Sábado, 9 de novembro de 2024 - 08h05
Pode apostar que tem alguém apostando alguma
coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que
tudo virou isso ou aquilo, as torcidas se confrontam por qualquer coisa. Não é
por menos que as tais bets vêm causando tantos estragos.
Tudo se aposta. Um acha que vai ganhar, e acaba se tornando
cabo eleitoral de coisas, inclusive, com as quais não tem a menor relação
direta. Só alguma paixão, ou é tinhoso, como encontramos tantos nas redes
sociais espalhando mentiras, ataques – se não pensa como eles, inimigo é, não
tem conversa. Conflitos na certa, e não faltam temas.
As eleições americanas chegaram até a ser engraçadas, e
acabou dando aquela coisa que aqui ninguém acreditava, fuémmmm, embora se
repita seguida e historicamente no nosso país: as baratas votando nos sapatos
de bico fino que as encurralam pelos cantos. E sempre aparece os videntes:
agora teve até um Nostradamus americano que juravam que nunca tinha errado uma
previsão, indicando a vitória de Kamala Harris. Não soube mais dele depois do
resultado da vitória do dantesco Trump.
E tem os bichos, também, além daqueles mais comuns e
pobrezinhos do nosso próprio jogo do bicho. Os que ficam famosos por acertar um
resultado aqui e ali, em geral esportivo. Teve o polvo Paul, o elefante Yalu, o
porquinho da Índia Shiva, o panda Ying Mei, o gato Aquiles, o polvo Cassandra,
o camelo Princess, o porco ucraniano Funtik, e mais um elefante, o Cittá. Não
sei porque não há antas famosas, combinaria muito mais.
A verdade é que nos últimos tempos o negócio de apostar se
disseminou de tal forma que está incontrolável, principalmente com as tais
Casas de Apostas, as Bets, numerosas, com tantos nomes e propagandas que chegam
a atordoar. Falta só a “Bet Faria”. Vem do incontrolável desejo humano: ficar
rico sem necessariamente muito esforço. O que me faz sempre lembrar de meu pai
dizendo “Trabalha não para tu ver se cai do céu”.
O Brasil vive uma epidemia. Gente com renda comprometida.
Pesquisa recente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC): por causa
das apostas, 19% pararam de fazer compras no mercado e 11% não gastaram com
saúde e medicamentos. O país talvez já seja o terceiro maior mercado de apostas
do mundo, movimentando só agora em 2024 cerca de R$ 130 bilhões. Há notícias de
que beneficiários do Bolsa Família chegaram a gastar R$ 3 bilhões em sites de
apostas esportivas, somente no último mês de agosto. Grandes companhias já
notificam preocupação com endividamento de seus funcionários e com o jogo no
ambiente de trabalho.
Aposta é boa quando se vence. E, igual a drogas, quando se
ganha, se quer mais, e aí a coisa vai ladeira abaixo, manipulada pela realidade
das partidas sempre indefinidas ou mesmo por algoritmos estranhos. O negócio é
sério e está trazendo mais pacientes aos serviços médicos, tentando retomar
especialmente a sua saúde mental. Ou suas próprias vidas, famílias, casamentos
destruídos. Ao invés de ganhar, perde. E muito.
O governo tomou um safanão com os números e busca melhor
regulamentar, embora tarde demais, as tais bets. Mas por lá ainda falam em
liberar jogos de azar. Apostam também que arrecadarão mais, como se possível
fosse controlar maremotos.
Tudo vira batalha, mesmo sem dinheiro envolvido. Penso que
os tais realities também avivam essa mania de concorrer, de acertar, de tentar
prever, e ganhar. Os números das pessoas que votam para eliminar participantes
são sempre estratosféricos. Já houve em um BBB passado estouro de fogos quando
um indesejado foi mandado para fora. É impressionante. Torcidas são
impressionantes.
Agora, quer apostar? Vamos passar dias ouvindo conjecturas
sobre geopolítica mundial, se o resultado lá vai beneficiar aquele outro aqui,
o que vai sair daquela cabeça.
Vai ter logo logo até aposta nova em assunto antigo: quem
vai matar Odete Roitman na novela Vale Tudo reformulada?
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n