Sábado, 27 de agosto de 2022 - 05h49
Foi aberta a temporada oficial das pelejas eleitorais, e ainda além
das nossas muitas pelejas do dia a dia. Agora não adianta nem tentar fugir
porque elas entrarão por todos os canais, os da tevê aberta, de comunicação,
nas redes sociais e os de nossos sentidos. Vamos esbarrar nelas, mesmo tentando
delas se esquivar.
Está no ar. Vão nos aborrecer, fazer torcer por alguns,
ajudar-nos a escolher, e inclusive até nos divertir muito porque lá vem aquele
desfile de gente muito estranha, com nomes e até codinomes, apelidos, anexados
como patentes, religião e profissões, propostas absurdas e algumas ideias
escalafobéticas.
Parece simples, mas não é bem assim. No próximo dia 2 de
outubro, primeiro turno que - tomara - seja o único, para acabar logo com essa
aflição toda, teremos cinco decisões a tomar, cinco vezes para ouvir o tilintar
da urna: eleger presidente (a), governador(a), senador(a), deputado (a)
estadual e deputado(a) federal. As coisas andam tão polarizadas que até é
possível que apenas a partir de agora muita gente se dê conta de prestar mais
atenção, mesmo nas fugidias imagens de segundos de alguns dos que pretendem
conquistar nossos votos, e nem eles mesmos sabem bem o que estão fazendo ali,
na sopa de letrinhas dos partidos, federações, cotas, uniões e acordos.
É preciso entender que todo o processo eleitoral é
importante, complexo, que não adianta achar que escolhendo só o presidente
poderemos mudar alguma coisa, porque o buraco é bem mais embaixo, ou melhor, lá
em cima. São interdependentes. São quadrados que precisam ser bem preenchidos.
Com consciência nacional, e que ainda parece que não aprendemos, pela falta de
cultura política.
Ficamos aqui de fora assistindo os debates, confrontos, o
cara a cara, as entrevistas, torcendo para que um massacre o outro, mas não é
jogo de futebol. Temos de escalar um time completo, mas para entrar em campo a
partir do ano que vem, com condições de enfrentar a perigosa situação e momento
que nos encontramos, poucas vezes vista tão desorganizada em todos os campos,
tanto éticos, como sociais, ambientais, econômicos.
O Brasil precisa tomar consciência do tamanho dessa
responsabilidade que até aqui parece esquecida, como se tal peleja fosse apenas
entre duas pessoas. São muitas. É necessário que a representação de cada um de
nós se espalhe pelas casas legislativas, hoje tomadas pelo que há de pior, que
veio de carona no mesmo barco do ser que nos atormenta nos últimos quatro anos,
trazendo para o poder o ódio e um grande número de elementos execráveis,
vergonhosos, perigosos, incluindo a própria família.
Quando escolhemos o presidente ou o governador de nossos
Estados para os cargos executivos essa alavanca já começa a ser acionada.
As pelejas nacionais já vêm se dando de forma assustadora
não é de hoje, e entre todos os Poderes, especialmente envolvendo o Judiciário,
obrigatoriamente acionado para coibir abusos, dar sequência à lei e à ordem,
como guardião da Constituição, juiz das partidas. Também aqui colhemos muitas
dúvidas, abusos, interpretações que dão espaço a intermináveis discussões se um
está ou não invadindo a seara de outro nesse momento delicado, se há abusos
contra a liberdade de expressão de golpistas ou censura prévia a condições,
planos, pensamentos e financiamento de atitudes que até já vivemos e perigos
que apagaram a luz do país por longos e tenebrosos 21 anos.
Pelejas são complexas, árduas, cansativas. Mas típicas da
democracia, a palavrinha que temos de defender acima de tudo. Na expressão
popular há a expressão cobertor peleja, aquele que não é completo – ora deixa
os pés descobertos, ora a cabeça. É aquele cobertor de tecido grosseiro, em
geral doados, e que aqui em São Paulo vemos diariamente sendo largados ou
arrastados nas ruas por necessitados sem teto ou pelos viciados da Cracolândia,
inclusive alguns dos muitos problemas que esperam soluções enquanto as tais
autoridades que escolhemos pelejam entre si.
Vamos tentar decidir melhor quem serão esses contendores.
Está em nossas mãos as letras que escolheremos. No dia da eleição, levemos na
palma delas o poder e a decisão. E já que a moda parece que está lançada, para
agilizar as mudanças, a cola escrita com os números dos candidatos bem
escolhidos.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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