Sábado, 30 de novembro de 2024 - 08h05
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a
palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se
vê, atinge meio mundo e não é por falta de motivos para todos nós, brasileiros.
Para quem vive nos grandes centros urbanos. Para quem tem de se manter em pé e
firme. Para quem sabe o que acontece no momento.
Tudo colabora para o grande desconforto que o stress causa
(vou usar a forma stress pra ver se suavizo sua forma). Em uma roda de conversa
fiquei muito impressionada como cada vez mais se faz necessário falar sobre o
tema, e daí surgem o quanto pode causar e como está presente em nosso cotidiano,
das mais variadas formas. Não é por menos que está todo mundo meio doido. No
momento em que escrevo, para terem uma ideia, um homem ameaça se jogar. Está em
cima de um viaduto, na ponta de um túnel, em uma das mais importantes avenidas
da cidade, a 9 de Julho, totalmente paralisada há mais de duas horas. Torcendo
para que o desfecho seja positivo.
Na conversa entre mulheres, surge muito a preocupação em
ser boa mãe, dar conta da educação, manter a calma, administrar a paciência,
temer não ser suficiente. As dores de cabeça, a pele que estoura. A vontade
frequente de, como ouvi outro dia de uma mãe solo com três filhos, sair para
comprar cigarros e não voltar, aquela antiga máxima, ir comprar pão e pegar o
primeiro ônibus sem destino, esquecendo propositalmente o celular, essa espécie
de nova coleira, em alguma gaveta.
O que sentimos de esquisito parece que é só com a gente que
acontece, e muitas vezes guardamos como um segredo muito particular. Daí
insistir o quanto é bom conversar, ouvir, buscar não se isolar. Pode não
melhorar, mas ao menos podemos perceber mais fatos relacionados com nossos
próprios sentimentos.
Por exemplo, não é possível, mas não tenho gostado muito de
sair de casa, como se assim pudesse evitar me aborrecer, e em meu castelinho
possa administrar melhor a minha serenidade. É por o pé na rua e lá vem o
motoqueiro quase atropelando na faixa de pedestres, a pessoa distraída coma
cabeça baixa no celular achando que é você quem tem de sair do caminho, o carro
em cima da calçada que dá vontade de levar uma escada para escalar e sair do
outro lado. Fora o constante risco do estabacamento nos pisos. Sem contar que
qualquer aproximação pode ser alguma gatunagem, seja onde for.
Aí você sai de carro. O trânsito cada vez mais caótico -
lembrem que vivo em São Paulo, onde cada vez mais, insisto, os sistemas estão
em colapso e virando uma Índia, sem qualquer charme. O semáforo nem bem abriu e
já há um nervoso bibibi vindo do carro de trás e, se olhar pelo espelho, já
verá o motorista gesticulando. O que instiga, digamos, meus instintos mais
primitivos, como disse certo alguém, devem lembrar. Mas com bom humor, claro,
que ainda é minha tônica da salvação para diversas situações. O pé fica no
freio. Às vezes deixo morrer o motor, e quando o apressado passa, dou um leve
aceno de miss, com sorrisinho.
O stress é problema sério. É o medo de tudo, os barulhos
constantes, o sono inquieto, a lembrança das contas a pagar, que não fecham por
mais que se aponte o lápis. O medo de ficar doente; e a gente fica. As vontades
adiadas. Os seus problemas e os dos que o cercam. Perceber que diz uma coisa e
entendem outra. E se encrencar, desculpe, não levo pra casa. Até bom para
dissolver o tal stress – retribuído pessoalmente.
Pior no país nesse momento de fim de ano que já carrega uma
enorme e pesada carga emocional. Planos e anúncios econômicos que no fundo
poucos entendem exatamente, mas que causam um rebuliço que você sente será o
prejudicado de alguma forma. Informações mais precisas dos perigos de planos
golpistas que, por muito pouco, não apagaram as luzes da democracia, e que já
piscavam mais do que a energia da Enel quando chove. Parlamentares de todos os
poderes que incrivelmente se reúnem não para melhorar nada e com tanto a fazer,
mas para acabar com algumas de nossas mais importantes conquistas, como é o
caso agora das discussões sobre aborto e estupro.
Calma, dizem. Tudo bem. Ok. Vamos tentar.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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