Sábado, 15 de abril de 2023 - 10h23
Tá tenso aí? Tem até rolado uns medos mais
esquisitos? Anda olhando para os lados, já não atende celular na rua nem por
decreto? Anda de carro com os vidros fechados ou, se tem recursos, mandou fazer
blindagem dupla? Se arrepia só pela aproximação de uma moto ou uma bicicleta?
Está tenso. A impressão não é só minha ou sua, parece ter
mesmo a ver com o clima geral. Pior, clima local, nacional, mundial. Parece que
estamos todos dentro de um barril de pólvora e que se alguém riscar um fósforo
pode explodir, e ainda bem que não estamos perto de rebanhos bovinos e seus
puns inflamáveis que mandam tudo aos ares.
Mas vamos falar de Brasil. E, ainda, mais perto, também de
São Paulo que acaba representando o que deve estar ocorrendo em outras centros
urbanos, embora em outra escala. Parece que alguma coisa está sempre sendo
urdida em algum lugar – isso aqui me referindo à política, a aquele pessoal
horroroso que nos infernizou durante quatro anos e que não queria largar o osso
e agora pretendem não nos deixar esquecê-los de vez. A gente respira um
incrível e silencioso ar de conspiração, que nos impede até de curtir um pouco
mais o ar pacífico, alegre e leve que sentimos quando os tiramos do poder. Eles
insistem em infernizar e o ar chega a ficar fétido quando o atual governo
federal não faz ou faz/ fala/ inventa sandices, infelizmente ocasiões que ainda
são numerosas. Imediatamente qualquer assunto, por mais bobo que seja, é
ampliado pelos agentes do mal nas redes, fermentado, acrescido ainda de fake
news e outras provocações. Eles estão aí, vivos, que não nos distraiamos.
A economia não vai bem no mundo inteiro, mas claro que o
que a gente sente mesmo de verdade na pele é a nossa, a que está perto, a que
nos impede de comprar, planejar. E não tem nada bom, os índices mostram que um
rolo compressor aparenta estar aquecendo motores atrás de algum poste,
empresários mal humorados, demissões assustadoras, previsões de tempo ruim.
Tudo isso também dimensionado e alimentado pela ideia do quanto pior melhor, da
direita, da esquerda, do centro – assim se fatura em cima, vocês sabem que essa
é a comida da política ruim.
Vou fechar o foco mais aqui em São Paulo e aí vamos falar
de Segurança Pública, do Centro da cidade, dos moradores de rua, dos viciados
da Cracolândia, das ondas altas de volta, com sequestros, roubos, assaltos,
golpes de tudo quanto é tipo, gangues, da pedrada, da cotovelada. Tudo coisa
pra a gente até ter saudade dos tempos que falávamos apenas de trombadinhas.
Agora são trombadões sem qualquer poesia que nos lembre os meninos do trapiche
de Jorge Amado em “Capitães da Areia”.
É preciso também, no entanto, que se ressalte: o número de
ideias de jerico que está saindo da cabeça das autoridades responsáveis parece
que vem de contusões de tanto eles próximos baterem cabeça entre si. Essa
semana foi pródiga. A começar pelo projeto de levar moradores de rua para
trabalhar em propriedades rurais de pequenos agricultores, com o governo se
comprometendo a comprar deles parte da produção. Não parece uma ideia linda, fofa?
Pois, pelo menos a mim, parece a implantação de um projeto
de nova forma de escravidão, porque obviamente a fiscalização do funcionamento
é praticamente impossível.
Todo dia uma coletiva anuncia algo: então, já cercaram de
grades a icônica Praça da Sé; a bela Catedral está com a sua frente adornada
por viaturas. Como espalharam a Cracolândia, boa parte dos efetivos se ocupa em
passar o dia correndo atrás dos montinhos de viciados e traficantes que se
agrupam, correndo e voltando sempre ao mesmo local quando eles viram as costas.
Sobre os moradores de rua, enquanto um secretário dá entrevista falando em
tratamento humanizado, poucos quilômetros adiante as câmeras das tevê mostram
barracas e itens do povo da rua sendo jogados violentamente em caminhões. Têm
sido frequentes os relatos de truculência policial.
Tá tenso, bem tenso, porque tudo isso junto está piorando
nos últimos dias quanto até o comércio já bem prejudicado tem baixado portas
para evitar arrastões que já ocorreram na região central. O medo, o temor e o
terror se espalham. Mas fiquem espertos. A diferença é que agora tudo parece
muito organizado, comandado de cima por poderosas forças e organizações
criminosas que se fortaleceram cada vez mais justamente nos últimos anos
enquanto quem devia agir continua pensando em soluções que nunca chegam. Ou
quando são tentadas são só mais ideias de jerico.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n