Terça-feira, 18 de dezembro de 2007 - 21h30
José Soares de Brito diz a deputados que a polícia ignora denúncias contra jagunços de fazendeiros no Pará
MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA – Quem não morre e tem coragem faz denúncia em Brasília. A lista de pessoas ameaçadas de morte na Região Sul do Pará vem deixando cada vez mais intranqüilos os líderes de trabalhadores rurais. Sem esconder a emoção, o representante do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contraf) no Pará, José Soares de Brito, confirmou hoje essa situação, em depoimento à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. "Todos os líderes que se destacam na defesa dos direitos humanos no campo são ameaçados e alguns já foram executados", ele afirmou.
A comissão debateu até as 17h ameaças aos direitos humanos no campo. O Pará é considerado atualmente o estado com o maior número de atentados a líderes rurais, em conseqüência de conflitos fundiários. Brito está recluso com a família há mais de dois meses, por causa das ameaças sofridas de jagunços. No Pará, fazendeiros vêm contratando empresas de segurança para controlar ocupações de terra. Essas empresas, na visão dos sindicatos de trabalhadores rurais e de movimentos sociais em atividade no estado, agem como "sindicatos do crime".
Sevícias e torturas
Este mês, o Núcleo dos Advogados do Povo (NAP) e a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) denunciaram crimes de sevícias e tortura durante a Operação Paz no Campo no Pará. "Os crimes são encomendados pelos fazendeiros e proprietários de terras da região que não admitem o combate ao trabalho escravo e a garantia mínima de direitos aos trabalhadores", denunciou. Brito disse que enfrenta dificuldades depois de ter sido vítima de duas tentativas de assassinato. "Estou ameaçado, junto com a minha mulher os meus filhos estão assustados com a situação", ele contou. "Ela me olha e pergunta: onde vamos matricular nossos filhos?".
O líder lamentou a impunidade. "É por isso que as ameaças vão acontecendo e se repetindo". De acordo com Brito, delegados e policiais chegam até a fazer escárnio quando os trabalhadores comparecem às delegacias em busca de registrar ocorrências.
Deputados apelam ao ministro da Justiça
BRASÍLIA – A deputada Iriny Lopes (PT-ES) convocou os deputados da comissão para uma solução imediata de proteção à vida do representante do Contraf. A deputada convidou o coordenador do Programa Nacional de Defensores da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Fernando Matos, para uma reunião reservada, a fim de analisar medidas concretas para a segurança de de Brito.A reunião terminou, os problemas no Pará continuam.
A deputada anunciou que a comissão acompanhará as investigações que serão feitas pelos órgãos do Executivo a respeito das denúncias feitas hoje. O presidente da comissão, deputado Luiz Couto (PT-PB), reuniu-se com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para pedir-lhe que as licenças das empresas de segurança suspeitas de oferecer apoio aos criminosos não sejam renovadas.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia e parceira do Gentedeopinião
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