Sábado, 13 de abril de 2024 - 08h00
"Perigo,
perigo", sairia dizendo o robozinho de Perdidos no Espaço, nervoso, se
balançando agitado, correndo pelo mundo todo. Alertas laranjas, de risco alto,
nos céus. Se possível, alerta que deveria já estar apitando nos celulares das
pessoas de bem do planeta.
Eles estão entre nós. Não, não são alienígenas, pelo menos
a princípio, mas pessoas de carne e osso que estão se agrupando em todo o mundo
num perigoso movimento de tomada de poder para a qual não medem esforços nem
violentas formas de ação, entre elas, guerras sangrentas, bravatas, mentiras
deslavadas, ódio, derrubada de líderes para a ascensão de seus ícones, ataques
às conquistas e liberdades individuais. Não é necessário microscópio algum para
avistá-los. São bem visíveis, até histriônicos, você já os está vendo em toda
parte. Agem como se fossem legais, fazem de um tudo para que se saiba deles.
Mas olhe bem, perceba o quão de estranho há em seus atos. Alguns já estão aí.
Outros surgem do nada. Quando os percebemos já se desenvolveram e criaram
tentáculos. Procriam rápido.
A lista é grande. O XYZ da questão é muito mais que este
estranho Elon Musk, que agora sobrevoa o Brasil fazendo amigos, ou a cabeleira
do Milei e do Trump. O bigodinho de um, a barba de outro coberto em trajes
religiosos e armados até os dentes; esta família boba com ficha corrida daqui é
só uma pontinha. Há outras se perenizando, o que talvez até explique a falta de
reações adequadas e na hora devida. A coisa é internacional. Ocidente e
Oriente. O cerco se fechando. O dinheiro, na frente. O moralismo, na rabeira. O
poder como alvo.
Percebemos que não tem bonzinho nenhum, e tomara que antes
que seja tarde demais como várias vezes dramaticamente ocorreu no século
passado. Agora as armas são outras, e nos usam, somos parte delas na vida digital.
Nela acrescentam robôs para alastrarem os seus esforços, exércitos invisíveis,
que nada tem de bonitos, de engraçadinhos, muito menos inteligentes, embora
artificiais - são humanos que os alimentam e guiam em máquinas.
Usam, principalmente, para sua expansão, as mentes jovens e
ainda não formadas na vida, aproveitam sua inexperiência e desinformação da
História. Apelam ainda aos mais velhos e rançosos que internamente por toda a
vida não admitiram os avanços e agora imaginam que antes de morrer podem deixar
o mundo no atraso que gostariam. Conseguem nos dividir em tudo que é tema que
entre em discussão. Divididos, somos mais fracos, mais propensos à dominação.
Apelam para o que entendem como liberdade, e uma tal
democracia deles, e muito longe do que é mesmo, democracia está que em vários
lugares e situações está atacada perigosamente. Na primeira oportunidade que
conseguem, são os primeiros a cancelá-la: a liberdade de expressão que
defendem, não se enganem, é só a deles, desses grupos que se juntam como vírus
ou bactérias, e que mantidas as condições, criam a epidemia sem controle que
nos afetará – e às próximas gerações - severamente.
Firmam-se no momento à direita - e à esquerda – em duelos,
como se combates existissem, sendo que ambos estão no mesmo caminho onde, como
numa balança, se alternam. É preciso denunciar todas as formações. O alerta de
perigo é mais sério do que as bobagens locais que alimentam os comentaristas no
dia a dia. Esqueça a pendenga, os peixes pequenos diante da organização que se
avoluma aproveitando a nossa fragilidade e a pequeneza. São ousados, querem ser
extremos: usam Deus, as religiões, suas canetas e fortunas, e até o espaço
sideral, mesmo que entre eles há ainda quem acredite que a Terra seja plana, e
como se fosse a pista do aeroporto daqui partam foguetes para colonizar o
espaço. De um lado, o Estado é tudo; de outro, não é nada.
Não podemos nos distrair. Eles estão entre nós, muito
próximos, em busca de cooptar mais corações, mentes e até almas, como se vê na
violência crescente, espalhada, cruel. É realidade. Não é filme ou série. Não é
caso para um herói ou salvador das pátrias.
As pátrias somos nós, os terrenos que pisamos com os nossos
pés nesses tempos duros.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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