Quem assistir ao vídeo que acaba de ser exibido pela GloboNews sem saber quem são os personagens da reunião poderia imaginar tratar-se do encontro de uma organização mafiosa.
E mafiosa apenas porque os participantes usam paletó e gravata. Se estivessem em traje esporte, o desavisado poderia supor ser um desses encontros desbocados e irracionais de fim de semana, com liberdade para os participantes dizerem o que lhes vem à cabeça, sem qualquer inibição no uso da linguagem, a mais vulgar praticada nesse tipo de convescote, ativada por muita bebida alcoólica e ausência de testemunhas.
Neste meu comentário nem vou tratar do conteúdo da reunião, na qual, em síntese, tudo que dela reconstituiu o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro é confirmado. Apesar dessa evidência, é claro que não haverá uma única interpretação nem um só desdobramento - político e jurídico do que foi apresentado ao país.
O que motiva a minha manifestação é o choque de saber que dessa reunião participa todo um governo federal, com seus ministros e os dirigentes dos bancos oficiais, de um país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e população de 210 milhões de habitantes, "gigante pela própria natureza".
O pretexto para a convocação é a apresentação para conhecimento e debate de um plano com o qual o governo pretenderia reativar a economia brasileira, que já vinha patinando em índice de crescimento inferior ao do crescimento da população e ainda foi golpeada pela pandemia do coronavírus.
O plano foi preparado por um autor inusitado, o general Braga Neto, chefe da Casa Civil, que "roubou uma ideia aqui e outra ali", conforme declarou na reunião, apontando os ministros que usou para criar o tal plano, que não resistiu a uma apreciação telegráfica do ministro da economia Paulo Guedes. Ele fulminou a ingenuidade do general afirmando que o Brasil só retomará o desenvolvimento abrindo espaço para o investimento privado e não à base de recursos estatais. Usar essa diretriz, segundo ele, fez o PT de Lula e Dilma levar o Brasil ao desastre.
A partir daí, todas as frágeis intervenções em torno da agenda oficial se tornaram irrelevantes. Com palavrões, palavras duras, desrespeito aos outros, irreverência e descomposturas, o que o presidente Jair Bolsonaro fez foi enquadrar os seus ministros, exigir que participem da ação política, se tornem também alvos dos ataques feitos pessoalmente ao presidente, se submetam às ordens dele - ou peçam para sair.
Foi nesse contexto que Bolsonaro investiu contra Moro. Ele não estava se enquadrando no "modelo" bolsonarista, falhava nas ações exigidas e era o responsável pela ineficiência da parte do sistema de informações a ele subordinado, a Polícia Federal, que não prestava ao presidente as informações de que ele precisava. Como, por exemplo, a identificação dos ataques à sua família e situações que surpreendiam o presidente.
"Eu não posso ser surpreendido por notícias porque não tenho informações. A Polícia Federal não me dá informações", reclamou, não deixando dúvida de que esse era o motivo para que ele decidisse "interferir em todos os ministérios", exceto o de Paulo Guedes, com o qual o seu entendimento seria de 100% (mais uma inverdade na extensa coleção de Bolsonaro, que diz e desdiz conforme a circunstância e o seu interesse),
Talvez nem tanto quanto ele se queixou. Em um dos trechos mais graves, Bolsonaro deixa escapar, numa observação rapidíssima, que tem seu próprio sistema de informação, o que lhe permite, por comparação, concluir que os órgãos oficiais de inteligência "são um fracasso".
Meu Deus: o Brasil não merece o castigo deste governo, o pior da história republicana do País.
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Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)