Sábado, 1 de outubro de 2022 - 06h10
Pensa que acabou? Seja o que for, o que resultar, teremos ainda longos
três meses pela frente para acabar de roer as unhas até o toco, acalmar o
coração, parar de ouvir tantas aleivosias, mentiras e preconceitos, poder
sentir o que é que exatamente vem por aí |
89 dias. 2136 horas. 128.160 segundos. Uma eternidade. Viveremos ainda
mais algumas guerrinhas de nervos daquelas pro bem e pro mal. Até as
posses, chuááá, muita água ainda vai rolar e é difícil prever se
ela, a principal, do presidente da República, será serena, limpa,
transparente, se escoará naturalmente pelo rio da democracia, ou se alguma
pororoca poderá vir nos assustar, com monstros soltos e atiçados. |
Faz tempo, muito tempo, que não respiramos aliviados. E aí que está.
Vamos ter de aguardar mais. Há tanta coisa para se arrumar no país
escangalhado, dividido, raivoso, que só após muito tempo com alguma
acomodação das forças – que costumam mesmo ser díspares - proclamadas
vitoriosas em todo o país, poderemos ter uma leve noção do que exatamente
emergiu das urnas. |
Considerando que o debate para a eleição presidencial tomou para si
boa parte da atenção geral, o resultado da ocupação dos legislativos poderá
ser temerário. Com a eleição do mesmo dos mesmos bem ruinzinhos, chegada dos
até então ainda mais desconhecidos e que vieram no pó da estrada grudados
você bem sabem onde dos majoritários. Podem chegar de paraquedas, surpresos
eles próprios, pelos quocientes eleitorais dos partidos e seus números
jogados como loteria, patinhos na lagoa, cabalísticos, mágicos, ou chutados
qualquer coisa. No Congresso Nacional e nas casas legislativas dos Estados
fica a panela onde se cozinham os acordos, as leis, as verbas, as ideias, os
ingredientes, as ameaças e liberações. O freio ou o acelerador das mudanças.
Oxalá esse resultado seja ao menos melhor do que o que está aí, embora a
gente saiba que, infelizmente, sempre pode mesmo piorar, e que o descuido e
desconhecimento dos eleitores sobre essas pessoas faz parte de nossa estranha
formação política. |
Haverá uma reacomodação de terreno – isso será certo. Pedidos de
desculpas entre quem se atacou dentro de um mesmo arco ideológico, para agora
buscar um cantinho, uma lasquinha do vitorioso, alguma nomeação. Muitas
viradas de costas, bananas e traições para os derrotados – algumas que vimos
até logo durante o processo eleitoral. Os barcos vão sendo abandonados nas
margens, à cada pesquisa divulgada. Uns vão fingir que não viram, não
disseram, não pensaram, não conspiraram; os outros vão fingir que acreditam.
No caso, não é varinha de condão, mas a caneta, e que esperamos que seja mais
sofisticada em suas assinaturas pelo menos um pouco mais do que a tal Bic que
suportamos nos últimos quatro anos. |
De acordo com o resultado que sair das urnas, saberemos se haverá, se
demorará, o resgate da bandeira nacional e suas cores, a coitada,
sequestrada. Se a vitória for de um lado mais avermelhado, saber se os outros
tons, mais róseos, digamos assim, serão por eles respeitados, já que
certamente tomaram forte posição e importância nos últimos dias em prol de um
resultado que afastasse o perigo de ruptura e de uma grave e dolorosa crise
institucional. |
Teremos de ter muita paciência e perseverança nas próximas semanas.
Quando saberemos o quanto nos livraremos do circo cercadinho, das
ridículas lives de toda uma turma desprezível, dos robôs da
familícia, do desprezo pela Ciência, da misoginia, do racismo e desrespeito à
liberdade religiosa e de gênero; que sejam desmascarados os pastores
pecadores, os agro e tóxicos, os ministros que ninguém sabe o nome e suas
boiadas e fogo passando destruindo nossas matas. Dos metidos a besta em
paragens onde não tinham posto os pés. Das ameaças de armas, CACs (caçadores
de quê?) e de valentões de cara feia. Se recuperaremos alguma boa imagem
junto à já atordoada comunidade internacional, de quem precisaremos ter apoio
para nos levantarmos. |
Especialmente, apenas nos próximos tempos poderemos sentir se a
oposição, centro e esquerda, enfim amadureceram. Se saberão rever seus graves
erros com pelo menos alguma humildade, aceitando que enfim e ao cabo foram
esses erros que nos levaram ao atual desgoverno de direção. |
Se todos poderão se sentar à mesa para o mais rápido possível
compartilhar seus pratos e intenções para servir aos mais necessitados. Com
respeito, educação e saúde. |
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MARLI
GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo
Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e
na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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