Sábado, 20 de julho de 2024 - 08h02
Tudo cai, vai pegar um negócio e lá catapimba ele
escorrega de sua mão. Está andando e, especialmente se for nas calçadas de São
Paulo, de repente beija o chão, depois de um tropeço mesmo andando levantando o
pé igual a uma garça, como temos de caminhar por aqui. Não tem dias que parece
que tudo cai?
Por acaso já teve a maléfica experiência de deixar cair –
rezo e reze também para que não – um vidro de café solúvel? Além do prejuízo,
do vidro e seus cacos, claro, aquilo – aqueles grãozinhos - imediatamente se
transformam ao contato do chão, mesmo o mais limpo e seco, os marrons se
espalham, grudam e qualquer tentativa de contê-los é desgraça. Pano molhado?
Nunca! Vassoura? Aquilo vai se espalhando por áreas não afetadas. Foi só um
exemplo.
De vez em quando rola uns dias assim, meio esquisitos, que
você sem querer derruba coisas. Se tem fé e o copo se despedaça, claro, já
grita: “Eita. Que bom! Já dispersou uma energia ruim. Antes ele do que eu!”.
Escorregou. Outro dia aconteceu com um prato de vidro com farofa na hora que
abri a geladeira para pegar outra coisa que, sinceramente, não lembro até agora
o que foi, porque os minutos seguintes foram de tentar ao menos diminuir o
desastre, sem deixar nem a sujeira, nem pisar nos cacos de vidro que
impressionantemente parece que querem conhecer também os outros cômodos da
casa, se espalham e você ainda passa dias com problemas em andar descalço em
toda a região. E era um restinho de uma farofa deliciosa. Será que foi o santo
que quis?
Brincadeiras à parte, enquanto são coisas que escorregam de
nossas mãos, até que tudo bem. O problema mesmo é quando o corpo inteiro
desmancha. Aconteceu com um grande amigo que muitos conhecem. Teve um apagão –
todos estão sujeitos igual aos sistemas infernais sermos desligados pelo cérebro
em um segundo - caiu, quebrou e machucou todo seu lado direito, nunca mais
voltou a andar e seus anos seguintes até a morte resultaram disso. Ele era
grande, pesado e alto, caiu de si mesmo. Um outro teve os dois joelhos
abalroados severamente.
Qualquer abalo pode nos levar ao chão – São Paulo sentiu o
terremoto ocorrido lá no Chile na noite da última quinta, que sacudiu tudo,
prédios e coisas no centro de São Paulo – sensação pra lá de ruim. Falando em
fantasmas, por aqui, por causa desse tremor uma luminária comprida começou do
nada a balançar. Vento não era. A gata que sempre acaba culpada por umas
coisinhas nem estava ali por perto e correu assustada. Como a gente é doido,
não? Tentei não pensar, mas pensei: fantasmas? Espíritos? Deixa pra lá. Mas
logo o noticiário informava o causador. Terremoto lá longe.
Dia seguinte, no caso, essa sexta, 19, acordar com a
notícia de que uma pane global de sistemas afetava o mundo todo com um apagão
nunca antes visto nas máquinas, vamos lá, admitam, foi bem punk. Uma
atualização de sistema deu errado, afirmou a empresa americana terceirizada da
Microsoft, a CrowdStrike, de segurança(!) cibernética. Imediatamente suas ações
caíram, e ela perdeu alguns bilhões de dólares. O prejuízo causado pelas
paralisações ainda, que eu saiba, não foi estimado, se é que dá para ser
calculado – impactou tudo, companhias aéreas, bancos, hospitais, a geral que
usa o tal sistema. Em todos, apareceu a tal “tela azul da morte” que
caracteriza o bug. Enquanto escrevo a situação ainda não se normalizou horas
depois. Aqui, sozinha, outra semana quase enlouqueci com uma mudança de sistema
no site.
Bem, voltando a essa última e infernal quinta e sexta...
Quinta, terremoto, mais discurso do remendado Trump na convenção republicana
nos Estados Unidos televisionado ao vivo para o mundo inteiro: aliás, o horror.
Aproveitando o atentado sofrido que lascou sua orelha direita, o que se viu foi
um claro ninho fascista projetando novamente suas sombras para o mundo. A
plateia absolutamente branca e rica, loura e batendo cílios postiços ou
mostrando orelhas com curativo igual ao dele, aplaudindo embasbacados cada uma
das inúmeras ameaças, ops, promessas, que fez para se eleger de novo presidente
em novembro, um show de horror que jurávamos nunca mais depois das tragédias do
século passado. Quem viu e ouviu, e tem algum bom senso, deverá concordar que
estamos todos diante de tempos perigosos e difíceis, aqui, lá, em todos os
cantos.
É melhor deixar cair copos, pratos, que se despedacem
dissipando as energias ruins. O que não podemos é deixar o mundo cair nas mãos
deles.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n