Sábado, 24 de agosto de 2024 - 08h00
São Paulo corre mais perigo. Respirar, ver,
ouvir, andar, morrer. Respirar ofegante com tanta poluição, ar seco; ver a
desgraça e a miséria em cada esquina; e ouvir que um candidato à Prefeitura
surgiu do buraco mais profundo e avança e que haja tantos que ainda não saibam
ou entendam o perigo que a sua falsidade e ignorância representa. São Paulo
pode ficar ainda mais impraticável.
Falo da cidade. Pode ficar pior ainda. Uma das maiores
cidades do mundo, São Paulo, cantada em verso e prosa como desenvolvida, rica,
contemporânea, moderna, virou propaganda enganosa e caminha rapidamente para se
tornar completamente impraticável, mais do que já está em seu árido cotidiano. Aqui
temos sentido as mudanças climáticas de forma monstruosa, na poluição que chega
a formar visíveis riscos no horizonte, mostrando crepúsculos de avermelhados
tons infernais. A miséria se espalha nas ruas, e ela é muito além de qualquer
Cracolândia que possa ainda ser descrita. Violência no dia a dia, além de
bandidos, na saúde, no transporte coletivo, nos preços, nas dificuldades
diárias de seus habitantes em tudo.
Nesses últimos dias há sobretudo uma densa névoa que
antecipa – como se quisesse servir como sinal de alerta – sobre um futuro ainda
mais tenebroso sem medidas adequadas, se não houver o controle e não forem
difundidas - e que cheguem a todos - as informações sobre o farsante que se
candidata oculto sob um boné. Metido a esperto, cheio de processos numa vida
pregressa que o tornou milionário como coach, o tal Pablo Marçal.
Comprovadamente ligado a gentes e organizações criminosas, exemplo dos riscos
da vida digital, resultado das constantes tentativas de destruição do
jornalismo sério trocado por dancinhas, mensageiro do conservadorismo de
costumes que eles próprios não seguem, intitulando-se de direita e
ultrapassando qualquer limite da razão. Influenciadores e influenciados de um
mundo irreal que tentam ultrapassar a fronteira se tornando real, dominante. O
famoso dinheiro espalhado nos caminhos. O machinho alfa e seus companheirinhos.
Está difícil respirar o ar cheio de pó de construções que
sobem céleres em todas as esquinas de todos os bairros, desenfreadas e
visivelmente não fiscalizadas – ora, depois conseguem anistias de suas
malfeitorias - e que abriram espaço destruindo a memória, as vilas, casas,
tampando a luz do Sol, e ainda numa barulheira infernal. Poluição sonora, esse
horror para o qual nunca se dá devida atenção e que nos deixa dia a dia mais
estressados, surdos, doentes.
Fotografou? Não. Mas vi. Não há foto para mostrar. A
dignidade deles vale mais, acredite em mim. Na calçada um homem dorme dentro de
um daqueles plásticos usados para abrigar cuidadosamente sem amassar, nos
cabides, vestidos de luxo, longos, vestidos de noivas, que ele deve ter achado
jogado no lixo de uma das tais áreas nobres, todas devastadas, perdendo
“nobreza” a cada dia. Pensei na sua criatividade, ali dentro, quentinho,
abrigado, inspirado talvez naqueles sacos que embrulham defuntos. De qualquer
forma, uma “casa” fácil de ser recolhida, mais leve do que uma barraca. A
senhora muito velha diariamente largada, sentada em uma das principais ruas dos
Jardins, segura um velho e desfiado chapéu de palha nas mãos, e, silenciosa,
clama por ajuda, apenas com forças para agitá-lo. Seu rosto traduz, mais do que
as suas necessidades, sua vida e abandono.
Por favor, atenção, as eleições estão bem próximas, pouco
mais de um mês. Essas, municipais, prefeito, vereadores, são as mais
importantes para mudar o que nos cerca, nossa cidade, os impostos que pagamos
com tanta dificuldade.
Estamos em mais uma emergência: de bom senso e civilidade.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n