O repórter cobre o discurso de inaguração, mas obrigatoriamente tem que ler a programação e, aí sim, encontrará nos salões da maior feira de negócios do norte brasileiro cenários econômicos e oportunidades que caminham paralelamente à pauta oficial. Notei essa situação em duas edições da Rondônia Rural Show, em 2015 e 2016.
Aberto o evento, apresentações e salamaleques de praxe cumpridos, percebi que além das doceiras de Teixeirópolis; dos criadores de gado leiteiro de Ouro Preto do Oeste; dos guindastes do seu Castilho; das vitrinas tecnológicas; do gado de diversas raças; da distribuição de crédito a sitiantes; a feira trazia placidamente ao cenário temas até então pouco usuais.
Saí do burburinho político em torno do governador e de visitantes ilustres, e me encasquetei com a presença de um engenheiro químico do Instituto Globo Aves que faria uma palestra exatamente a respeito de galinhas e frangos caipiras. E aí escrevi matéria revelando não apenas o blá, blá, blá daquele representante empresarial, mas o seu apelo aos pequenos produtores.
Mário Blacht viera a Rondônia em 2015 para estimular pequenos agricultores e estudantes de técnica de alimentos do Serviço Nacional da Indústria (Senai) a criar galinha caipira. “Ela se dá muito bem aqui na Amazônia, porque a luz do sol é forte, uma situação bem mais confortável que no sul do País, em se tratando do desenvolvimento animal”, assinalava.
Pena que no salão não estivessem mais que 30 pessoas.
Na 4ª RRS, Mário falava do Programa de Agricultura Familiar (PAF), que ofertava proteína animal via produção de carne e ovos de galinhas coloniais. Sua meta naquela ocasião era garantir três quilos de carne a cada 90 dias e 350 ovos/ano, a partir de ave sanitariamente saudável semi-confinada e com possibilidade de ser competitiva no mercado local e regional.
Eloquente, o palestrante mostrava audiovisuais com a produção do Vale do São Francisco e centrava-se na descrição do caso de uma mulher alagoana que estava muito feliz com o galinheiro dela.
Incentivada pelo Instituto Globo Aves, ela vendeu suas galinhas e conseguiu adquirir os óculos da filha e a geladeira. Outra mulher, abandonada pelo marido, criava os filhos com a renda da venda de ovos de uma dúzia de galinhas, enquanto outras vendiam suas galinhas nos mercados de Maceió.
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À direita, a gerente de vendas da BMC, engenheira química Yuki Yamamoto.
Nessa mesma feira, em maio de 2016, a 5ª edição da RRS surpreendia o mercado quando a gerente de vendas da Brazil Manganese Corporation (BMC) revelava que o teor de pureza do manganês das jazidas pesquisadas em Espigão do Oeste ultrapassava 50% e se equiparava ao da mina de Woodie Woodie na Austrália.
A Secom informaria, então, que a BMC investira R$ 12 milhões na modernização de sua planta em Espigão. Algum tempo atrás, essa empresa comprava os ativos de duas empresas familiares: Eletroligas e Rio Madeira.
E a palestra do reitor da Universidade Marítima Internacional do Panamá e diretor da Sevem Importação e Exportação, Roberto Pineda, premiaria ainda mais o repórter. Quem diria que empresários de construção desse pequeno país da América Central pretendessem adquirir areia e pedras em Rondônia?
Lá não tem, e Pineda viera à RRS sondar a possibilidade de, a fim suprir os canteiros de obras avaliadas em US$ 165 milhões, incluindo a do novo aeroporto internacional. “Se o Acre busca pedras aqui, o Panamá igualmente pode fazê-lo”, disse, atento às dificuldades do vizinho estado amazônico ocidental.
Naquela edição da RRS saberíamos que pelo Canal do Panamá passavam 1.166 navios por mês, e o país procurava parceiros comerciais. O canal movimentava 5% do comércio mundial e até então mantinha acordo comercial com o porto de Santos, no litoral paulista.
Rondônia já despertou para suas potencialidades econômicas em feiras desse porte. Para quem não sabe, a imponente RRS nascida da agricultura familiar hoje oferece ao País e ao Exterior o doce mel fabricado por abelhas em extinção; o gado bovino livre de febre aftosa; e ao mesmo tempo, pedra, o minério e o jeito especial de criar galinha boa – e de raça..
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NOTA
Em sua derradeira edição, a Rondônia Rural Show rendeu R$ 700 milhões aos cofres estaduais, reuniu 480 expositores e teve público em torno de 120 mil pessoas.
Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)