Sábado, 23 de abril de 2022 - 11h08
Nos paraísos artificiais que vivemos, não precisa nem de drogas para
esses efeitos, alguns alucinógenos, outros nem tanto, reais de doer. Drogas – e
das pesadas, batizadas, misturadas com coisa ruim - são essas que nos enfiam
diariamente goela abaixo. Não pode, pode. Decreta-se. Publica no Diário Oficial
e a gente aguenta. Tudo fora da ordem, na desordem, e seja lá mais o que for.
“Trabalhar que é bom, ninguém quer, né?” – meu pai sempre
dizia isso quando via umas situações - e olha que elas não eram nem de perto
parecidas com as que estamos vivendo em realidade, verso, prosa, metaverso,
universo paralelo, supermercado, justiça e bem mais. Faço uma adaptação,
especial: “Protestar na rua contra tudo isso, ninguém quer, né?”.
Me desculpem os carnavalescos, mas se tem coisa que
considero a mais idiota dos últimos tempos foi esse Carnaval artificial, fora
de hora, coisa mais esquisita, decretada, assim como todos os acintes que
vivenciamos. Não, não sou daquelas que detesta carnaval, gosto até dos
bloquinhos, mas tudo tem hora; e a hora não era esta. Ficou uma coisa isolada,
e olha que andei por aí algumas horas pelo menos para ver se encontrava alguém,
podia até ser uma criancinha com algum adereço, fantasia, alguma pluminha,
aquele ar folião. Talvez até mudasse de ideia se encontrasse blocos
espontâneos, fossem pequenos grupinhos. Nada. Aqui em São Paulo a coisa
realmente se concentra na avenida que não é mais avenida, o Sambódromo. Com
alguns ecos. Onde “permitiram”. Não sei no Rio.
A mim, tudo soa falso. “Jeca”, até, se me permitem. Não é
porque estamos saindo de dois anos do horror da pandemia que tinha de
obrigatoriamente ter o que estão chamando de Carnaval, e Carnaval não é. Pior,
vou dizer: estão tentando programar mais outro, para julho. Para satisfazer os
blocos. E eu que sonhei tanto com o dia em que, livres do vírus (o que ainda
não estamos), iríamos às ruas cantar e dançar – na minha cabeça haveria um dia
que isso aconteceria. Não por decreto, como esse ministro da Saúde miserável
anuncia, dando pauladas na pandemia que ainda mata mais de cem pessoas por dia,
e no mundo fica no vai e volta.
Muito louco esse momento, todos os dias, coroados com o
perigoso presidente sem noção fazendo graça/desgraça e troça com a Justiça,
desafiando a Constituição, dando indulto para seu amigo ordinário e que, como
ele, não tem apreço algum pela democracia. Não, o talzinho não foi injustiçado,
nem martirizado, nem preso apenas por ter roubado um pedaço de carne ou
shampoo; nem é miserável – essas coisas sociais, como miséria e o desespero,
não incomodam esse amontoado que temos de chamar de governo e que está louco
para fechar o tempo e continuar nele. Também não é liberdade de expressão
ameaçar ministros e suas famílias, convocar ataques, juntar gente para soltar
fogos no Supremo Tribunal Federal. Acreditem, por favor, seja como for, com os
que estão lá, questionáveis, egocêntricos, mandados, o STF ainda é o último
poste em pé de proteção que temos.
Que 2022 seria um ano difícil, nenhuma novidade. Ano de
eleições, de Copa do Mundo, de consequências pós-pandêmicas, de economia
titubeante e até guerra longe que ecoa aqui. Mas insuportável até para nosso
bem estar psicológico - como anda - não era esperado. Perigoso em seus caminhos
políticos. Ainda temos de aguentar na tevê propaganda de partidos famosos por
sua adesões seja ao que for disputando agora quem é mais... conservador! De
doer. Um diz que é o verdadeiro; o outro diz que é o primeiro, sempre com um
amontoado de afirmações desconexas e gente tão falsa quanto seus cabelos
grudados e o apelo a ver quem é mais reacionário, quem atrai o que há de pior
se criando e procriando celeremente fora do cercadinho.
Viva Baudelaire! Que preguiça! Estão tornando o paraíso
Brasil um pesadelo tal que a nossa reação quando acordados vem sendo jogar a
toalha.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n