Sábado, 21 de dezembro de 2024 - 08h00
Com tantos sustos como os que todos estamos
passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as
renas pelo aplicativo e está tentando ir passear por outros locais, embora a
gente também saiba que vão ter de voar muito pelo mundo para encontrar algum
lugar realmente agradável e onde possam comemorar em paz. Imaginem a viagem.
Papel fundamental no mundo da fantasia natalina, as renas
Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e
Relâmpago escutam as ordens, e como cada uma tem uma função neste voar devem,
nessa hora, estarem se organizando enquanto equipe. Consultando todos os mapas
do Waze e ajustando o GPS, se enfeitando, lixando as patinhas, conferindo o
trenó e as amarras. O combustível e os suprimentos. Arrumando as malinhas que
poderão colocar no bagageiro que neste ano com tantas crises econômicas,
guerras e violência, deve estar com lugar sobrando.
Se estiverem se mandando do Brasil, percorrendo essa
extensa região, já terão logo se cuidado com coletes à prova de balas.
Escondido bem - mocozando, na verdade - suas riquezas, com medo da gatunagem
correndo solta em todas as esferas. Também estão providenciando a troca das
moedas no câmbio, até para ver se também faturam algum com tanta especulação
que fez com que encontrassem os dólares circulando lá nas alturas. As
bichinhas, espertas que são, vêm se informando bem sobre todo os fatos para
poderem se proteger e correr das fake news, ataques e das tentativas de golpes.
Parece que estão fechando seus perfis nas redes sociais, já contrataram os
melhores apps de segurança e antivírus e só abrem e-mails que reconhecem o
remetente. Cansaram de atender ligações falsas e de avisos que fizeram compras
vultuosas que precisam reconhecer apertando 1 e 2, e vindas de bancos nos quais
nem contas têm. Até porque esse ano as comprinhas que fizeram foram só de coisas
bem baratinhas, dentro do limitado orçamento geral.
Na bagagem, parece que providenciam – cuidadosas e
conscientes que são – sacos recicláveis para o Papai Noel usar. Vão mesmo
sobrevoar áreas difíceis por conta das emergências climáticas que esse ano
acionaram todos os alarmes possíveis, calor, frio, chuvas, fogo. Protetores
solares potentes para seus focinhos. Algumas bem doidivanas compraram leques
bem grandes para fazer vento e barulhinho, como está na moda.
Estupefatas, ficaram sabendo que tem um lugar aí no Brasil
que “cancelou” o vermelho do Natal, contra um tal de comunismo – trocaram tudo,
todos os enfeites, pelo verde e amarelo, as cores agora preferidas dos
golpistas que andam tramando alguma coisa nos subterrâneos. Depois de dar
muitas gargalhadas com tanta ignorância, capricharam nos estoques: imaginam que
no ano que vem a lista de presos, indiciados e investigados deve aumentar ainda
mais e serão necessárias muitas tornozeleiras, que estarão valorizadas no
mercado.
E como não são bobas nem nada, aproveitaram e compraram
umas câmeras corporais que possam transmitir a viagem delas desses dias
(compram no saldo de um certo governador que toda hora troca de opinião e ainda
não decidiu se as que vai comprar mesmo, se vai, são as que gravam tudo e não
podem ser desligadas ao bel prazer dos policiais em suas ações). As renas, ora,
também querem ser influencers; ouviram dizer que isso está dando uma boa grana
e que os recebidinhos das empresas são mesmo uma graça. De graça. Pior, vou
contar, ainda é segredo, elas estão pensando seriamente em abrir perfis de
conteúdo adulto, impressionadas que ficam com as fortunas anunciadas
diariamente por subcelebridades e suas peripécias sexuais. Papai Noel que se
cuide.
Tudo isso, que fique claro, porque desejam que 2025 seja
bem melhor do que esse ano que fecha a tampa, e tentam economizar para ver se
no futuro poderão voltar e trazer a todos presentes bem melhores do que os de
agora, que estão de amargar.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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