Domingo, 3 de maio de 2015 - 19h51
Por Marli Gonçalves
Vou dividir minha angústia com vocês. Essa pergunta já te ocorreu também? Quantas vezes só hoje ou nos últimos dias? Quem? Em quem a gente poderia confiar nesse momento, herói ou ser sobrenatural, vindo de outra galáxia e que seja ao menos capaz de unir de novo este país? Levá-lo ao futuro, retomando seu orgulho e soberania, mais contemporâneo e menos jeca, capaz de chamar e ouvir as cabeças pensantes? Quem?
Está chegando a hora de tentarmos propor soluções. E rápidas, eficientes, milagrosas. Aventureiros surgirão aos montes de detrás de qualquer encosta, onde provavelmente se manterão à espreita. Aliás, já estão lá, pode procurar nos buracos que achará um monte deles, tentando tecer a teia, pregando armadilhas, jogando cisco em nossos olhos e cascas de bananas nos caminhos. Precisaremos saber identificá-los. Inventar logo um alarme que toque à sua mera aproximação, e que se acendam todos os holofotes iluminando a escuridão. Não temos mais tempo de errar de novo.
Vejo os olhos estatelados das pessoas diante das gôndolas dos supermercados. Dá para sentir a agonia, o cálculo rápido feito de cabeça sobre trocados para economizar, traindo a marca predileta, agora há a observação mais detalhada, inclusive com leitura de rótulos. Normal ver cabeças balançando em sinal de negativa ao encarar as plaquinhas, e ali mesmo deixar o objeto antes visado. A alta de preços descontrolada, unida à descontrolada falta de dinheiro nos bolsos e habitual loucura do corre-corre para não tomar prejuízo, está levando a uma equação de resultado zero. Sei que tenho leitores bem de vida (a quem espero até não estar aborrecendo contando sobre a real dureza da nossa população de Durangos e Durangas), e que não estão tão apertados assim. Talvez nem façam compras pessoalmente; mas mesmo quem é bem rico, milionário, ah, esse sabe o valor do dinheiro e faz questão de discernir sobre o valor das coisas, o que vale.
Enfim há uma boa dose de irritação, descrença, inconformismo no ar. Mas o que eu quero dizer é que estou achando esse sofrer coletivo muito misterioso, contido, silencioso, crescendo dentro das pessoas como lombrigas, ou aqueles aliens de filmes. Tem gente que já nã critica; baba. Espuma de raiva. Quase ouço o borbulhar desse rancor todo, como se ele pudesse aparecer a qualquer momento. Qualquer faísca. Essa aparência de normalidade institucional me instiga, até por sabê-la periclitantemente perigosa, falsa e por isso, frágil. Falo do que é abstrato. Temo essa energia quando for concreta.
Intolerâncias grudam na poeira dos nossos sapatos, aquelas que tentávamos varrer daqui para sempre. Na falta de uma resposta mais sólida - Quem? - surgem propostas estapafúrdias, como a da senhora aposentada que me disse que queria um general. Apenas isso, para ela o salvador poderia ser um general, e não é que ela quisesse uma ditadura. Pedi a explicação. Para ela, a Dilma é uma pedra muito pesada, que precisa ser tirada do lugar. Removida. Que alguém mande remover, me disse. Pensou em um general como poderia ter pensando num elefante.
Daqui a pouco aparece o Marechal Deodoro em pessoa, despersonificado de sua estátua. Muitas pessoas realmente pensam que estão em livros infantis e escolares de história, creio, aqueles que tinham aquelas ilustrações de cavaleiros exaltados chegando com seus cavalos brancos, empunhando espadas e gritando Independência ou Morte!
Precisaremos começar muitas coisas, e a primeira delas é pedir respeito aos governantes, que parem de mentir tão deslavadamente, tentando nos fazer de otários e querendo que enxerguemos o que sabemos, caramba, que não existe porque estamos lá, vivemos na realidade. Não somos doidos, de reclamar do que está bom. Vivem querendo nos ajustar, a nova palavra usada e tentada de um governo que já nem mais é um governo, mas vários, a ponto de dentro dele ter torcidas pró ou contra isso ou aquilo do próprio governo. Terceirização, ajuste, cortes, pedaladas. Que mais? Até Dona Marta anda esquecida dos temas que nos são mais caros, e que passam longe de um Congresso formado por seres reacionários ou interesseiros, desarticulados, quadros imberbes e insossos num momento tão importante.
Aí começam a aparecer os bravateiros. Um que tudo pode e que tudo prende. Outro que tudo acha que pode e vem com conversa de boteco, de quem brinca de braço de ferro em puteiro com imagem de São Jorge e luz vermelha na porta. O outro reticente que melhor seria fosse mesmo de trabalhar em silêncio, mas nem isso. Aquele que se faz de bobo para morder as bordas. Quem?
Quem pode pegar esse rojão? Desativar essa bomba?
Grupos de controle político agem como grupo de controle bandido. Da mesma forma que o PCC passa seus "Salve Geral" e ordens para meter o cano, impondo toques de recolher nas grandes cidades, o PT paga comandados para batucar pretinhas e abastecer perfis fantasmas; tucanos bicam e batem suas asas espalhando penas que jogam de cima dos seus muros. Surgem os messiânicos, os cara-brava, os da bala, da bola, da bela, da bula, da bílis.
Desculpem, mas eu tinha de tocar nesse assunto, porque quase virou mania: saio por aí perguntando e ainda não encontrei essa resposta, pelo menos não uma que me seja realmente convincente. Talvez eu seja exigente demais, mas já recorri até ao binóculo e não consigo ver quem.
É difícil demais ficar esperando por uma pessoa, em quem possamos depositar todas nossas fichas. E rodar a roleta. Só, por favor, nunca mais joguem Vermelho13.
São Paulo, maio de 2015
Marli Gonçalves é jornalista - Não briguem comigo. Só estou perguntando uma coisa simples. Quem? De repente você nos dá uma boa ideia, e lembra de alguém interessante para a gente burilar. Eu disse burilar.
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Cérebro. Duvidando até da sombra.
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n