Sábado, 20 de abril de 2024 - 08h01
Quero gente de novo no atendimento das empresas,
pelo menos um pouquinho, alguém que possa compreender o mínimo quando mais
delas precisamos de alguma resposta ou posição, ou que entenda uma reclamação.
Praticamente não conseguimos falar com mais ninguém de carne e osso, tudo é
máquina, respostas prontas, frias e comuns, alternativas que quase nunca são as
que precisamos. Tá bem difícil essa vida digital.
Não me matem, mas ando tendo saudade até do gerúndio
pavoroso das mocinhas do telemarketing, daquela dificuldade de escutá-las no
meio dos ruídos de conversas, do “vamos estar vendo”, “vamos estar ligando”.
Não sei vocês, mas estou bem preocupada porque quase não há mais formas de
contato real, o famoso telefone, aquele numerozinho fixo - lembram? Fazia trim
trim – e a gente podia tirar uma dúvida rápida, falar com algum filho de Deus
na hora do aperto.
E olha que eu conheço um pouquinho dessas coisas de
computador, de acesso, de senhas para todos os lados que nos deixam doidos.
Fico imaginando a dificuldade que mais pessoas devem ter ao lidar com essas
inovações tecnológicas. Pela idade, pela visão, pelo conhecimento, pelo
telefone celular antigo, tudo, até pelo fato de ter ou não internet. Lembro bem
quando se dizia “... Ah, mas todos tem carro!...”. Nananinanão. Nem todos. E o
acesso é caro.
Você pagou a conta, mas é quem tem de provar isso. Já
tentaram? Enel, Comgás, falar com as robozetes, atendentes virtuais? Chamam
chatbots. Ah, serviços públicos, operadoras. Protocolos infinitos. Orientações
de contatar e-mails e números que não existem, ou que te deixam em looping,
mandando você ligar para o que te mandou ligar lá. Prefeitura? Você até
consegue denunciar, mas no que deu? Fora os 60 dias pedidos quando a
providência era para ontem. Exemplos não faltam. Já estou até vendo você também
fazendo a lista das vezes que também quis esganar os robozinhos mal treinados.
E trucidar a empresa.
Claro que há empresas que funcionam bem nesse meio, como um
reloginho. Posso até citar uma: a Porto Seguro. Tudo bem registrado. Que assim
seja mantida. Mas que é uma raridade todos hão de concordar.
Para vocês verem, fui comprar ingressos em um desses
aplicativos contratados pelas produtoras, que mataram as bilheterias. Ok.
Preço, tanto. Todos os dados preenchidos. Ah, que bom, pode dividir em
parcelas, até 12 vezes – está caro para burro, gente, mesmo a meia entrada para
os idosos bem salgada, porque compensam no preço cheio. Pois bem. Tudo certo,
consigo chegar ao final e o preço... subiu! Apareceu uma taxa, sem qualquer
explicação, uma vez que até isso, os ingressos, agora são digitais, ninguém tem
que imprimir, entregar nada em sua casa. Vasculhei e não consegui qualquer
contato que pudesse explicar que raio de taxa era aquela: de sentar na
poltrona? Ah, e sobre o parcelamento, nem conto os juros cobrados. Quem paga
nas tais 12 vezes vai lamentar isso o ano todo. Comprei, em duas vezes, porque
quero mesmo assistir esta peça, e para isso fiz uma coisa que, como geminiana,
tenho enorme dificuldade: a antecedência. Nem penso em programar minha própria
festa de aniversário. Não sei se no dia vou poder ir, ou mesmo se vou querer
ir!
Estamos reféns dessa vida digital, e dos ataques
cibernéticos, e golpes que não param, e não consigo deixar de imaginar esses
novos ladrões virtuais roubando sentadinhos de casa, sem perigos, bebendo uma.
Conto mais de dúzia de tentativas diárias por aqui – precisa ficar sempre com
as orelhas em pé. Alerta.
A tal Inteligência Artificial, IA, AI, é a nova panaceia.
Não andam pensando até em usá-la para pensar livros didáticos? Nem consigo
imaginar o que isso vai dar. Mas, pior, é ela que agora guia guerras. Que
comanda os drones e mísseis que viajam milhares de quilômetros para matar e
destruir. Mas sabe-se lá se os humanos que os orientaram deram endereço certo.
E se der bug? Cair a rede de controle? Fica sempre a dúvida.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n