Sábado, 25 de novembro de 2023 - 08h12
Se tem uma palavra da qual temos ouvido falar é
essa, reféns, especialmente desde a eclosão do mais recente conflito no Oriente
Médio e agora com a negociação de uma trégua e a libertação de alguns
capturados de um lado, pelo Hamas; de outro, de detidos em Israel. Mas se a
gente pensar bem, somos todos reféns de algo, incluindo a espera de boas
notícias
Mas nem sempre temos negociadores capazes de
nos libertar, como em grandes acontecimentos, como este da guerra, que
movimenta países. Ou mesmo da polícia que manda oficiais treinados quando há
ocorrências com reféns. Isso, claro, quando não manda atiradores de elite que
resolvem a questão na bala quando as conversas emperram ou há riscos maiores
envolvidos.
No nosso caso particular temos na maior parte
das vezes de nos virar sozinhos. Creio que há situações que somos reféns,
inclusive, de nossos próprios pensamentos e sentimentos. Muito louco isso,
porque não conseguimos contê-los e são capazes de nos deixar amarrados,
imóveis, e por muito tempo até consigamos nos desvencilhar deles, medos,
pessimismos, controvérsias; muitas vezes nem nos damos conta de quantos algozes
enfrentamos durante uma vida.
Mulheres, por exemplo, ainda são algumas das
principais reféns de uma sociedade infelizmente predominantemente machista.
Reféns por elas, pelos filhos, pela falta de condições gerais de combater
ameaças, e em muitas histórias que diariamente vemos com algum terrível e
mortal desfecho, especialmente quanto tentam escapar do que, sim, pode ser
considerada uma das mais violentas lutas, as vividas dentro de um
relacionamento tóxico do qual tentaram de alguma forma se livrar. Não há dados
reais sobre isso. Só o silêncio que paira atrás de portas e janelas fechadas e
ouvidos moucos aos apelos que quando descobertos muitas vezes até causam
intensa surpresa por envolverem pessoas que acreditávamos imunes. Reféns são
obrigados a disfarçar sua condição, até para não sofrerem ainda mais.
Aos reféns cabe ou submeterem-se ou criarem
mirabolantes planos de fuga, dos fatos, quando reais, ou dos abstratos quando
se trata de questões internas, sentimentos, quando há consciência deles. E nem
sempre isso acontece, bem sabemos, tantos fatores envolvidos.
Mas também acabamos reféns de coisas bobas,
como a própria aparência e condição social, e o que tem sido comum nesses
tempos de redes sociais onde muitos esbanjam beleza, alegria, riqueza e
liberdade em imagens e relatos quase que sobrenaturais se bem analisados. Daí
nascem e proliferam os golpes cada vez mais sofisticados, as cirurgias
desnecessárias das quais muitos voltam piores e disformes, e até ainda mais
reféns de uma sociedade, de um grupo. Podemos, como que na guerra, sermos
capturados sem nos dar conta, sem violência, sem alarde. Pior, sem ajuda.
Um dos maiores temores, pelo menos de meu ponto
de vista, é o de sermos capturados pela ignorância, pelas falsas promessas,
como temos visto ocorrer em diversas partes do mundo, atrás de variados líderes
convincentes sobre o que tanto gostaríamos de ouvir, inclusive negacionistas
óbvios que utilizam artimanhas ideológicas e de convencimento, verdadeiras
redes para incautos, que ainda correm o risco de idolatrar seus próprios
algozes. Daí já vimos surgirem os maiores horrores da Humanidade inclusive aqui
e em outros locais onde rapidamente se espalham, buscando legiões. Vendem
liberdade onde só há autoritarismo. Progresso e riquezas que só chegam, enfim,
para poucos, e com custos altos para a maioria.
Muitos, líderes políticos que vendem suas
próprias loucuras, no formato de mudanças. Vendem até os seus países, e avançam
cada vez mais.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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