas dezenas de ônibus rumo à prisão, mas que achavam que estavam indo,
inocentes, lalalalá, de volta para suas casas, e protegidos pelo Exército que
tanto conclamaram. Não é por menos que os bolsonaristas radicais foram
apelidados de minions.
Estou convencida, no entanto, que muitas dessas pessoas não
são totalmente do mal. Acharam um grupo social para chamar de seu, uma ocupação
para suas vidas, talvez solitárias, igual àqueles passeios organizados que
levam pra lá e para cá em vans. Fizeram amigos, turminhas, e como crianças
juntas seguindo o mais diabinho acharam divertido quebrar tudo, fazer arruaças
que nunca devem ter feito. Se esbaldaram. Comportamento de manada é o nome.
Desgarrados. A tal boiada do ministro em ação na realidade. Boi não conhece
arte, limites, monumentos. Levanta poeira. Se atiram em precipícios. Foi o
caso, e agora haverão de ser repreendidos severamente. Que não fiquem só sem a
sobremesa.
Este dia que já passou tristemente para a História nacional
ainda vai muito longe em sua repercussão e investigações, como acompanhamos
boquiabertos que havia claramente em curso – surgem documentos - uma tentativa
de Golpe de Estado envolvendo alguns importantes agentes públicos e
ex-dirigentes nacionais. A massa dessa manobra eram os minions. Esses novos
terroristas munidos de celulares, com os quais pedem ajuda a Ets, usam e abusam
de aplicativos de mensagens em grupo, e que acabaram criando provas contundentes
contra si mesmos, em detalhes, adiantando o serviço dos policiais. Muitos, ao
serem identificados, puxaram suas próprias “capivaras” – muitos condenados,
procurados, corruptos. Uma ficou famosa, Dona Fátima, de Santa Catarina, já
condenada por tráfico de drogas com envolvimento de menores. Liberada em
caráter humanitário por ser idosa, foi ativa no quebra-quebra e nas ameaças
gravadas contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, do prédio que adorou
ajudar a destruir e onde falou aos quatro cantos ter defecado.
Só mais uma observação: contei quase uma centena de
fervorosas notas de repúdio aos atos golpistas, vindos de tudo quanto é tipo de
entidades, instituições, sindicatos, grupos, etceteras, algumas até
surpreendentes. De tão vazias. Me fizeram lembrar uma obra de arte que vi em
uma galeria, um enorme mural construído com muitas notas destas, produzidas e
sem respostas, ao longo dos quatro longos anos de ações e falas do governo –
esse mesmo, o anterior, que construiu e propiciou que chegássemos ao que vimos.
E isso tudo, convenhamos, não tem a menor graça.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n