Segunda-feira, 13 de julho de 2015 - 16h53
Cai, cai, balão, aqui na minha mão. Não cai não, não cai não, não cai não. Cai na rua do Sabão. A cantiga popular vem à minha mente em pleno 2015 e não fui a nenhuma festa do interior; aliás, nem no exterior. Mas que o balão está queimando igual à batata lá na fogueira está. E quanto mais se tenta subir no pau de sebo, mais se escorrega; quanto mais se corre da cobra, mais ela se enrola quando quer dar o bote. Quanto mais fala, mais se afunda. Patina na Rua do Sabão.
Mais abraços de afogados, infidelidades, mais assobios de disfarce vindos de quem não quer se envolver e aliás nem sabe o que está fazendo por ali; mais defecções ou simples abandono de posto. O ponteiro da popularidade baixando sem parar.
Outro dia, não faz muito tempo, as coisas eram diferentes. Louco como também se deixa de ser popular de um dia para outro. Agora o que não foi é mais desejado do que aquele que foi duas vezes, deixou uma que também quis duas, mas que na segunda perdeu o fôlego e não tem jogo de cintura na hora que mais se precisa apertar o cinto. Vira e mexe um assunto sacode mais ainda a poeira, e não é que dá a volta: passa totalmente por cima - igual trator - achata todas as mentiras contadas em tevê, verso e prosa, levantando as incompetências que só assim conseguem escapar para se mostrar plenas, numerosas. Todos os temas estão esfacelados, cheios de buracos, com remendos antigos que já cedem.
Louco. Louco é como o tempo está tomando outras dimensões. Em segundos alguém pode cair na pista da rede e viralizar - que não é se tornar um vírus, mas virar um famoso juntando exércitos atrás de si. Em horas, esses exércitos já podem ter se dispersado. Em dias, ninguém mais lembrar onde já se perfilou um dia. Creio que essa tendência trazida pela internet está moldando pessoas diferentes da que fomos, eu, nós que já vivemos mais do que três décadas, antes disso tudo acontecer. Tem momentos que tudo se mistura. E essas novas pessoas não têm fidelidade a nada que não lhes diga respeito, não lhes traga vantagens. Ideologia? Mórreu! - diria aquele personagem que esqueci o nome, mas não o bordão.
Como pode o peixe vivo, viver fora da água fria...O simples enunciado desta outra canção popular lembra de imediato um outro tempo, um outro presidente que a cantarolava em serenatas, um momento de crescimento e mudanças que moldaram de tal forma o país que logo apareceu até gente brecando tudo isso e nos deixando em uma longa noite negra de quase 20 anos de ditadura, e apagando aquele sorriso bossa nova.
Criavam-se mitos. Mito é coisa definitiva - não é igual a esse novo popular, esses famosinhos que dão em penca, alguns literalmente. Havia formas de guardar lembranças que imortalizavam. Papéis, cartas, fotos, pequenos bilhetes, autógrafos, posters, recortes de jornal, em álbuns e caixas. Havia um amor real por trás de tudo aquilo.
Hoje, só conheço quem se compraz em recolher as sandices de discursos e bravatas, as palavras que não se completam correndo atrás de pensamentos vagos. Tipo tipo.
Ficar popular é fácil, tem até simpatia para isso, uma boa defumação com folhas de louro e erva-doce feita com fé. Há manuais e manuais de dicas, gerais, para se tornar a rainha ou o rei da cocada preta. São engraçados.
O que acontece é que não há simpatia que mude a antipatia que agora estamos pegando deles, e que cresce mais que bolo com fermento.
O forno está quente, assando alguma coisa que ainda não dá para ver da janelinha. Só nos resta torcer para que seja popular. Bem popular, que dê para cantar e dançar nas ruas. De populismo a gente já está bem cheio, esse prato enjoou.
"...doidas, doidas, andam as galinhas, para pôr o ovo lá no buraquinho. Raspam, raspam, raspam. Pra alisar a terra.Picam, picam, picam.Para fazer o ninho. Arrebita a crista o galo vaidoso.Có-có-ró-có-có..."
São Paulo, 2015.O resto é folclore
Marli Gonçalves é jornalista - Ai bota aqui, Ai bota ali o seu pezinho; seu pezinho bem juntinho ao meu ... E depois não vá dizer que você se arrependeu!
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